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Travas da Sul cria sede para acolher população LGBTQIA+ no Grajaú

Por: Isabela Alves

Após mais de 5 anos promovendo eventos para a população LGBTrans, a Travas da Sul terá uma sede própria para promover atividades voltadas para à cultura, saúde e bem-viver no Grajaú, no extremo-sul de São Paulo. A previsão é abrir em de fevereiro, perto do Dia da Visibilidade Trans, celebrado em 29 de janeiro.

O movimento para criar o local para acolhida começou em dezembro de 2023, quando elas viralizaram com um vídeo que bateu mais de 800 mil visualizações, chamando a atenção para que a causa fosse apoiada.

“A gente sonha que pessoas trans e travestis saiam do ranking de mais assassinadas no país, para o ranking das pessoas que mais são cuidadas e incentivadas pela sociedade brasileira. É por isso que eu me movo”, afirma Marcia Marci, 35, ativista pelos direitos humanos e idealizadora das Travas da Sul.

Karoline Gonçalves é produtora e integra a coletiva Travas da Sul desde a sua fundação @Isabela Alves/Agência Mural

A ideia com a sede é se firmar como ponto de cultura e referência para a comunidade LGBT. Além disso, será um espaço de apoio para pessoas em situação de rua, oferecendo banho, alimentação e local de descanso durante o dia.

“A sede não será apenas para fazer os nossos eventos, mas oferecer uma dignidade mínima pra galera. Não existe um espaço no Grajaú que receba a população de rua. A expectativa é que a gente consiga manter esse espaço por meio de doações. Quanto mais conquistas, mais responsabilidades a gente tem”, afirma Karoline Gonçalves, produtora da Travas.

Quando a pessoa trans está em situação de rua, ela não está usando hormônios e não tem condições de fazer a higiene pessoal. Então, muitas vezes, não é reconhecida enquanto pessoa trans por isso

Marcia Marci, ativista e idealizadora das Travas da Sul

A coletiva, como se denomina, também está lançando o Fundo Aqué, para apoiar a reforma da sede, fortalecer projetos criados por pessoas trans e travestis que são marginalizadas e combater desigualdades estruturais.

Além disso, está em articulação com os restaurantes da região para que o espaço ofereça 30 marmitas e café da tarde nos dois dias de funcionamento. Ainda não foram divulgadas as datas das ações.

Nascido no sarau

A Travas nasceu com a promoção de um sarau e depois veio a festa Destrava, ainda em 2019. No dia do evento de inauguração, algumas integrantes sofreram ataques por parte de frequentadores do calçadão do Centro Cultural Grajaú, mas aquele episódio serviu de motivação para se fazer resistência no local.

“A Travas quer que as pessoas trans ocupem o Calçadão durante o dia e com opções de lazer. Quando você vai lá hoje, você vê muitas pessoas LGBTs indo para se divertir. Tudo mudou”, diz a idealizadora.

Desde o primeiro momento, a coletiva contou com o apoio da CTA/SAE DST/AIDS – Cidade Dutra para entregar diagnósticos de ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis) durante os eventos. Já no primeiro atendimento, houve um caso positivo.

Com a pandemia de Covid-19, elas começaram a distribuir cestas básicas para famílias do território. “A pandemia foi um momento que, pra gente que trabalha e tem um pouco mais de estrutura foi difícil, imagina para as pessoas em situação de vulnerabilidade maior que a nossa?”, reflete Karoline Gonçalves, produtora da Travas.

Ali, o olhar para a saúde junto com a cultura se tornou mais intenso, com a distribuição de preservativos, lubrificantes e a criação de estratégias de redução de danos de álcool e drogas.

Em 2021, a Travas da Sul passa a ter o próprio CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) para facilitar a contratação de pessoas no projeto. Márcia também fez um curso de Gestão Cultural para aprimorar as habilidades em gestão de projetos.

Nova sede da Travas da Sul pretende continuar com ações culturais e de saúde para população LGBTrans, e receber pessoas em situação de rua @Isabela Alves/Agência Mural

Em 2024, a coletiva recebeu o Prêmio Periferia Viva, promovido pelo Ministério das Cidades. Elas também são aprovadas no edital de Fomento à Cultura da Periferia, em que ofereceram diversas formações no CAE Casarão Brasil, um centro de acolhida especial para mulheres trans e travestis que estão em situação de vulnerabilidade.

Com o fomento, foi produzida a websérie “Travas da Sul Cuida”, com 5 episódios, que traz histórias de pessoas trans com mais de 35 anos e busca diminuir os estereótipos sobre essas vidas.

Pontos chave do território terão mais atenção: a Favela da Minhoca no São José, a Favela do Sucupira, ambas localizadas no Grajaú, e a Avenida Atlântica, que abrange os distritos da Cidade Dutra e @Interlagos@.

Hoje, a cidade de São Paulo conta com seis centros de acolhida dedicados à população trans. No entanto, há vários distritos periféricos sem serviços. O que fica na zona sul está localizado em Santo Amaro, por exemplo, e está localizado a 1 hora de distância do Grajaú.

Para o futuro, a coletiva vai lançar a “Coletânias Travas da Sul”, um álbum com artistas que já se apresentaram em seus eventos, além de formações de técnicas musical e produção. Através do fomento do PROAC, também haverá formações sobre mercado da música, gestão de carreira, dentre outras.

No dia 8 de fevereiro, elas vão promover um festival em celebração ao Dia da Visibilidade Trans no calçadão do Centro Cultural Grajaú. O horário será divulgado na página do Instagram.

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