No último domingo (2), o Museu do Jaçanã reabriu para a visitação do público e uma das ideias para este ano é homenagear Sylvio Bittencourt, o fundador da associação que mantém o espaço desde 1983, mostrando a trajetória na criação do museu, as histórias e as lutas do antigo morador do Jaçanã por melhorias locais. Seu Sylvio faleceu no último 24 de fevereiro.
“Queremos fazer no meio do semestre uma exposição e um documentário sobre o seu Sylvio, contar a sua história como ativista cultural, o início do museu na garagem de casa… Ele pegava o trem, via esse terreno abandonado e foi insistindo com a Procuradoria Geral do Estado para que aqui fosse construído um museu. Além disso, esteve engajado na luta para trazer o metrô para a região”, informa a atual diretora da associação, Cláudia Machado, 52.
Cláudia já trabalhava com o fundador desde maio de 2015. Ela e a atual diretoria começaram a documentar e a catalogar os itens do espaço, buscando adequação aos atuais moldes de administração museal e cultural. “Temos 300 objetos catalogados, 244 peças de artesanato. Estão em processo de catalogação 1.500 fotografias, além da biblioteca de livros, vinis, vídeos e documentos”, diz.
Em novembro de 2016, o museu recebeu do Conpresp, órgão municipal de proteção ao patrimônio, o selo de Valor Cultural reconhecendo sua importância histórica. Além dele, outros 16 pontos da cidade de São Paulo, como cantinas, empórios e padarias também foram reconhecidos. “Acredito que o museu ficou aquém da grandeza que foi a ideia por ser o primeiro museu comunitário. Nunca recebemos verba pública, apesar de atender um volume de visitantes maior e mais representativo que alguns museus municipais de São Paulo”, explica Cláudia.
De acordo com o Observatório Cidadão, tanto a prefeitura regional Jaçanã/Tremembé, como o distrito do Jaçanã possuem índice zero de salas de cinema, salas de shows, concerto e teatro, centros culturais, casas e espaços de cultura e apenas um museu, número abaixo da média da cidade de São Paulo. Em contrapartida, a prefeitura regional da Sé possui 41 museus para10 mil habitantes.
No início de janeiro a diretora foi conhecer o atual prefeito regional da região Jaçanã/ Tremembé, Alexandre Pires, para saber os planos dele na área de cultura para a região. “A gente ouviu dele nas entrelinhas que uma verba poderia ser direcionada para fazer três esculturas de bronze em uma praça do Jaçanã. Investir minimamente R$ 200 mil reais em três estátuas que não são significativas, não estão alinhadas com diálogo e acervo do Jaçanã, a menos de um metro da nossa porta! E a gente aqui contando moeda para fazer o minimamente possível”, desabafa. “Ele já falou com a população? Temos quase quatro mil visitantes aqui no museu”, questiona. Procurada, a prefeitura regional do Jaçanã/ Tremembé não entrou em contato com a reportagem.
O Museu do Jaçanã mantinha atividades culturais, como festas de rua no aniversário do Jaçanã, no Dia das Crianças, no Dia de São Cosme e Damião, e atividades museológicas. Mas, estas últimas eram feitas de forma informal e não atendiam a legislação e as normas específicas. “Ora era museu, ora era um ponto de cultura. A solução é sermos um ponto de cultura que possui um museu. É ponto de cultura que tem uma conversa com a comunidade e também é um museu de memória”, comenta a diretora.
O Museu do Jaçanã está localizado na rua Benjamin Pereira, 1021 – Jaçanã. O local funciona de terça a domingo, das 10h às 17h. Aos sábados das 14 às 17h terá apresentação do grupo musical “Seresteiros do Jaçanã”. O e-mail de contato é mmjmuseu@gmail.com
Outro lado
Após a publicação da reportagem, a prefeitura regional do Jaçanã/ Tremembé enviou uma nota ao 32xSP em que destaca o trabalho desempenhado por Sylvio Bittencourt e afirma que em momento algum mencionou valores para a instalação de estátuas na região. Confira na integra:
Em janeiro deste ano, o prefeito regional do Jaçanã/Tremembé, Alexandre Pires, recebeu em seu gabinete a sra. Claudia Machado, da Associação Museu Memória do Jaçanã. Na oportunidade, o prefeito regional ofereceu um espaço para organizar uma exposição com peças do Museu na sede da Prefeitura Regional. “Já tínhamos arrumado até um espaço para a exposição, uma vez que sempre respeitamos a história de luta do sr. Sylvio Bittencourt em prol do museu, mas a representante do museu não fez mais nenhum contato”, informou o prefeito regional.
Na reunião, Pires falou da intenção de promover uma Praça Temática “com esculturas sendo projetadas e executadas em parceria com a iniciativa privada”. E em momento algum o prefeito regional mencionou valores para esculpir um busto em homenagem a Adoniran Barbosa, ao Trem das Onze e ao Pássaro Jaçanã. “Sylvio Bittencourt foi um disseminador da cultura, o seu exemplo e determinação merecem todo respeito, ao mesmo tempo estimula as novas gerações na luta e preservação da história cultural do Jaçanã/Tremembé”, ressaltou o prefeito regional do Jaçanã/Tremembé, Alexandre Pires.
Foto: Aline Kátia Melo