Ansioso com a volta às aulas, Arthur Fernandes, 11, sentiu dificuldade em um ano de aula remota no Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. “Foi bem difícil”, conta ele que está na sexta série do ensino fundamental..
“Ter aula online em casa não é fácil porque você não entende o que os professores falam, já no presencial é mais fácil de entender.”
A sensação foi compartilhada por outros estudantes das periferias da capital ouvidos pela Agência Mural. Por um lado, os alunos relataram saudades do ambiente escolar. Por outro, o receio com o coronavírus ainda marca crianças que tiveram de conviver mais de um ano longe da escola.
Em junho deste ano, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou o retorno às aulas presenciais nas escolas fundamentais e estaduais, com a possibilidade de 100% da capacidade. Na capital e em outras cidades da Grande São Paulo, as prefeituras decidiram manter a volta como opcional.
A retomada dividiu opiniões. A Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e outros grupos de educadores se posicionaram contra o retorno às aulas alegando falta de estrutura, especialmente a higiênica, nas escolas.
De outro lado, especialistas em educação e a Unicef (Fundo das Nações Unidas para Infância) defendiam o retorno pelo impacto na educação e na saúde mental das crianças. A questão de cuidar dos filhos que estão em casa, em meio ao desemprego e a perda da renda, também pesou para alguns pais e mães.
Mas para os alunos, qual foi a percepção? Em junho, a Agência Mural mostrou como os problemas com o ensino online em regiões onde há falhas na internet dificultavam a vida dos estudantes.
Segundo pesquisa “Viver em São Paulo: Saúde e Educação”, da Rede Nossa São Paulo, 21% dos alunos paulistanos desistiram das aulas online. A dificuldade de acesso à internet, falta de um celular ou computador e problemas de concentração, são alguns dos fatores que causaram evasão escolar.
“No presencial é melhor porque você consegue tirar as dúvidas com a professora, falar com ela”, complementa Arthur. “No online é mais difícil porque o Wi-Fi trava, acontecem imprevistos, entendeu?”, afirma.
Além disso, ele conta que, no ensino remoto, tinha cerca de uma hora por dia de aula, diferente da fase presencial, onde está boa parte do dia na escola. “No presencial eu vi meus amigos, fazia muito tempo que eu não via eles.”
A falta dos amigos também foi mencionada por Isadora Teixeira, 6, que está na primeira série. “Tô gostando mais do presencial, porque online não dá pra ver as minhas amigas, meus amigos”, afirma. “Ir no parquinho, também aula de música, educação física e história”.
Ela é irmã gêmea de Clara. As duas retornaram para a escola no começo de outubro. “Eu estava com saudade da escola. Não gostei das aulas no remoto, mas gostei das aulas nas escolas”, diz Clara.
COMO SE PROTEGER NA ESCOLA
– Janelas das salas devem estar sempre abertas para ventilar o ar;
– Se não haver janelas, ao menos as portas precisam ficar abertas;
– Não troque lanches com outras crianças;
– É preciso estar ao ar livre se for tirar a máscara para comer;
– Lavar as mãos e avisar aos educadores quando faltar sabão ou material de higiene;
– Avisar ao professor ou professora caso não se sinta bem, com dor de cabeça ou garganta.
Mas a segurança das unidades escolares nesse momento ainda causa receios. “Tô com medo de pegar corona”, diz Helena da Silva, 5, moradora de Cotia, na Grande São Paulo. Ela vive com a mãe Luana e o irmão Miguel e também relata saudade das atividades.
Em Carapicuíba, Helena da Silva Rodrigues, 5, viveu a pandemia na família. “Minha tia ficou doente com coronavírus, ficou internada”, relembra.
“Foi muito chato, ficar só em casa, não poder ir no mercado, não poder sair com a minha avó”, relata a menina que sentiu falta dos amigos e da professora da escola.
VACINAÇÃO E CAUTELA
O Ministério da Saúde anunciou que no próximo ano as crianças entre 5 e 11 anos de idade poderão ser imunizadas, caso a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprove a vacinação.
Apesar da proximidade de uma eventual campanha de vacinação para crianças, o infectologista Renato Kfouri afirma que não é preciso esperar a imunização deste público para reabrir as escolas, por conta da redução no número de casos.
“O momento é sem dúvida o mais propício. Nunca estivemos com taxas de transmissão tão baixas quanto agora. A gente tem condição de uma volta segura”, diz Kfouri, que é presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
A pediatra e professora da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Ana Escobar, concorda com o colega e alerta para a importância das escolas ensinarem aos alunos como funciona a transmissão da doença.
“[É preciso] explicar para as crianças o que é o vírus, como ele passa para as outras pessoas e o que a escola está fazendo para se proteger”.
Ela dá algumas dicas para as crianças evitarem as infecções. “Janela tem que estar aberta. Se não tem janela na sala, a porta tem que estar aberta. Na hora do recreio, quando todo mundo tira a máscara, tem que ser ao ar livre. E ninguém pode ficar trocando lanche com ninguém”.
Escobar explica que é importante que as crianças também avisem aos professores quando não estiverem se sentindo bem. “Se você não estiver bem, começar [a sentir] uma dorzinha de cabeça, dor de garganta, avisa a professora”.
Avisar aos educadores sobre a falta de sabonete para higienizar as mãos e evitar abraçar os amigos também são outras dicas importantes, segundo a pediatra.