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‘Tudo o que você imaginar feito de papel’: a história de uma papeleira da zona norte de SP

Lais com um topo de bolo em formato de roda gigante e a personagem Minnie Mouse

Por: Juliana Cristina de Paula

Você sabe o que é uma “papeleira”? É o nome dado às artesãs cuja principal matéria-prima para os trabalhos manuais é o papel, e é também o ofício da jovem Lais Rodrigues Felipe, 25, moradora do Jardim Peri Alto, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo.

Atualmente, Lais é papeleira e dona do próprio negócio: a papelaria criativa @laisarteira, especializada em produtos personalizados. Ela cria diferentes tipos de artes manuais feitas essencialmente de papel, como encadernados personalizados, caixas temáticas e até bolas de natal customizadas.

A papeleira começou o negócio em maio de 2023, pouco tempo depois de sair do último trabalho como vendedora em uma loja de roupas no Brás, região central de São Paulo. Com o dinheiro da rescisão, comprou os equipamentos necessários e começou o trabalho em casa.

Topo de bolo em formato de roda gigante e a personagem Minnie Mouse @Lais Rodrigues/Divulgação

Os itens mais pedidos são os topos de bolos de aniversário, os quais são personalizados com bolas de futebol, flores e nomes dos aniversariantes, ou também mais elaborados: Lais já fez uma roda gigante com bombons, um cenário com o Super Mario saindo de um cano e até um palco com luzes piscando e a Taylor Swift saindo do centro.

Ela tenta cumprir o slogan: “Tudo o que você imaginar feito em papel”. “O cliente geralmente já me procura com o que ele quer em mente. Aí falamos sobre valores, datas e eu mando a arte para aprovação. Depois eu começo a produção, a impressão (quando tem), o recorte, montagem e embalagem”, conta Lais.

O nome “Lais Arteira” foi escolhido por causa de uma lembrança de infância: a família costumava dizer que ela fazia “muita arte”, no sentido de fazer travessuras, então ela pensou que seria engraçado relembrar o trocadilho ao batizar o negócio.

A papelaria criativa foi criada em um espaço improvisado dentro de casa, em um ambiente organizado com diversas ferramentas como máquina de corte, impressora, máquina laminadora, base de corte, pinças, estiletes, furadores, tesouras, além de uma variedade extensa de diferentes tipos e cores de papéis, utilizados para criar seus trabalhos.

Montagem de uma rosa toda feita em papel para decoração @Juliana Cristina/Agência Mural

Desde o início do trabalho, a forma de divulgação mais eficiente foi o “boca-a- boca” e os amigos que postam nas próprias redes sociais. Eles foram, inclusive, os primeiros clientes.

“Postei que estava trabalhando e comecei. Alguns eu fiz de graça e outros cobrei mais barato pra poder montar um portfólio e ir pegando prática”, comenta.

Jornada desgastante

A ideia de trabalhar com artesanato surgiu depois de deixar uma longa jornada de trabalho, que havia levado a uma série de desgastes. Por cinco anos, ela trabalhava das 5h às 16h em uma “escala 6×1” (seis dias de trabalho e um de folga na semana) e, em épocas de festas como o Natal, o trabalho ia de segunda a segunda.

Essa jornada resultou em problemas físicos e psicológicos, como bolhas no corpo causadas por ansiedade. “Sempre gostei de dar o meu melhor. Mas começou a pesar, porque eu dormia mal, não tinha tempo pro Dylan, meu filho, pra nada. Sabe quando você sente que aquilo ali não é para você? Eu tava me sentindo assim.”, relembra Lais.

Caixa surpresa com nomes, cores e ícones personalizados para “chá revelação” @Lais Rodrigues/ Divulgação

Ela ficou três meses dessa forma e com o cansaço extremo que a impediu de continuar acordando no início da madrugada, até que o antigo patrão a demitiu: “Entendi o dia que meu patrão me mandou embora. Foi até um alívio. Mas logo depois, pensei: e as contas?”.

Sem querer trabalhar mais em lojas e com a vontade de ter mais tempo com o filho, ela começou a pensar e pesquisar sobre o que poderia fazer. “Sempre gostei de artesanato. Pesquisei mercado pela redondeza, aí no Instagram apareceu um curso bem baratinho e resolvi fazer, só pra ver se era isso mesmo que eu queria”, conta.

O curso que encontrou chama-se “Vivendo de personalizados”. Oferecido por uma criadora de conteúdo, foi uma formação básica que a ensinou sobre materiais e maquinários necessários para começar a trabalhar com papelaria criativa. “No segundo dia eu já tinha comprado a minha máquina de corte e a impressora!”, conta animada.

Formato de bolo com tema “Enrolados” (animação infantil da Disney) confeccionado todo em papel @Lais Rodrigues/Divulgação

Atualmente, sua jornada de trabalho tornou-se bem mais flexível. Lais conta que faz o próprio horário e, quando precisa, consegue fazer pausas e descansar, de acordo com a demanda e os prazos combinados com os clientes. Além disso, ela consegue garantir a renda mensal com os trabalhos que produz.

O empreendimento também permitiu mais qualidade de vida e tempo com o filho de 5 anos. “Sinto que tenho ele mais pertinho de mim, consigo acompanhar os estudos e vejo mais o desenvolvimento dele. Agora consigo ter um tempo de qualidade – mais controle sobre meu tempo, horário que trabalho e o horário que passo fazendo outras coisas”, expressa.

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