Na última quarta-feira (29), o prefeito Fernando Fernandes Filho (PSDB) reajustou a tarifa do transporte municipal para R$ 4,30 em Taboão da Serra, na Grande São Paulo. A tarifa estava R$ 3,80.
Segundo o decreto, publicado no Diário Oficial do município, desde o ano de 2017 não havia reajuste tarifário e foi “necessária a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do sistema”. O reajuste tarifário do transporte municipal chegou a 13,15%, e a mudança começa a valer em 1º de fevereiro.
A contabilista Leticia Marques, 37, mora no bairro Chácara Angridus, em Taboão. Tem semana que usa o circular quase todos os dias. Apesar da frequência, ela não está satisfeita com o transporte público. “Se eu tivesse que dar uma nota para os circulares do Taboão seria nota 4”, avisa.
Ela relata que os ônibus ‘demoram muito para passar’, são sucateados, sujos, as janelas são travadas, os bancos soltos e o motorista também desempenha a função de cobrador, algo que a preocupa, pois funciona ‘sem o mínimo de dignidade para os passageiros’.
“Não valem nem os R$ 3,80 que pagamos hoje, quanto mais quase igualar ao município de São Paulo, onde os veículos são modernos, adaptados, com ar, wi-fi, carregador de celular, e integração rodando em quilômetros bem maiores, com cobradores”, compara. “Esse aumento da tarifa é um deboche com o povo do Taboão”.
Vivem na cidade 244 mil moradores, mas são 20 mil km² de extensão. A capital que cobra quase a mesma tarifa (R$ 0,10 a mais) possui 74 vezes mais território.
Também usuária do transporte público do município, Luciana Almeida, 30, protestou contra o aumento. “Com esse valor, vai ter ar condicionado? Cobrador para facilitar a vida do motorista e dos passageiros? Vai ter mais linhas dos circulares? Por este preço ninguém merece ficar bastante tempo esperando por esses circulares principalmente”, questiona.
O analista de contas a receber Renato Vaccarello Araújo, 40, morador do Jardim Clementino, usa pela manhã a linha 412 [Embu das Artes – São Paulo] e no final do dia, o Circular 4. Ele relata que a maioria dos coletivos estão em situação precária.
“Nos circulares temos muitos ônibus que parecem o [brinquedo] lambada, de tanto que pula. Na geral, minha nota é 5, considerando todas as linhas”, diz.
O munícipe imaginou que, se pudesse enviar um recado ao prefeito da cidade, diria que o valor é um absurdo pela qualidade oferecida à população. “Olhe pelas pessoas que o elegeram. Ande de ônibus e me diga se vale 4,30. Não podemos deixar nossa cidade refém de uma única empresa”.
Jeferson de Souza, 29, do Parque Pirajussara, também reforçou a lotação dos ônibus na cidade e reclama da falta de auxílio de um cobrador, pois os motoristas costumam perder o ponto de parada, por exemplo. “De 0 a 10, minha nota seria 5, englobando não só a infraestrutura dos veículos, mas todo serviço prestado, que são bons”.
Além dos municipais, moradores de Taboão da Serra também dependem das linhas intermunicipais, administradas pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos). Neles, houve um reajuste em média de 5,25%. A EMTU anunciou que a região ganhará quatro novas linhas e novos veículos para a região.
NA GRANDE SP
Na capital paulista, desde janeiro deste ano, o valor da passagem é de R$ 4,40. A Agência Mural levantou que em 17 das 39 cidades da Grande SP, o preço era maior que em São Paulo, apesar do congelamento na tarifa em 2020.
Um dos exemplos é a cidade de Osasco, que cobra mais do que a capital desde 2017. Atualmente, são R$ 4,50. Em 2017, a tarifa chegou a ser R$ 0,40 mais cara do que a cobrada para os paulistanos. Enquanto isso, Caieiras e Franco da Rocha possuem as tarifas mais caras da Grande SP, em R$ 4,80.
Boa parte das cidades que congelaram a tarifa o fizeram em ano em que os prefeitos devem disputar a reeleição, nas eleições de outubro. Em Taboão, por outro lado, Fernando Fernandes já cumpre o segundo mandato consecutivo e não entrará no pleito.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Taboão da Serra não respondeu com dados sobre a quantidade de usuários impactados e se há ações de melhorias para o transporte público na região.