“Sou candidato a vereador pela cidade de São Paulo, quer saber mais das minhas propostas? Arrasta pra cima!”. Esse tipo de mensagem foi comum durante a campanha eleitoral deste ano.
Com a pandemia de Covid-19, a aposta de alguns dos vereadores eleitos foi impulsionar mensagens nas redes sociais.
É o que mostra levantamento da Agência Mural sobre as despesas dos 55 candidatos que venceram a disputa eleitoral. Entre os parlamentares, 11 gastaram mais com anúncios em plataformas como o Facebook e o Google Ads do que com materiais impressos.
O impulsionamento é quando você paga para que as plataformas levem a mensagem para mais usuários. Só os candidatos eleitos gastaram cerca de R$ 2 milhões com esse tipo de despesa. Já o custo com papelaria, como a impressão de santinhos, foi de R$ 3,6 milhões.
Morador da Penha, na zona leste de São Paulo, Júnior Sanches, 30, trabalha com a gestão de tráfego pago comercial e eleitoral nas redes sociais.
Ele atua no gerenciamento de anúncios pagos online, ou seja, ele gerencia os investimentos dos clientes em campanhas patrocinadas no Facebook, Google e Youtube. Diz que quem trabalha com esse mercado precisa estar atento ao Manual de Legislação Eleitoral.
“Tenho uma verba mensal que o candidato ou o comércio me passa, além disso, faço os relatórios das métricas do anúncio, determino o público alvo, subo a campanha”, explica Júnior.
Por meio de impulsionamentos, candidatos apresentaram propostas, mostraram feitos em outros mandatos, usaram depoimentos de eleitores, trouxeram conteúdos sobre política e até atacaram adversários – o que é proibido pela legislação eleitoral propaganda patrocinada.
“Há muitas brechas na própria regulamentação e candidatos que atuam de maneira leviana seja por falta de conhecimento, orientação ou por vontade própria”, afirma Sanchez.
O gasto com esse tipo de ferramenta online mostrou uma mudança no comportamento dos políticos, em especial com a pandemia. Em comparação aos outros anos, nesta eleição, gastou-se mais com mídias digitais do que na produção de jingles, vinhetas e slogans.
Devido à Covid-19, despesas com eventos e comícios de lançamento de campanha ficaram de fora da agenda da maioria dos vereadores. De acordo com a prestação de contas no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) apenas Milton Leite (DEM), João Jorge (PSDB) e Juliana Cardoso (PT) fizeram eventos. Os outros 53 vereadores eleitos não registaram esse tipo de despesa.
Além do tráfego pago, 18 dos eleitos enviaram uma carta ao leitor pedindo votos. A soma do gasto é de R$ 840 mil. Dentre os concorrentes, Eduardo Tuma foi quem mais desembolsou com o recurso,um pouco mais de R$ 292 mil.
CAMPANHA VIRTUAL
Dos 55 vereadores eleitos em São Paulo, quem mais empenhou dinheiro na ferramenta foi a candidata Cris Monteiro (Novo) um pouco mais de R$ 213 mil gastos com publicidade na internet. Enquanto, para materiais impressos o valor foi de R$ 15 mil. O recurso recebido na sua campanha foi de R$ 360.185,71, ou seja, mais da metade foi aplicado só no Facebook e Google.
Em contrapartida, Elaine do Quilombo Periférico (PSOL) ocupa a posição 45°, eleita com 22.742 votos, gastou apenas uma nota de R$ 50 nas redes sociais e R$ 686,25 com materiais impressos.
ASCENSÃO DO TRÁFEGO PAGO
A transparência com esse tipo de gastos começou a ser aplicada há dois anos. Desde 2018, na campanha de deputados federais e presidente, Mark Zuckerberg lançou regras para o impulsionamento durante campanhas eleitorais.
O advento foi uma resposta às denúncias envolvendo a eleição de 2016 nos EUA, quando Donald Trump foi eleito presidente. No Brasil, o impulsionamento só passou a ser aceito nas eleições de 2018.
O anúncio que vai contra as regras é retirado da plataforma ou pode levar multa eleitoral que varia de R$ 5 mil a R$ 20 mil ou o dobro do investimento feito.
O prazo para para os candidatos eleitos prestarem contas foi até 15 de dezembro, por sua vez os não eleitos e os diretórios políticos devem fazer a entrega no período de 7 de janeiro e 8 de março de 2021.