Há mais de 13 anos, o Santa Fé Hunters movimenta a quebrada do Grajaú, na zona sul de São Paulo, por meio do basquete. À frente da iniciativa está Maickon Jhons Serra, 39, mais conhecido como “Tio Maick”, professor de educação física e idealizador do projeto.
Maickon nasceu em Ilhéus, na Bahia, e chegou a São Paulo ainda criança, aos dois anos de idade. Cresceu no Jardim Santa Fé, região do Grajaú, e conta que, na época da adolescência, não tinha nenhuma opção de lazer no bairro.
Maickon Johns, conhecido com ‘Tio Maick’ idealizador do projeto Santa Fé Hunters @Isabella Milena/Agência Mural
Aos 17 anos, descobriu o basquete por acaso e nunca mais parou de jogar. Motivado pelo esporte, entrou na faculdade de educação física e, em 2012, ao lado de amigos, com quem jogava, decidiu fundar o Santa Fé Hunters.
‘Meu sonho era mudar a realidade do meu bairro, criando algo diferente para os jovens, algo que eu não tive quando era jovem’
Tio Maick, professor de educação física e idealizador do projeto
O projeto começou de forma simples, com apenas três alunos reunidos na quadra da Escola Estadual Doutor Christiano A. Silva. Com o passar do tempo e o crescimento da iniciativa, a quadra passou a ser usada exclusivamente por eles.
O nome Santa Fé Hunters surgiu da paixão de Maickon e dos amigos pela NBA, principal liga profissional de basquete dos Estados Unidos e do mundo.
Jovens na aula de basquete do projeto @Isabella Milena/Agência Mural
Eles pensaram em nomes inspirados na tradição dos times norte-americanos, com o bairro onde vivem e um nome forte de luta. Santa Fé, que é o bairro, e Hunters, que é traduzido do inglês e significa caçadores.
Na rotina dos treinos, as turmas de crianças e jovens são divididas por níveis: escolinha (7 a 10 anos), iniciante (11 a 18 anos) e intermediário (13 a 18 anos). As aulas acontecem às terças, quintas e sábados, nos períodos da manhã, tarde e noite.
A jovem Isadora Maria de Jesus Souza, 15 anos, moradora do bairro Chácara do Conde, conheceu o projeto em um momento desafiador de sua vida. Enfrentava períodos de ansiedade e, ao conversar com um professor na escola onde estudava, recebeu a sugestão de praticar um esporte para aliviar as tensões.
Decidiu iniciar no basquete, encontrando no esporte uma forma de cuidado com sua saúde física e emocional. “Foi um recomeço. Descobri um potencial que nem sabia que tinha e me senti muito acolhida participando das atividades”, afirma. Atualmente, joga na posição de pivô e integra o time sub-15 do Corinthians.
Isadora Maria começou no Santa Fé Hunters e atualmente é pivô do sub-15 do Corinthians @Isabella Milena/Agência Mural
Outro exemplo é Jeferson Vieira, 22, morador do Grajaú e professor de educação física. Ele conheceu o projeto aos 12 anos, por meio de um vizinho, e logo começou a jogar profissionalmente.
Aos 17, já acumulava experiência em clubes como Hebraica São Paulo, Athletico Paulistano e Mackenzie (MG), e ao iniciar a faculdade de Educação Física, foi convidado para integrar a equipe de educadores do Santa Fé Hunters.
Ao relembrar a época em que era adolescente e treinava no projeto, ele conta que aprendeu cedo a importância de investir na educação e buscar qualificação para crescer como pessoa.
‘Sempre incentivamos os estudos. Mesmo quem não se torna atleta, cresce muito como pessoa. O esporte ensina demais’
Jefferson, educador no Santa Fé Hunters
A iniciativa também contempla quem já passou da juventude. Criado em abril de 2024, o grupo “Jovens de Espírito” reúne adultos em horários alternativos para garantir que mais pessoas, principalmente mulheres, possam praticar esportes e cuidar da saúde.
Jefferson, morador do Grajaú é educador no projeto @Isabella Milena/Agência Mural
Muito além das quadras
Atualmente, cerca de 250 pessoas participam das ações anualmente. Tio Maickon contabiliza que já impactou mais de 7 mil pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos.
“Hoje, 13 anos depois, me sinto realizado por ver o projeto se tornar uma referência para muitas comunidades”, diz Maickon.
As senhoras também praticam o esporte junto com os adolescentes @Isabella Milena/Agência Mural
Além das atividades esportivas, o projeto também oferece cursinho pré-vestibular e mantém uma biblioteca comunitária.
Para Maickon, o objetivo principal nunca foi formar atletas profissionais. O foco está no desenvolvimento pessoal e no impacto que o esporte tem em várias áreas da vida. “Queremos formar pessoas melhores para o mundo. O basquete é um dos meios para essa evolução”.
No caso de quem deseja seguir carreira como atleta, ele destaca a importância da disciplina e do foco nos treinos, além do desempenho escolar.
“A gente incentiva que eles treinem, sim, mas também que se conscientizem sobre como a dedicação aos estudos e a presença na escola são muito importantes para atingir objetivos e realizar sonhos.”

