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‘Temos que conscientizar o ato de caminhar’, defende adepto da prática

Por: Redação

Alberto Rodrigues, idealizador do projeto Caminhada nas Quebradas (Reprodução)

Nos últimos cinco anos, desde que deu vida ao projeto “Caminhada das Quebradas”, o professor da rede estadual de ensino Alberto Rodrigues, 33, que mora em Ermelino Matarazzo, no extremo leste da capital paulista, já percorreu todos os distritos da zona leste a pé.

“A dificuldade mais gritante são as calçadas inacessíveis, até mesmo porque nunca se pensa no pedestre”, desabafa ele, que reitera dizendo que a caminhada como meio de transporte ainda é vista com certo preconceito.

“Temos que trabalhar a conscientização do ato de caminhar nas escolas e em todos os lugares, pois ainda existe a ideia de que quem não tem um carro ou moto está em um nível abaixo da sociedade”, aconselha.

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Uma das integrantes do Caminhadas na Quebrada, a dona de casa Claudice Camargo, 57, também moradora de Ermelino Matarazzo diz que “as caminhadas fazem tão bem que até os nossos pensamentos melhoram”. “Mesmo sendo daqui, descobri vários bairros da zona leste que nem imaginava conhecer”, completa.

Claudice Camargo é uma das integrantes do projeto Caminhada das Quebradas (Arquivo pessoal)

NO PASSINHO

Na capital paulista, a média de velocidade por automóvel registrada pela Companhia de Engenharia e Tráfego (CET), durante o horário de pico, é de sete a 15 km por hora. Ao todo, o paulistano leva 45 dias por ano parado em congestionamentos.

Segundo a idealizadora do Instituto Corrida Amiga, Silvia Stuchi Cruz, 33, quem usa o transporte a pé tem uma “percepção nova e genuína” do espaço público e, provavelmente, vai querer cuidar mais da cidade. Além da percepção estética e da aprendizagem cidadã, Silvia aponta ainda ganhos ambientais, físicos e de tempo para quem caminha.

“Quem caminha transforma o tempo perdido nos congestionamentos em atividade física, dorme melhor e estimula uma alimentação melhor. Usamos a energia do nosso corpo como combustível (e sem poluição)”, ressalta.

No primeiro trimestre deste ano, segundo dados do Infosiga, plataforma que mapeia acidentes de trânsito de diversas instituições públicas, como a Polícia Militar, ocorreram 201 acidentes fatais de pedestres provocados por automóveis na cidade de São Paulo.

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Cláudia Aparecida Lucas, 47, moradora do Jardim Fontalis, na zona norte, foi atropelada em 2010 por um motorista embriagado. Sem plano de saúde, após oito anos, ela continua fazendo tratamento em uma perna ferida.

“Estava andando quando um caminhão baú encostou em meu cotovelo. Ao cair no chão, o motorista passou por cima da minha perna. Depois disso, fiquei sentada na calçada com dor, esperando o Samu (Serviço Atendimento Móvel Urgência), que demorou uma hora. Hoje, tenho uma platina da canela até o joelho, e ainda não posso voltar a trabalhar”, relembra Cláudia, que está desempregada atualmente.  

A arquiteta urbanista Bibiana Araujo, 26, é adepta das caminhadas há seis anos. Ela diz que nunca gostou de dirigir e encara com perseverança aqueles que não entendem seu estilo de vida.

“Se você vai a uma festa e as pessoas te veem chegando a pé, elas te dizem: ‘eu poderia ter te dado uma carona’. Respondo sempre que não foi difícil chegar até ali, e a maioria acaba concordando que, de fato, poderia ter feito o mesmo que eu”, acrescenta.

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