No número 32.254 da Avenida Sapopemba, no bairro 3ª Divisão, está o CTL (Central de Tratamento de Resíduos Leste). Único aterro sanitário em atividade na cidade, o CTL marca o histórico de São Mateus como destino de parte do lixo produzido na cidade de São Paulo.
Além do CTL há três aterros desativados em São Mateus: São João, São Matheus e Sapopemba.
O Sapopemba funcionou entre 1979 e 1986 no bairro Jardim Santo André. Desde 2013 funciona no local o parque Aterro Sapopemba, sob administração da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.
O funileiro João Batista Soares de Lima, 65, frequenta o bairro desde a época em que o aterro estava em atividade. Hoje trabalha em frente ao Parque Aterro Sapopemba.
“Aqui era muito fedido, mas não tinha muita gente para reclamar. No final [das atividades do aterro], nos anos 1980, começaram a chegar os moradores e o aterro foi fechado”.
Também foi a presença da população que definiu o fechamento do aterro São Mateus. Localizado na Avenida Aricanduva, no Jardim 9 de Julho, próximo ao Parque do Carmo, o depósito funcionou entre os anos de 1984 e 1986.
O aposentado César José Portela, 77, conta que os moradores da região se uniram pelo fechamento do aterro. “Aqui na frente da minha casa era caminhão o dia inteiro. Era a única rua asfaltada, então eles vinham por aqui. Decidimos fazer uma manifestação e paramos a avenida [Aricanduva]”.
Apesar do fechamento, os problemas continuaram por mais 15 anos. Até 2003 funcionou a usina de compostagem São Matheus, ao lado do antigo depósito de resíduos.
No lugar da compostagem municipal, hoje funcionam duas cooperativas de catadores que somadas separam, selecionam e prensam cerca de 70 toneladas de materiais recicláveis por mês.
A Casa do Coletor e a Cooperleste empregam 30 e 43 pessoas, respectivamente. Hamiltom Oliveira, 60, alimenta as esteiras de triagem da Cooperleste desde que a cooperativa iniciou suas atividades na antiga compostagem.
“A solução [para o descarte de resíduos] são as cooperativas para desafogar os aterros. O certo é acabar com todo o tipo de lixão a céu aberto. Tinha uma lei para acabar com os lixões”.
Hamiltom está certo. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei federal 12.305, de 2010, define o descarte correto de resíduos domésticos, industriais, hospitalares e entre outros. A legislação coloca como meta o fechamento de lixões e estímulos à reciclagem.
Não há lixões a céu aberto na cidade de São Paulo, mas apenas 2,48% do lixo é reciclado, segundo dados do 32xSP.
Em 1992, o aterro São João, na 3ª Divisão, entrou em atividade. Para aumentar a capacidade de aterramento, o São João foi desativado, e em 2010 deu lugar ao Aterro Sanitário Central de Tratamento de Resíduos Leste.
O CLT recebe diariamente cerca de 7 mil toneladas de resíduos gerados por quase 6,5 milhões de pessoas moradores de São Paulo. O restante do lixo produzido na capital é enviado para Caieiras, na Grande São Paulo.
A auxiliar de escritório Ana Paula Turno mora há 15 anos em frente ao CTL. A técnica administrativa conta que a família de seu marido está na região desde os anos de 1960 e viu, e sentiu, os problemas da chegada e ampliação do aterro sanitário.
“Aqui tinha muita mata, era cheio de bichinhos. Tiveram de derrubar a mata para dar lugar ao aterro. Hoje a gente convive com o mau cheiro, a poeira e o trânsito dos caminhões. A gente tem que sempre falar com eles para limpar a rua e orientar os motoristas”.
Existem três tipos de depósitos de lixo e um dos pontos que os diferencia é a maneira que preparam o ambiente para receber os resíduos. Os lixões, onde não há cuidados, os aterros controlados, que possuem um cuidado moderado, e os aterros sanitários, onde o solo é impermeabilizado, gases encanados e chorume (líquido que surge da decomposição dos resíduos) é recolhido.
Para se definir que local receberá um aterro sanitário é levado em consideração o tipo de solo, existência de corpos d’água e distância da zona produtora dos resíduos, por exemplo.
A degradação ao meio ambiente é um risco. Por meio de denúncias anônimas, a Agência Mural teve acesso a vídeos onde é possível ver um líquido escuro em meio às águas do Córrego Limoeiro, próximo a entrada do Aterro CTL.
Em resposta, a EcoUrbis nega haver vazamento de chorume a corpos d’água e reforça possuir sistemas e protocolos para evitar maiores impactos ambientais.
“A EcoUrbis investe de forma contínua em seu sistema para captação e tratamento absoluto de todos os efluentes líquidos gerados, e, sob essas condições, pode afirmar, com total segurança e tranquilidade, que inexiste possibilidade de cursos d’água superficiais, águas subterrâneas ou o solo ter qualquer comprometimento decorrente de suas atividades”, argumenta a concessionária.
Professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), no Campus Zona Leste, Jaqueline Fernandez afirma que o modelo de aterro sanitário não é o melhor por postergar o problema com o lixo.
A especialista em resíduos sólidos sugere o aumento na reciclagem e compostagem dos resíduos orgânicos para diminuir a produção de lixo e assim postergar a vida útil dos aterros.
“Mesmo com todos os cuidados, os aterros sanitários causam problemas, principalmente para a população”, aponta. “Se considerarmos que os aterros sanitários nas grandes cidades ficam nas periferias, eles se tornam mais uma forma de segregação, porque as pessoas têm que conviver com o trânsito dos caminhões, o mal cheiro e os impactos ambientais.”
A presença de aterros, desativados e ativos, nas periferias marca a vida de quem espera por dias melhores, como o funileiro João.
“A gente pobre quer uma vida digna, nós não reclamamos porque somos pobres. Reclamamos porque não temos uma vida digna, que a gente pudesse viver em paz com a nossa família, tendo condições de criar os nossos filhos, de preferência sem o cheiro de lixo.”