A conjuntura sócio econômica do país pode afetar a saúde mental ou agravar problemas das pessoas mais pobres. Isso porque essa população, que compõe grande parte dos moradores das periferias, vivencia situações de desigualdades e falta de acesso à direitos básicos, como educação, segurança, e até alimentação. É o que defende o psicólogo Luiz Henrique Santana, 25 de Itaquera, zona leste de São Paulo.
“O indivíduo vive ‘como dá’ e vai deixando de lado sua autonomia e suas vontades”, diz, lembrando que um cenário de privações acaba interferindo em como a pessoa se enxerga no mundo e nas perspectivas futuras que ela constrói para a vida.
É comum a sensação de não ser contemplado por “conquistas” ou de não acessar direito, como emprego ou moradia. Segundo Santana, isso acaba gerando um processo de culpabilização ou percepção de não merecimento, a famosa Síndrome do Impostor, que pode caminhar para um processo de adoecimento psicológico.
O acesso à saúde pública é outro ponto de atenção. As Unidades Básicas de Saúde(UBSs) e os Centro de Apoio Psicossocial (CAPs) oferecem acolhimento e grupos terapêuticos, mas devido a demanda, não suportam o atendimento individual prolongado, necessário para muitas pessoas.
Onde buscar atendimento?
Na UBS do seu bairro: é possível marcar uma consulta com o médico generalista para que ele descarte outros problemas de saúde. Se necessário, ele encaminhará o paciente para um especialista em saúde mental, como psicólogo ou psiquiatra da UBS.
No CAPS da sua região: esse serviço é público, gratuito e para todos os que necessitem. É possível acessá-lo caso perceba sintomas que têm relação com quadros psíquicos.
Nas clínicas escolas: em geral, as universidades com curso de psicologia oferecem atendimento psicológico gratuito ou com baixo custo.
Evidências da relação entre vulnerabilidade e saúde mental
Um estudo publicado em 2021, em uma revista científica europeia, mostrou que que crianças em situação de pobreza têm maior propensão de desenvolver transtornos mentais na vida adulta pela exposição a fatores estressantes. A pesquisa foi feita com crianças brasileiras em idade escolar, que foram acompanhadas por sete anos pelos pesquisadores.
A pesquisa “Associação entre pobreza e transtornos mentais no brasil: revisão integrativa entre os anos 2011-2022“, levantou diversos estudos que revelaram a relação entre a baixa renda e desenvovimento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e até ideação suícida, sobretudo em pessoas do sexo feminino, afrodescendentes e indígenas.
O último Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostra que questões estruturais e sociais impactam tanto quanto as orgânicas no surgimento de doenças mentais. Ao passo que uma boa estrutura social, como acesso a serviços, justiça social, igualdade de gênero, segurança econômica, boa nutrição, rede de apoio e até espaço verde são fatores de proteção.
Esta reportagem foi produzida com apoio daReport For The World