De segunda a sexta-feira é a mesma coisa. Por volta das 17h30, na estação Osasco, na Grande São Paulo, a plataforma está cheia de pessoas voltando do trabalho. Idosos disputam espaço com crianças para entrar em um trem e quando o veículo chega, é uma correria em busca de assentos.
É nesse meio tempo que algumas pessoas têm sofrido acidentes ao cair no vão entre o trem e a plataforma. Ao menos duas pessoas por dia caem nesses espaços que chegam a medir mais de 40 cm, como revelou em 2017 a Agência Mural. Dois anos depois, contudo, apenas três estações receberam proteções para evitar acidentes.
Na época, o então secretário estadual de Transportes Metropolitanos deu um prazo de 30 dias para solucionar o problema na Estação da Luz. Após 60 dias da promessa, a situação não havia sido resolvida.
Só houve mudanças em maio deste ano, quando a companhia instalou os primeiros borrachões de proteção na plataforma 1 da Estação da Luz, utilizada pelos passageiros da linha 7 – rubi e também na plataforma 4, usada no embarque da linha 11- coral.
Na Luz, os espaços chegavam a 23 centímetros, o dobro do recomendado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Embora não seja um dos maiores vãos, a estação foi considerada estratégica pelo volume de passageiros que circulam por ali, o que aumenta o risco de queda. Até agora, o borrachão também foi instalado em uma plataforma da Estação Brás e em uma de Osasco.
A engenheira de produção Thais Trindade, caiu no vão entre o trem e a plataforma com as duas pernas em 2017. Ela teve problemas no joelho e acabou sendo obrigada a fazer sessões de fisioterapia. Hoje, ela continua a usar o transporte ferroviário e reclama da demora da instalação.
“Demorou bastante para as proteções aparecerem, e quando apareceram, somente em três estações”, aponta. “Acho um desrespeito com os usuários que continuam sem proteção e com risco iminente de queda”, completa Thais.
BORRACHÃO NO MENOR VÃO
Em 19 de junho, a plataforma 3 da estação Osasco, na linha 9-esmeralda, recebeu os borrachões, como está sendo chamada a proteção.
Diariamente, cerca de 60 mil passageiros embarcam ali, mas a implantação da segurança começou pelo espaço menos perigoso. A plataforma em que foi colocado o borrachão tem 15 cm, enquanto do outro lado há um buraco de mais de 34 cm. A distância foi medida pela Agência Mural.
Um dos usuários da estação é o analista de dados, Felipe Alcino Luiz, 24. Ele já viu problemas sérios na estação, em especial no horário de pico. “[Os vãos] são bem perigosos, ainda mais para idosos, pessoas com dificuldade de locomoção, principalmente no horário de pico”, afirma. “Já vi quedas de criança e idosos nesses buracos. Eu sempre fico atrás da faixa amarela para tentar evitar”, relata.
Perto dali, na estação Lapa, linha 8 – diamante, não houve resolução. Com espaços de 34 cm, os passageiros que desembarcam ali continuam a enfrentar o desafio de não cair ao entrarem ou saírem dos vagões. Além da distância, há um desnível entre o chão do trem e da plataforma, como se fosse um degrau.
Quantidade de quedas entre o trem e a plataforma | ||||
Linha | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 |
11-Coral | 395 | 530 | 503 | 273 |
8-Diamante | 52 | 53 | 67 | 32 |
9-Esmeralda | 122 | 129 | 153 | 165 |
7-Rubi | 117 | 101 | 94 | 99 |
12-Safira | 126 | 142 | 155 | 146 |
10-Turquesa | 59 | 34 | 61 | 50 |
13-Jade | 0 | 0 | 0 | 17 |
Total | 871 | 989 | 1033 | 782 |
QUEDAS E TRENS DE CARGA
Segundo dados obtidos pela Agência Mural, via Lei de Acesso à Informação, no ano passado foram 782 quedas, número menor do que um ano antes quando mil usuários sofreram acidentes do tipo.
A linha com mais quedas é a 11-Coral que sai da Luz e vai até Estudantes, estação de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Foram 273 quedas no ano passado.
A assistente de marketing Fernanda Ribeiro, 26, é usuária do trecho. Ela sai diariamente da zona leste para o centro de São Paulo. Entre os receios do trajeto estão riscos de assédio e o de encarar os vãos no caminho .
“O que mais me deixa com medo é cair algo meu ali, ou eu mesma ser vitimada”, diz. “Instalar borrachão tem a ver com a nossa segurança, além da faixa amarela, pois só ela não resolve a situação, pois quando vamos embarcar, temos que ultrapassa-lá”, completa.
Segundo a CPTM, até abril do ano que vem, mais 18 plataformas devem receber o borrachão. Para as demais estações, será feito um novo cronograma e o investimento é de R$ 7,2 milhões.
‘A espessura do borrachão é específica para cada estação porque na época em que foram construídas passava trem de carga e não havia um padrão de tamanho”, afirma a empresa. A questão de os trilhos terem de ser divididos entre trens urbanos e veículos de carga sempre foi uma das justificativas da CPTM para o tamanho do vão.
“O espaço entre o trem e a plataforma nas estações da CPTM é consequência da inexistência de uma via para o transporte ferroviário de cargas, que hoje passa por dentro da cidade de São Paulo, nas mesmas vias por onde transitam os trens de passageiros. Os trens de carga são mais largos e a solução para absorver seu tráfego é a implantação do ferroanel pelo governo federal”, afirmou em 2017.
Segundo dados da companhia, em média, são 32 viagens realizadas por trens desse tipo por dia. Ao todo foram 11 mil no ano passado.
No entanto, embora tenha vãos de até 40 cm, a linha 8-diamante não tem trens de cargas circulando em seu trecho.
Segundo dados obtidos também via Lei de Acesso à Informação, esse tipo de transporte só é realizado nas linhas 7-rubi, 10-turquesa, 11-coral e 12-safira.
Colaboração: Priscila Pacheco e Paulo Talarico