No programa Roda Viva, da TV Cultura, na última segunda-feira (23), o candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) ao falar de sua vice, a ex-prefeita Luiza Erundina (PT), fez uma referência às periferias. “Vai lá na Cidade Tiradentes e pergunta da Luiza Erundina. Vê o que o povo vai achar”, disse o candidato na ocasião.
No mesmo programa, o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) fez algo parecido sobre outra região da cidade. Questionado se estava escondendo o vice, Ricardo Nunes (MDB), Covas dedicou a vitória no primeiro turno, em distritos da zona sul, ao vice.
A figura dos candidatos a vice-prefeito está em destaque nestas eleições municipais. Na reta final da campanha, Boulos e Covas têm enfatizado a importância deles nas periferias da capital.
Seja por lembranças da gestão da ex-prefeita Luiza Erundina (PSOL) ou pela atuação de Ricardo Nunes (MDB-SP), enquanto vereador.
O cargo tem sido mais olhado nos últimos anos. Em São Paulo, desde o Período Republicano (1899), a cidade já teve 53 prefeitos. Apenas 23 destes foram eleitos por voto direto. Em cinco casos, o vice-prefeito assumiu a cadeira nas eleições diretas. Situação que inclusive faz parte da posse do atual prefeito da cidade, Bruno Covas (PSDB).
Em Cidade Tiradentes, zona leste, na casa de Zenaide Bueno, 56, dona de casa, a fachada que antes sempre tinha bandeiras do PT hasteadas, neste período eleitoral tem bandeiras do PSOL na entrada.
Bueno encontrou no bairro o sonho da casa própria na década de 1980. Segundo ela, o trabalho da ex-prefeita [Luiza Erundina] ajudou a mudar o voto quase religioso no PT para outro partido.
A eleitora diz, que apesar de não conhecer muito bem o trabalho de Erundina especificamente na Cidade Tiradentes, a identificação com a pauta de moradia pesou em sua escolha.
“Vi o trabalho dela [Erundina] em outros bairros, com movimentos de moradia e outros trabalhos sociais. É uma ótima gestora e aprovei o seu mandato”, diz.
Zenaide também aponta que desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, tem se atentando mais aos nomes que aparecem como candidatos a vice. “Quase não votei por causa do Michel Temer, e olha no que deu. Votei porque era a Dilma, e o vice assumiu”, lembra.
Para o autônomo da área de eventos, Anderson Trajano, 35, também morador em Cidade Tiradentes, os vices nunca lhe chamaram a atenção, mas foi justamente depois do impeachment em nível federal que ele começou a prestar a atenção.
Trajano faz campanha por Bruno Covas (PSDB) desde o início do período eleitoral e afirma ter se interessado em pesquisar quem era o vice Ricardo Nunes (MDB-SP).
“Admito que não o conhecia antes, mas pelo que pude acompanhar, ele faz frente pela educação, transporte, meio ambiente, e é a favor da transparência no uso de recursos públicos”.
Anderson mantém uma pequena empresa no ramo e diz não esconder a identificação com o vereador pela sua atuação fora da política. “Vi que ele é empresário. Isso ajuda a ter um olhar mais clínico para uma classe que hoje são heróis por tentar empreender”, defende.
O VICE VEM PRIMEIRO
Bruno Covas (PSDB) encara polêmicas relacionadas ao seu vice, alvo de uma investigação do Ministério Público de São Paulo. Ricardo Nunes (MDB-SP) é suspeito de envolvimento em superfaturamento no valor dos aluguéis de creches privadas conveniadas com a Prefeitura de São Paulo.
No entanto, não é réu em nenhum processo e nega irregularidades.
Com a reta final de campanha, o tema tem sido explorado pela campanha de Boulos. Há questionamentos sobre ‘Covas ‘ter escondido Nunes’. Em resposta, o tucano diz que a extensão de sua vitória em maioria de votos na região da zona sul é por conta da atuação do vice.
Para a revisora de conteúdo Michelle Santana, 23, moradora do Grajaú, na zona sul, a retórica é verdadeira, e afirma de prontidão a importância da figura do vice no peso do seu voto.
“Se eu for levar em consideração a boa atuação do Ricardo Nunes, é bastante provável que eu vote no Bruno Covas. Agora, se eu for considerar o Covas de forma isolada, não votaria”, afirma.
“Ele [Ricardo Nunes] esteve na inauguração de um posto de saúde perto de casa. O conheci pessoalmente na igreja que frequento. Foi um contato breve, mas a voz dele aqui é forte”.