Neste fim de semana (20 e 21), se realizará em São Paulo a 13ª edição da Virada Cultural. As dezenas de atrações não estão restritas ao centro da capital e se espalham por diversos pontos da cidade em uma tentativa de democratizar o evento. Porém, essa tentativa é frustrada. Sem muitas opções culturais durante todo o ano, Sapopemba, Vila Prudente, São Miguel e Parelheiros acabaram ficando fora da festa e não receberão ao menos uma atividade da Virada.
Segundo dados de 2015, do Observatório do Cidadão, a Prefeitura Regional de Parelheiros possui apenas um equipamento cultural público. Enquanto isso, Sapopemba tem dois, São Miguel tem cinco e Vila Prudente nenhum. No quesito casas de cultura e centros culturais, São Miguel apresenta três e as outras nenhum. Já em relação a salas de show e concerto, São Miguel e Vila Prudente possuem uma cada. Sapopemba e Parelheiros não têm nenhuma.
Em contrapartida, somente a Prefeitura Regional da Sé, que abrigará a maioria das atrações da Virada Cultural, tem 93 equipamentos culturais públicos, 33 casas de cultura e centros culturais, e 60 salas de shows e concertos. A região concentra ainda um grande número de museus e teatros.
“Seria interessante ter Virada Cultural aqui porque alguns lugares da Vila Prudente não têm acesso fácil a atividades culturais. Além disso, estamos longe do centro”, comenta o contador Demétrio Dimitrov, 54, morador da Vila Zelina, bairro da Vila Prudente, na zona leste.
Dimitrov é um dos organizadores da Feira do Leste Europeu, que ocorre uma vez ao mês na Vila Zelina, perto do Parque Ecológico de Vila Prudente. Segundo ele, essa é uma das poucas opções culturais oferecidas no local e depende da iniciativa dos próprios moradores. Eles também organizam uma corrida e uma festa no aniversário da Vila Zelina. “O pessoal acaba procurando o que fazer em outros lugares, já que CEU (Centro Unificado Educacional) só tem em Sapopemba e as obras do CEU daqui estão paradas”, completa Dimitrov, que afirma ter uma biblioteca na Vila Prudente também.
O engenheiro Victor Gers, 52, também vive na Vila Zelina e, assim como Dimitrov, organiza a Feira do Leste Europeu. Filho de mãe alemã, pai chinês, neto de poloneses e russos, e casado com descendente de lituanos, Gers defende que, além de ter Virada Cultural na Vila Prudente, a população deveria ser consultada para incluir atrações locais na programação. “A gente tem uma riqueza cultural muito grande. Aqui estão 14 comunidades de imigrantes do Leste Europeu e o nosso conteúdo poderia rechear a Virada. É importante São Paulo conhecer esse pedaço da Vila Prudente”, defende Gers.
Na vizinha Sapopemba, as atrações da Virada Cultural também farão falta. “A Virada é só um elemento. Aqui temos poucos equipamentos públicos de lazer e cultura. Tem o teatro do CEU, uma biblioteca com estrutura defasada e praças abandonadas”, diz o designer Hélio Teixeira, 34, morador da região. Segundo Teixeira, quem vive em Sapopemba costuma frequentar espaços culturais em cidades do ABC Paulista e no centro de São Paulo.
Em São Miguel Paulista, extremo leste da capital, as ações culturais também estão nas mãos de coletivos independentes. O agente cultural e educador Edson Lima comenta que, um dos pontos que levantou ao criar o sarau Urutu, em 2015, foi a falta de equipamentos públicos de cultura para as crianças que via na rua de casa, na Vila Jacuí. “Para a gente de São Miguel Paulista é muito ruim não estar incluído na programação da Virada”, completa o educador, que também defende a presença de artistas locais na programação do evento.
Em 2016, Parelheiros, no extremo sul, recebeu show do rapper Emicida e outras apresentações durante a Virada. “É muito triste saber que não vai ter nada neste ano porque achei muito legal o ano passado e esperava que tivesse de novo. É raro ter coisas assim por aqui”, lamenta Anderson Santos, 18, que esteve nos shows da última Virada Cultural. “É uma pena não ter porque aqui já é muito pobre de atração cultural”, completa o estudante Phillipe Ferreira, 16.
Os rapazes acreditam que Parelheiros necessita de mais espaços públicos para cultura, esporte e lazer. Para eles, apenas um CEU não dá conta de toda a demanda e poderia haver pelo menos uma Casa de Cultura.
“Parelheiros é esquecido para tudo. Se não é a gente mesmo fazendo, não rola. Se não é a gente mesmo correndo atrás, não tem”, finaliza Santos, que pretende curtir a Virada Cultural no Grajaú, lugar mais próximo de Parelheiros que está incluso na programação.
O 32xSP entrou em contato com a Secretaria Municipal da Cultura para saber o motivo pelo qual Vila Prudente, Sapopemba, São Miguel e Parelheiros não receberão atrações da Virada Cultural, como as outras 28 prefeituras regionais, mas não recebeu retorno até o fechamento da matéria.
Foto: Fora do Eixo