Era apenas mais um dia normal de trabalho na Viação Grajaú, – antiga Cidade Dutra – empresa de ônibus que atende os terminais e pontos da zona sul de São Paulo. Durante o horário de almoço, alguns cobradores e fiscais conversavam quando uma ideia descontraída surgiu: “Por que não marcamos de jogar uma ‘pelada’?”.
O dono da sugestão era Edson Lopes, 45, conhecido como ‘Negão’, um fiscal da linha de ônibus Vila Mariana/Terminal Grajaú. Ele soube que uma linha do Brás já possuía um time amador e resolveu propor um embate. A intenção era fazer uma partida festiva, sem compromisso: seriam os ‘Os Amigos do Brás’ contra ‘Os Amigos da Vila Mariana’.
O time estreante se saiu melhor e venceu por 5 a 0. A goleada animou e os colegas decidiram permanecer com os jogos nos finais de semanas seguintes. A brincadeira começou a ser levada a sério e era preciso dar um nome à equipe que estava prestes a nascer.
“Queríamos algo que simbolizasse a nossa união, a dedicação de estar ali em todos os jogos sem uma recompensa financeira, foi então que decidimos nomear de Família TG, que significa Família Terminal Grajaú”, conta Edson Negão.
A agenda é simples e marcada por meio de um grupo no WhatsApp chamado “Liga Nois de Sábado”, que conta com vários outros times da região.
“É uma rotina, quase todo fim de semana tem jogo. Quando a temporada começa, nós nos planejamos e determinamos as datas’’, afirma o diretor executivo e goleiro do clube, Wenderson Ferreira, 30.
Para encontrar os adversários, ele vai até os grupos e faz o chamado: “Dia tal, a Família TG vai estar disponível. Algum time vai querer nos enfrentar?”.
Apesar do papel de organizador, hoje Wenderson não trabalha mais na empresa. “No começo todos os membros trabalhavam na Viação Grajaú, mas, de lá para cá, muita coisa mudou. Teve gente que permaneceu, entrou e saiu da empresa e do clube. No meu caso, eu só saí da empresa mesmo”, comenta.
Amador com pinta de profissional
Com o potencial crescimento da equipe, os integrantes criaram um conselho para que assuntos comerciais fossem tratados, como uniformes, patrocínios, locação para os jogos.
Foi assim que conseguiram a locação do Campo Arena Sai, que fica localizada no Jardim Itajaí, no Grajaú, alugada no ‘precinho’ por apenas R$ 70 mensais. O local se tornou sede oficial da equipe que, em quase todos os sábados, recebe adversários. Já quando o jogo é fora, eles precisam se locomover extremo sul adentro.
Atualmente, o time possui 21 jogadores com média de idade entre 20 a 30 anos, enquanto que a comissão técnica, com seis pessoas, é formada pelos mais velhos. O time se mantém com o apoio dos próprios membros que pagam uma mensalidade de R$ 40. Também contam com o apoio de pequenos comércios locais que colaboram financeiramente, principalmente na fabricação dos uniformes.
O Sindicato dos Trabalhadores da Viação Grajaú também já colaborou algumas vezes, sendo mais nas festividades, bancando os comes e bebes das sociais dos amigos. É graças a esses incentivos, tanto dos patrocinadores, quanto dos membros, que um novo uniforme – o 3º da história do clube – está prestes a ser lançado.
Os jogadores não possuem remuneração fixa, salvo por algumas premiações especiais como troféus para os melhores jogadores das temporadas. “O propósito dos jogos é trazer um pouco de entretenimento, exercitar o corpo, distrair a mente e descarregar o estresse depois de uma semana cheia de trabalho’’, conclui Wenderson.
Rumo aos 10 anos
A Família TG já disputou campeonatos da várzea, mas por conta da agenda tem focado em amistosos e não disputa torneio há dois anos. Porém, a ideia é retomar as competições de olho nos 10 anos do grupo.
A brincadeira que começou em agosto de 2014 caminha para a comemoração da primeira década em 2024 e planeja um retorno ainda em 2023.
Uma das competições requisitadas é a Copa Veneza, conhecida como a Eurocopa da Várzea e o torneio mais charmoso de São Paulo. São 32 times participantes, enquanto que o sistema de jogos é classificatório. Já a outra competição desejada é a Copa Joga Fácil, que, além de muito futebol, também promete uma boa recompensa financeira ao time campeão.
No entanto, a Família TG terá alguns obstáculos pelo caminho. Dos 21 jogadores, três estão machucados. A disponibilidade também é um empecilho. ‘‘Nós estamos caminhando para a nossa primeira década e é um momento muito especial”, aponta Edson.
“Nosso objetivo maior é continuar com a nossa irmandade e cumplicidade, porque de uma coisa eu sei: o time é unido. Não é à toa que o nosso nome tem a palavra Família”, finaliza.