Em uma área de zona rural onde não tem sinal de telefone, a UBS Barragem, no distrito de Parelheiros, extremo sul de São Paulo, aderiu a uma ideia diferente para entrar em contato com os pacientes cadastrados na “xepa” da vacina contra a Covid-19. Foi enviado pelo WhatsApp dos moradores com Wi-Fi um link para realizar o cadastro.
A partir de junho, pessoas a partir dos 18 anos sem comorbidades puderam fazer o cadastro para receber a “xepa” — nome dado à aplicação das doses que sobram ao final do dia nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e nos postos de vacinação na cidade.
Diferente do que foi feito em outros locais de vacinação, onde as pessoas precisavam comparecer com documentos e comprovante de residência, na UBS Barragem os moradores conseguiram se cadastrar pelo link enviado anteriormente no WhatsApp. No bairro não tem sinal de telefone, o que dificulta a comunicação com a população.
A iniciativa também ajudou a evitar aglomerações na hora de fazer o cadastro presencialmente. A UBS atende cerca de 3.000 famílias, totalizando 5.690 pessoas.
“Não precisou ir na UBS ter aquela aglomeração para se inscrever para a ‘xepa’. Graças a Deus tinha como colocar no link do seu número de WhatsApp para ser comunicada. O sinal de celular aqui é horrível”, comenta Renata Pimentel, 24, que tomou a primeira dose da vacina no dia 14 de julho.
Moradora do bairro Cidade Luz, que fica há quase 2 km da UBS, ela também falou sobre as dificuldades de comunicação na região.
“Em caso de emergência, quando não tem internet por falta de luz, por exemplo, é uma grande dificuldade. A comunicação com outras pessoas de fora não tem como [ser feita]”, conta.
Ainda sobre o link de cadastro, Renata acredita que, se não fosse assim, ela não conseguiria se vacinar antes do calendário por idade, porque não seria viável ter “xepa” na região.
FALTA COMUNICAÇÃO NA BARRAGEM
Barragem (veja mais histórias da região aqui) fica a 54 km de distância do centro de São Paulo, na região não existem antenas de operadoras que possam ajudar na comunicação. Além disso, nem todos têm linhas de telefone fixo, a única operadora que chega nos bairros é a Vivo. O único jeito de se manter conectado é via Wi-Fi, mas ainda assim nem todos têm em casa.
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A voluntária comunitária Eliane dos Santos, 47, tomou a primeira dose em junho e comentou sobre o trabalho das gentes de saúde. “A UBS fez uma campanha sobre o cadastro para tomar as doses remanescentes. Muitas pessoas não sabem ler e não têm acesso a internet, então o trabalho das agentes foi fundamental”, disse Eliane.
Moradora do bairro há 20 anos, Eliane também fala sobre as dificuldades que ainda existem na região por causa da falta de comunicação.
“A falta de sinal e de internet dificulta muito a comunicação com as escolas e também nas UBSs da região. Nem todos acessam a internet por conta do poder aquisitivo. Nossa região é bem carente de muitas demandas socioeconômicas.”
Apesar do método diferente para o cadastro, vale ressaltar que a “xepa” da UBS Barragem segue a ordem de prioridade indicada pela prefeitura: lactantes sem comorbidades (até dois anos de amamentação), acima dos 18 anos; acadêmicos de saúde em estágio; estudantes de área técnica em saúde em estágio; e pessoas a partir dos 18 anos de idade.