Três hospitais municipais na zona leste de São Paulo atingiram o limite máximo de ocupação em leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) devido à crise do novo coronavírus. São eles, o Hospital Municipal de Cidade Tiradentes, o Planalto, em Itaquera, e o Inácio Proença de Gouvêa, na Mooca.
A situação é similar em outros equipamentos de saúde da região, como o Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto, em Ermelino Matarazzo, e o Tide Setúbal, em São Miguel Paulista.
Segundo boletim divulgado ontem (19) pela Secretaria Municipal de Saúde, a taxa geral de ocupação de UTI nos hospitais municipais de São Paulo é de 89%.
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O alerta nos dados fez com que moradores se organizassem para cobrar da Prefeitura a criação de Hospital Municipal de Campanha (HMCamp) na zona leste. O equipamento provisório de saúde atenderia a pacientes infectados pela covid-19 em situações de baixa ou média complexidade.
Atualmente, a cidade de São Paulo conta com quatro hospitais de campanha: o Anhembi, na zona norte, o Pacaembu, no centro (estes dois pertencentes à Prefeitura), o Complexo Esportivo do Ibirapuera e o AME Barradas, em Heliópolis — ambos na zona sul e sob responsabilidade do governo estadual. Este último foi inaugurado hoje (20).
“Quando começamos a discutir as características desta pandemia, no começo de março, uma série de medidas deveriam ter sido tomadas”, comenta Tiaraju Pablo D’Andrea, 40, pós-doutorado em filosofia e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Desde o início da crise, D’Andrea e outros moradores, docentes e ativistas têm pesquisado sobre os efeitos da covid-19 nos bairros mais afastados do centro. “Já naquele momento era absolutamente evidente que seria nas periferias e nas favelas, onde há piores condições sanitárias e de saúde, que o vírus se propagaria com facilidade”, diz.
INTERNAÇÕES NO EXTREMO LESTE
No final do mês de abril, com base nas informações disponíveis sobre óbitos e entradas em hospitais públicos, a tecnóloga mecânica e ativista ambiental Juliana Costa, 37, previu quantas internações pelo novo coronavírus ocorreriam no extremo leste de São Paulo até a segunda quinzena de maio.
Conforme calculou, ao todo, 2.820 pacientes passariam por atendimento médico e outros 940 precisariam ser internados em leitos de UTI. Nas últimas semanas, ela passou a acompanhar a evolução dos casos, mas afirma que não conseguiu fazê-lo como gostaria.
“O último relatório eficiente que a prefeitura disponibilizou foi em 17 de abril – uma vergonha, por sinal – e as testagens na população também não são eficazes”, pontua. Ainda assim, a ativista, que mora no distrito de Itaquera, afirma que é possível dizer que essa tem sido a procura por atendimentos.
“Tenho acompanhado que as internações na região são em casos terminais, o que tem diminuído o tempo na UTI, e que casos de atendimento hospitalar estão sendo acompanhados remotamente, o que é uma vantagem se a pessoa tiver condições de fazer um bom isolamento em casa”
Juliana Costa, ativista ambiental e moradora de Itaquera
No último sábado (16), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) divulgou um novo boletim epidemiológico com óbitos contabilizados por distrito até 14 de maio. Das dez regiões com mais mortes pela covid-19, três ficam na zona leste: Sapopemba (2º), com 152 casos fatais, Itaquera (7º), com 110, e Cidade Tiradentes (9º), com 102.
A região leste também é a mais populosa da capital, segundo o IBGE. São cerca de quatro milhões de moradores, representando quase 40% dos habitantes da cidade.
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Juliana avalia que a quarentena adotada na capital possibilitou retardar a curva de contágio, mas que não foi o suficiente para diminuí-la. Ela cita que alguns problemas sociais tiveram influência neste cenário. Entre eles, a demora para o pagamento do auxílio emergencial e as desinformações acerca da pandemia, que levam às pessoas a afrouxar o isolamento.
“Se tivéssemos conseguido atingir um isolamento de 70%, estaríamos agora, em maio, com a curva descendo. Mas como só alcançamos um isolamento de 50%, conseguimos apenas adiar as situações que vimos em países europeus, que tomaram medidas tardias, mas que foram eficazes”
Juliana Costa, ativista ambiental e moradora de Itaquera
O professor D’Andrea menciona que, mesmo que seja uma medida atrasada, é urgente que escolas, universidades, CEUs (Centros Educacionais Unificados), centros esportivos, estádios e terrenos vazios sejam preparados e equipados para receber os enfermos.
“O número [de infectados] tende a aumentar cada vez mais e a tendência é começarem a morrer em casa devido à impossibilidade de serem atendidos nos hospitais públicos”, diz.
ESTÁDIO DO CORINTHIANS E SESC SÃO OPÇÕES
Questionada, a Secretaria Municipal de Saúde não respondeu se está prevista pela gestão municipal a inauguração de um Hospital de Campanha na zona leste de São Paulo.
A pasta se limitou a dizer que entregou 835 novos leitos de UTI hospitalares dedicados exclusivamente ao atendimento de pacientes com complicações respiratórias decorrentes da covid-19, e que negociou a locação de leitos privados no Hospital Santa Marcelina, em Itaquera, para atender a demanda do SUS.
A previsão é chegar a 1.676 leitos até o fim do mês de maio. Desses, 507 leitos já existiam antes do início da pandemia.
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Em março, o prefeito Bruno Covas (PSDB) disse que consideraria adaptar equipamentos públicos da cidade para que recebam leitos de UTI. Alguns poderão ser instalados nas unidades dos CEUs “se houver necessidade de leitos emergenciais”.
Já no mês de abril, o secretário municipal da saúde, Edson Aparecido, mencionou que a Prefeitura tinha planos de fazer o quarto hospital de campanha na zona leste, “caso tenha uma pressão maior do sistema de saúde na região”. O estádio do Corinthians (que já foi colocado à disposição pela diretoria do clube) e o Sesc Itaquera eram opções de locais para a instalação do equipamento.
O 32xSP procurou a assessoria de imprensa da prefeitura para comentar a declaração, mas o órgão não se posicionou a respeito.
Com colaboração de Lucas Veloso.