Meu avô não vota há duas eleições. Mas a propaganda que ele acompanhava na TV todos os dias o fez simpatizar com um dos candidatos: Celso Russomano (PRB). Se ainda votasse, ele escolheria Russomano.
Na disputa pelo primeiro turno, ele acompanhou com empolgação a alta “Russomanica” (“Vai vencer, ele vence, tá na frente”) e com pesar a queda do republicano nas pesquisas publicadas nos jornais (“Caiu na pesquisa nada. Papel aceita tudo”). Nas urnas, o candidato naufragou mais uma vez com a vitória de João Doria (PSDB) e coube a ele aceitar.
Até aí tudo normal, mais um insatisfeito em uma eleição pelo fracasso de seu apoiado. O problema é que o patriarca dos Talaricos, assim como eu, não é da capital. É de Osasco, cidade da Grande São Paulo, tida como o segundo PIB do estado, com duas emissoras (SBT e RedeTV!), mas que ainda não tem propaganda eleitoral na TV aberta. Situação semelhante a todas as cidades da região metropolitana, inclusive aquelas com mais de 200 mil eleitores.
Neste momento, a cidade acompanha o segundo turno entre o vereador Rogério Lins (PTN) e o atual prefeito Jorge Lapas (PDT). Quem tem muito interesse está focado nas redes sociais, nos jornais regionais ou nas poucas emissoras de rádio e TVs online que têm transmitido a propaganda obrigatória.
Enquanto a TV apresentava a vida da Marta, do Haddad, do Doria, do Olímpio, ou até a veloz Erundina, quase sem tempo, os quase 500 mil eleitores osasquenses conviveram diariamente com os boatos, as denúncias com e sem fundamento anunciadas nos carros de som, nos jornais entregues porta a porta. E, na hora H, muitos se arriscaram na hora do voto.
Em 2012, 149 mil votos dados a Celso Giglio (PSDB) foram anulados, por causa de um problema na justiça. O tucano voltou a concorrer neste ano e mais uma vez teve grande peso na eleição — 70 mil votos, também anulados [pesa a favor dele que em 2014 ele disputou e conseguiu assumir o cargo de deputado estadual, o que complicou ainda mais a cabeça do eleitorado]. Hoje, ele recorre para validar sua candidatura, mas não mudaria o resultado da eleição.
Explicar para qualquer cidadão que sua cidade teve nove candidatos (NOVE), e quem é cada um deles foi uma tarefa mais complicada. Aí você começa a falar que tem o prefeito que quer se reeleger e mudou de partido durante o seu governo; o deputado que não pode, mas insiste; o candidato que é filho do ex-prefeito; o candidato que é apoiado por outro ex-prefeito e fazia parte do governo até este ano; aquele que tem a benção de mais um ex-prefeito; fora a Rede e o PSOL que curtem participar.
No fim, em meio a toda essa confusão, meu avô refletiu sobre as escolhas, deu seus pitacos, mas reforçou o mantra. “Acho que quem ganha é o Russomano”. Não deu. Agora é saber se é Lins ou Lapas e quando a TV dará a chance para que toda a Grande SP possa se preocupar com seus problemas, não só com os da vizinha rica.
Paulo Talarico é correspondente de Osasco