Localizado no centro da capital paulista, a Sé é o distrito que mais emite poluentes atmosféricos na cidade de São Paulo, segundo o Mapa da Desigualdade 2018, divulgado pela Rede Nossa São Paulo no último mês de novembro.
A pesquisa se baseia na quantidade diária de poluição por material particulado emitida no ar (kg de MP), dividida pela área de cada distrito onde a emissão ocorreu (km²). O material particulado é aquele expelido pelo escapamento dos veículos.
Na Sé, a emissão diária de poluição no ar chega a 10,9 kg de MP/km². Os vizinhos da região central, como a República (9,63 kg de MP/km²), a Bela Vista (8,24 kg de MP/km²) e o Pari (7,45 kg de MP/km²), completam a lista dos mais poluentes.
Na outra ponta está Marsilac, no extremo sul, que emite apenas 0,01 kg de MP/km² de poluição diária. Uma diferença de mais de mil vezes à registrada na Sé.
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Para quem trabalha na região, a maior quantidade de poluição no ar passa despercebida, frente a uma cidade acostumada com essa situação.
“Na verdade, não percebo tanto a diferença na poluição do ar entre quando estou na Sé e na casa da minha mãe, na zona norte”, diz a auxiliar administrativa Gabriela Almeida, 23, que trabalha na região central.
“Mas percebo uma diferença entre o ar da capital com relação ao ar de Guarulhos, onde moro”.
A estudante Júlia de Souza, 22, que faz estágio na Sé e mora em Pinheiros, zona oeste, também diz não perceber a diferença.
“Não percebo a diferença entre o ar daqui e o do meu bairro. Na verdade, acabei me surpreendendo com esse dado”
Júlia de Souza, estudante
Pinheiros também é um dos distritos que mais poluem, onde a emissão diária chega aos 6,63 kg de MP/km².
“Minhas colegas de trabalho, que moram bem mais afastadas do centro, geralmente reclamam de coceira nos olhos quando estão por aqui. Talvez eu esteja acostumada”, brinca.
Ainda segundo o estudo, a Sé também é a região com menor arborização viária da cidade, com apenas 518 árvores. Para Carmem Bellini Jocas, pesquisadora do Bacharelado em Planejamento Territorial da UFABC, esse fator agrava a poluição no distrito.
“A Sé e toda a área central da cidade é bastante poluída pela falta de arborização e pela alta verticalização. Os prédios muito altos formam ilhas de poluição sobre as avenidas congestionadas”
Carmem Bellini Jocas, pesquisadora da UFABC
O relatório Introducing the Air Quality Life Index (Apresentando o Índice de Vida e Qualidade do Ar), dos pesquisadores Michael Greenstone e Claire Qing Fan, da Universidade de Chicago, afirma que a poluição do ar por material particulado pode diminuir em cerca de 1,8 ano a expectativa de vida global.
No estudo norte-americano, ela aparece como a principal ameaça à vida humana, à frente de outros problemas sociais, como o tabagismo (que reduz em 1,6 ano a expectativa de vida global) e o terrorismo (que reduz em 22 dias a expectativa de vida no planeta).
SEM SOLUÇÕES NO HORIZONTE
Segundo Carmem, o poder público não dá indícios de que irá resolver o problema no curto prazo. Para ela, o projeto de requalificação urbana da região, o Centro Novo, até demonstra preocupação em melhorar a qualidade do ar, porém, não apresenta soluções concretas e viáveis.
“Um dos eixos do Centro Novo, projeto do arquiteto Jaime Lerner [ex-prefeito de Curitiba], é tentar fazer o centro da cidade mais habitável e menos poluído, por meio da intervenção Estado em paisagismo e arborização”, acrescenta.
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“Porém, o projeto, baseado no que Lerner chama de ‘acupuntura urbana’, consiste em uma série de ações que não são bem definidas. É apenas um conjunto de ideias soltas, um golpe midiático”, finaliza.
O projeto Centro Novo foi apresentado pelo então prefeito João Doria em setembro de 2017. De acordo com o site da Prefeitura, a última reunião sobre ele aconteceu em março de 2018, antes de Bruno Covas assumir a gestão.
https://32xsp.org.br/2017/11/27/prefeito-regional-da-se-quer-revitalizar-monumentos-historicos-para-atrair-turistas/