“Bem vindo ao restolanche”. De terça a sábado, as noites da praça Padroeira do Brasil, no centro de Osasco, têm uma fila a céu aberto. Eles aguardam em um carrinho, o preparo do lanche típico da cidade da Grande São Paulo, que sai em velocidade.
“Na baguete ou na banha”, pergunta Sebastião Figueira, 68, sobre o tipo do pão que levará o cachorro-quente. “Completo, sem tomate”, responde a cliente. Na sequência, ele começa o preparo de mais um, enquanto uma assistente já pergunta o lanche do próximo cliente do ‘Dogão do Tião’.
Essa tem sido a rotina do vendedor há 22 anos, que encontrou no lanche uma forma de seguir na ativa. “Era caminhoneiro, fiquei desempregado e para não ficar em casa dormindo comecei a vender cachorro-quente. Com minha idade, você sabe, não arruma trampo em lugar nenhum”.
Ele não tem ideia do número que faz por noite, mas para levar os lanches a praça, o trabalho começa bem antes de chegar ao local, para preparar os condimentos. Além do tradicional purê e batata-palha, ele conta com alguns ‘extras’ como o creme de milho e o molho de azeitona.
No geral, o sanduíche é o tradicional, mas bem encorpado, característica da região da praça e da avenida Maria Campos, onde se tornou opção para quem sai mais tarde do trabalho ou vai para alguma balada.
O fato de o carrinho ter até fila, mesmo com várias opções por perto, pode ter algumas explicações. Para Tião, se trata da qualidade e do fato dele só trabalhar com produtos “filé” e de “primeira linha”. Chega a gastar de 100 kg a 150 kg de purê, por exemplo. O outro é o humor do dono do carrinho. “A gente vem em 20 pessoas só comendo cachorro-quente e dando muita risada”, afirma uma cliente.
“É meu jeito de trabalhar, toda a vida foi com lanche bombado, ou bombástico, o turbo. O meu jeito é fazer o melhor”, relembra. Na sequência usa um dos jargões com que conquista seus clientes. “É o único cachorro-quente que não engorda. Esse só engorda a partir do quinto prato, ou da quinta baguete, aí começa a estufar um pouquinho”, brinca. “Mas se comer um só engorda”.
Na verdade, como é reforçado, repetir uma vez já é uma façanha. Tião vende lanches desde que deixou a antiga profissão. Vindo do Nordeste, morou praticamente a vida inteira na cidade. Hoje está no Jaguaribe, na zona sul do município. “Amo aqui, meu berço é Osasco”. Casado, a esposa e duas filhas também ajudam no trabalho.
“Desde que eu trabalho com isso aqui, aprendi a fazer o sanduíche com um senhor de idade e ele deu as coordenadas. Procuro fazer o melhor. Esse é o segredo, fazer a coisa com amor, limpo, limpeza é a número 1”, reforça.
Na cidade, a estimativa é de que 40 mil lanches de cachorro-quente sejam feitos por dia. São 324 licenças para vendedores, que costumam empregar de duas a três pessoas. O local que mais se destaca é a rua Antônio Agu, o calçadão que concentra o comércio da região central, com preços entre R$ 3 e R$ 5. Seguido da Maria Campos, onde os lanches são mais reforçados e o preço também aumenta, saindo entre R$ 6 e R$ 8, com o cachorro-quente vendido até mesmo no prato. A maioria aceita cartões.
Tião aposta que essa é uma boa característica da cidade e volta a citar a questão da idade. “Tem que dar graças a prefeitura que liberou, porque para fora você não vai ver essa coisa de carrinho no meio de rua”, afirma. “Dá oportunidade para as pessoas que na minha idade não arrumam serviço, tem que dar glória pra eles que liberaram isso para a gente ganhar o pão.”