“Eu me sinto privilegiada em ser professora da educação pública”. A frase, uníssona, é bradada em um vídeo que circula pela internet, visto por mais de 170 mil pessoas e compartilhado mais de 4.000 vezes, desde a segunda-feira (19).
Produzido por duas professoras da rede municipal de ensino, usando bom-humor, o vídeo questiona o termo “privilégio”, adotado pelo prefeito João Doria (PSDB) para se referir ao trabalho dos educadores, além de de apoiar a greve dos professores.
Desde então, atos contra o projeto de lei da gestão Doria, que aumenta a contribuição previdenciária da categoria, vem acontecendo, inclusive com o apoio de outros servidores municipais e de pais e mães de estudantes.
“Eu me sinto mais privilegiada que juiz, que político… Eu me sinto mesmo muito privilegiada. Primeiro pelo meu salário, que é um salário de alto nível”, segue, agora em monólogo, a atriz e professora de artes Patrícia Torres, 34, que dá aulas na Brasilândia, na zona norte de São Paulo. No vídeo, a educadora questiona, de forma bem-humorada, se é um privilégio um educador receber o salário inicial de R$ 2.475,85.
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“Pensamos como poderíamos falar sobre o assunto, mas de uma forma mais neutra”, afirma a também atriz, que adere à greve desde o início da paralisação. “Não é um vídeo só meu, mas também de outros professores e artistas”.
Uma delas é Juli Codognotto, 31, jornalista e educadora de artes, que ao lado da amiga. “Me atingiu muito a propaganda feita [por João Doria] contra os funcionários públicos, dizendo que nós, professores, somos, privilegiados”, diz a professora, que atua na DRE (Diretoria de Ensino Regional) do Butantã, na zona oeste, há menos de um ano, quando passou no último concurso, em 2017.
“Isso acho que é um discurso muito absurdo, que precisa ser desconstruído. A ideia foi estranhar essa palavra, adotando uma pegada bem-humorada, para chegar às pessoas com leveza”, emenda.
Patrícia afirma estar feliz com a viralização do vídeo e acredita que ele ajuda a fortalecer a classe. “A maior potência é o fortalecimento dos professores, que eles continuem a pressão e, finalmente, tire de pauta essa possível aprovação e consiga eliminá-la de vez”, espera a educadora.
GREVE
De autoria da gestão de João Doria, o projeto de lei pretende, entre outros pontos, aumentar a alíquota básica de contribuição previdenciária de 11% para 14%. A proposta foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara na última quarta-feira (14) e segue adiada na Câmara de Vereadores de São Paulo.
“Estamos em greve para defender a educação pública e os serviços públicos da cidade de São Paulo. É uma greve histórica. Neste ano, é uma luta ainda mais grave, contra um retrocesso. Estamos lutando para não perder direitos”, reforça Juli.
“Somos totalmente contra, como a maioria dos professores e servidores municipais à essa mudança. É uma luta. A gente ainda ganha ainda mal. Nosso salarial inicial é de R$ 2.400, sem FGTS, transporte”, lamenta Patrícia.
Nesta terça-feira (21), o presidente da Câmara, vereador Milton Leite (DEM), e o líder da gestão Doria no Legislativo, João Jorge (PDSB), anunciaram que não colocariam o projeto em pauta durante esta semana.
“Estamos na defensiva. É um ataque contra direitos históricos dos trabalhadores do serviço público, que é fundamental para a parte da população que não tem outra opção, que precisa do serviço público de qualidade”, defende Juli.
Novas manifestações dos servidores municipais estão previstos para acontecer em frente à prefeitura nesta quinta (22) e na avenida Paulista, na sexta (23).
“A greve é uma mobilização forte e a nossa única saída. Fazer greve é muito difícil pros professores, pras famílias. Mas temos recebido apoio delas. A greve deve ser mantida até que esse projeto absurdo”, completa a jornalista.
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http://32xsp.org.br/2018/02/20/investir-em-educacao-de-qualidade-e-a-solucao-para-diminuir-violencia-em-sp/