Diariamente, a professora Beatriz Marques, 25, usa duas linhas de ônibus e duas linhas de metrô para chegar até o trabalho. Antes da pandemia de Covid-19, cuja quarentena começou em março do ano passado, Beatriz gastava uma hora e meia no trajeto entre a sua casa em Itaquera, na zona leste de São Paulo, até a escola em que trabalha no Alto de Pinheiros, na zona oeste.
Com a volta às aulas em janeiro, a professora retornou ao trabalho presencial. Ela diz ter notado que o período em que passa no transporte aumentou consideravelmente, saltando para duas horas.
“Antes eu sofria um pouco com a demora dos ônibus, mas agora está cada vez pior. Essa semana, já fiquei mais de 40 minutos esperando no ponto”
Beatriz Marques, professora
A causa da demora no trajeto de Beatriz pode ser mesmo fruto da redução do número de ônibus em circulação.
Segundo dados da SPTrans (São Paulo Transporte), a frota de ônibus da cidade de São Paulo operava com 12.814 veículos no início de março de 2020. Nesse período, a frota transportou 3,2 milhões de passageiros.
Com o avanço da pandemia, e após o primeiro decreto de quarentena em 22 de março, a demanda caiu significativamente. Em 25 de março, foram transportados 869 mil passageiros, uma queda de 73%. Isso motivou a prefeitura a reduzir a frota.
LEIA MAIS
Privatizado, terminal de ônibus Santana terá novo visual, mas segue lotado
Diversas linhas atravessam o Jaçanã, mas ônibus estão sempre lotados
Atualmente, quase um ano após a data, o transporte por ônibus da cidade de São Paulo ainda opera com menos ônibus. No total, 1.506 deles deixaram de circular na cidade por conta da quarentena e ainda não voltaram às ruas.
No último dia 12 de fevereiro, os coletivos da cidade transportaram 2 milhões de passageiros, enquanto o número de ônibus circulando foi de 11.308 (88,25% da frota total).
CRÍTICAS
No ano passado, a prefeitura e a SPTrans já haviam recebido críticas por manter a frota de coletivos reduzida.
Em junho, o desembargador Fernão Borba Franco, da 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), determinou que a SPTrans colocasse de 92% a 100% da frota de ônibus em circulação, atendendo a um pedido do Sindicato dos Motoristas. A prefeitura recorreu.
Já em agosto, 41% dos paulistanos disseram que o governo municipal deveria aumentar o número de coletivos nas ruas, segundo a pesquisa “Viver em São Paulo: Especial Pandemia”, da Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope.
VEJA TAMBÉM
4 em cada 10 paulistanos acham que frota de ônibus deveria aumentar na pandemia
De acordo com os entrevistados, essa seria a principal medida para garantir a segurança de usuários e trabalhadores do transporte em relação ao contágio pela Covid-19.
Em nota, a SPTrans garante que mantém a frota operando em níveis acima da demanda apresentada. “Nos bairros mais afastados do centro”, a empresa diz que a operação em dias úteis conta com 93,34% da frota de veículos em relação ao período anterior à pandemia.