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Voto das periferias devem decidir próximo prefeito de SP

Região passou a ter casas mais altas, aponta Badega

Por: Matheus Oliveira e Paulo Talarico

No primeiro turno da eleição municipal de 2020, Bruno Covas (PSDB) ganhou em todas as zonas eleitorais da cidade, inclusive nas periféricas. No segundo turno de 2020, Covas disputou a prefeitura com Guilherme Boulos (PSOL). O candidato do PSOL ganhou em oito zonas eleitorais e todas nos extremos leste e sul da cidade.

No domingo (6), mais uma vez essa conta estará em jogo na votação em São Paulo, com a disputa entre a direita e a esquerda pelo voto nas periferias. De lá para cá, houve uma outra votação, a de 2022, quando o presidente Lula (PT) foi o mais votado na cidade e em grande parte das periferias, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Lula apoia Boulos, mas nem todos os que votaram no atual presidente sinalizam votar automaticamente o candidato do PSOL. Bolsonaro, que teve menos votos nas quebradas em 2022, apoia o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que disputa a reeleição, mas enfrenta dificuldades com a chegada de outro oponente do mesmo campo político, Pablo Marçal (PRTB).

O voto nessas regiões sempre foi decisivo e concentra a maior parte da população – a região com mais eleitores na cidade, por exemplo, é o Piraporinha, na zona sul.

Para Renato Almeida, cientista político do CEP (Centro de Estudos Periféricos), na hora do voto para prefeito, os moradores das periferias julgam as obras entregues e os serviços criados por um partido ou por político.

O especialista aponta que os bairros mais pobres são pragmáticos, motivados pela ação e eficiência. “A população visualiza o que um determinado prefeito ou partido realizou. Seja usando as obras entregues ou os serviços criados. Por outro lado, a população precisa fazer a relação de que o prefeito ou partido fez aquela ação”, argumenta o sociólogo.

Nesse sentido, a propaganda eleitoral tem papel importante. Nos últimos meses, a TV tem sido tomada pelas propagandas. Por ter mais partidos aliados, Nunes tem mais tempo de TV e tem sido o que mais divulga ações realizadas nos bairros.

Por outro lado, a ideologia partidária, seja ela conservadora ou progressista, fica restrita a grupos específicos. Renato Almeida usa jovens periféricos que acessaram a universidade e grupos religiosos para exemplificar essa situação.

Para explicar a relação das periferias com as propostas progressistas, o pesquisador aponta como os governos municipais de Luiza Erundina e Marta Suplicy, ambas do Partido dos Trabalhadores em suas gestões, entregaram às periferias como os mutirões de moradias populares, CEU (Centro Educacional Unificado) e o Bilhete Único. Marta, inclusive, foi a única a conseguir vencer em algumas zonas eleitorais em 2016, quando João Doria (PSDB) foi eleito logo no primeiro turno.

Ao mesmo tempo, o crescimento do voto em partidos conservadores está ligado à ascensão das igrejas neopentecostais, com o olhar de progresso individual, antipetismo e reflexos econômicos diretos na vida das populações periféricas.

‘A economia também influencia essa migração para a direita, porque quando você tem um baque da crise econômica (de 2014) ela tende a levar as pessoas a buscarem a segurança. O que que te dá segurança? Essa noção de pátria e ordem moral vai restabelecer a ordem e o crescimento’

Renato Almeida, sociólogo do Centro de Estudos Periféricos

O sociólogo destaca que São Paulo reflete situações e momentos presentes no país. Logo após a democratização, a capital elegeu Luiza Erundina, seguida por Paulo Maluf, Celso Pitta, Marta Suplicy, José Serra, Gilberto Kassab, Fernando Haddad, João Dória e Bruno Covas.

“São Paulo é um pêndulo com conjunturas e momentos socioeconômicos em que a coisa tende a ser mais pra esquerda e outras mais pra direita, por isso é que a gente tem que tomar sempre muita cautela ao analisar a política municipal”, justifica Almeida. Em 2012, por exemplo, Haddad conseguiu ser eleito com ampla vantagem em boa parte da cidade, sobretudo, nas periferias.

Voto periférico em disputa

As intenções de voto para prefeito neste domingo indicam também dúvida sobre o movimento em torno de Pablo Marçal. De acordo com pesquisa eleitoral do Datafolha, com a divisão geográfica dos eleitores, Ricardo Nunes (MDB) conta com 29% das intenções de voto ante 24% de Guilherme Boulos (PSOL) e 19% de Pablo Marçal (PRTB) nos bairros de Cidade Tiradentes, Guaianases, Itaim Paulista, Jardim Helena, José Bonifácio, São Mateus, São Rafael, Sapopemba e Vila Curuçá.

Já nos bairros de Campo Grande, Campo Limpo, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Dutra, Grajaú, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Parelheiros, Pedreira e Socorro; Nunes também está com 29% das intenções de voto seguido por 23% de Boulos e 18% de Marçal.

As pesquisas foram feitas entre os dias 10 a 12 de setembro e 17 a 19 de setembro. Os levantamentos contam com Registro na Justiça Eleitoral sob as inscrições SP-07978/2024 e SP-03842/2024.

As eleições deste ano reforçaram também outro traço, que são vários candidatos, de diferentes ideologias, se colocando como com origem periféricas – mesmo quando de periferias que não são da capital.

“Vários candidatos de diferentes linhagens políticas começam a se reivindicar como sendo periféricos”, avaliou Uvanderson Silva coordenador do programa Democracia e Cidadania Ativa da Fundação Tide Setubal, durante seminário no jornal Folha de S. Paulo.

Brasilândia na zona norte de SP é um dos principais colégios eleitorais da cidade @Léu Britto/Agência Mural

Ele ressalta que houve uma mudança que passou de uma atuação que vinha da esquerda, desde os movimentos de base, para uma mudança nos anos 2000 que traz novos interesses. “Hoje tem uma outra periferia que começa a ser disputada, sobretudo com a ideia de empreendedorismo, de aumento do consumo”.

Tiaraju Pablo D’Andrea ressaltou que há diversas crises que também tem causado essas divisões, sobretudo na qualidade do serviço público, como também na precarização do mundo do trabalho. Além disso, a redemocratização não trouxe, em especial para as democracias, aquilo que prometeu em qualidade de vida.

“Tem novos atores pensando e disputando a identidade periférica. Hoje, qualquer um canta rap dos Racionais, e de todos os espectros políticos”, disse Tiaraju no evento da Folha.

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