Desde abril, o cartão Top se tornou o bilhete usado para pagar a passagem de ônibus intermunicipais, trem e Metrô, substituindo o cartão Bom (Bilhete de Ônibus Metropolitano).
No entanto, usuários do novo sistema expõem falhas desde o uso do aplicativo até o recebimento ou retirada do cartão, que não é feita em terminais de ônibus ou em estações específicas, mas na loja Pernambucanas. A situação tem gerado reclamações pela Grande São Paulo e uma campanha que cobra mudanças no serviço.
A mudança começou em novembro do ano passado, quando o governo do Estado de São Paulo iniciou o processo de substituição. Inicialmente, a alteração causou preocupação por conta da perda de integração em algumas cidades. Agora, as dificuldades começam já na hora de conseguir o novo bilhete.
“Passei horas na loja esperando o sistema voltar a funcionar para emitir meu cartão. Você enfrenta uma fila grande e pelo sistema ser instável, às vezes é necessário que você retorne outro dia”, relata o estudante Matheus Lima, 17, um dos criadores da “Top Pra Quem?”, campanha que pede melhora no sistema.
Morador de Guarulhos, ele estuda em uma ETEC (Escola Técnica) na Penha, na zona leste de São Paulo. Para trocar de cartão, teve de ir até o centro de São Paulo para poder ser atendido nas Pernambucanas, loja que hoje faz os serviços de emissão do bilhete.
Ele foi até a capital porque nenhuma outra loja estava disponível no agendamento que fez online para ser atendido presencialmente.
“É tudo meio confuso, ficava no meio da loja, meio espalhado”, afirma o estudante.
“Seria muito mais acessível se fosse em terminais e estações, num lugar que estudantes e trabalhadores passem no dia a dia. Não é algo rotineiro ir até a loja Pernambucanas”
Matheus Lima, 17, estudante
O “Top Pra Quem?” reivindica que mais postos físicos de atendimento sejam criados, com opções em terminais de ônibus ou estações de trem ou Metrô. Até esta quinta-feira (21), 229 pessoas assinaram o protesto.
Quem também enfrentou uma longa jornada para conseguir o cartão foi a estudante Gabriela Hernandes, 21. Ela vive dificuldades com o novo sistema desde novembro, quando solicitou o recebimento do Top onde mora, no bairro Cumbica, em Guarulhos.
Um mês depois da solicitação, Gabriela não recebeu o bilhete pelos Correios e resolveu entrar em contato com a equipe do Top. “Eu mandava vários e-mails e eles só falavam para aguardar porque a demanda estava muito grande”.
Em março, a estudante voltou a conversar com a Autopass, empresa que faz a gestão do bilhete. A administradora solicitou os dados da estudante e depois sugeriu que ela entrasse em contato com a central de atendimento pelo telefone ou pelo Whatsapp.
“Fiz todo esse processo. No Whatsapp não funcionou e por ligação quando eu chegava no final do trâmite, a ligação caía”.
Sem sucesso com o atendimento online, Gabriela foi para uma loja Pernambucanas. No momento de impressão, outro problema: por um erro do sistema foi necessário imprimir dois cartões.
“A moça me disse que tenho que ficar com os dois, mas que o correto era apenas um, que o segundo cartão estaria errado e que por um bug do sistema se eu recarregasse pelo aplicativo a carga poderia cair nesse cartão errado.”
Hoje, a estudante tem dois cartões Top e evita fazer recargas pelo aplicativo, que lhe ofereceriam uma maior praticidade. “Só recarrego no totem porque eu tenho medo de dar um problema e a carga cair no cartão que não funciona”.
Crédito
Os estudantes também solicitam a simplificação dos processos de emissão do Top e mais postos para a retirada presencial do cartão.
“O cartão vem com essa proposta de ser menos burocrático e ter mais acessibilidade pelos meios digitais, porém não é toda a população que consegue ter educação tecnológica para realizar essas ações”, ressalta o estudante Matheus.
A estudante Maria Jhully, 18, uma das criadoras do “Top Pra Quem?”, conta que depois do lançamento da campanha, recebeu mensagens de que o aplicativo não funciona sem internet e como em algumas estações de Metrô o sinal de rede móvel fica instável, não é possível utilizar as cotas compradas no aplicativo.
Além disso, outra reclamação se refere aos códigos QR, emitidos no próprio aplicativo para desbloquear a catraca. Usuários mencionaram que esses códigos muitas vezes não funcionam nos embarques e por isso é necessário acionar algum funcionário da CPTM ou Metrô para tentar resolver o problema.
Um motorista de ônibus da EMTU que pediu para não ter o nome identificado cita que essa tem sido uma das principais reclamações, em especial dos idosos, com receio das funções de débito e crédito.
“O idoso fica preocupado em perder o cartão e utilizarem na função crédito. ‘Eu não pedi cartão de crédito’, tudo isso sai no nosso ouvido ali. Espero que com o tempo isso se resolva”, afirma.
Gabriela solicitou um novo cartão e tentou optar pela função apenas para transporte, sem débito e crédito, mas não conseguiu. “Eu era obrigada a fazer um cartão com conta para emitir na loja. Como eu já estava esperando já fazia muito tempo, aceitei.”
Procurada, a Autopass não respondeu até a publicação deste texto.