Entre os bens de valor histórico há ferrovias e vilas inteiras localizadas em diferentes regiões da capital
Por: Ira Romão
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Publicado em 19.08.2021 | 1:01 | Alterado em 13.04.2023 | 15:53
O tombamento é uma ação administrativa do poder público para preservar e proteger contra a destruição (e descaracterização) bens materiais ou imateriais reconhecidos pelo seu valor histórico.
No município de São Paulo, o tombamento de bens pode ser feito por três órgãos de defesa do patrimônio público: o Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da cidade de São Paulo), em esfera municipal; o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) em esfera estadual; e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em esfera federal.
Esse ato administrativo só é aplicado a bens móveis e imóveis de interesse para a preservação da memória coletiva. Podem ser bens de interesse cultural ou ambiental de diferentes tipos, como fotografias, livros, obras de artes, ruas, florestas etc.
Na capital paulista há uma grande concentração de bens tombados. São prédios, monumentos, igrejas, ferrovias e até vilas inteiras. Confira abaixo uma lista com 10 bens localizados nas diferentes regiões da cidade:
O Castelinho de Pirituba, também conhecido como Castelinho dos Ingleses, está localizado no bairro de Pirituba, zona norte. Ele foi instalado em terras da Vila Inglesa da Companhia São Paulo Railway, primeira ferrovia do estado de São Paulo, que virou a estrada de ferro Santos-Jundiaí.
A residência, de alvenaria de tijolo de barro, foi construída em meados da década de 1930 para Charles Thomas Chapman, funcionário inglês da antiga ferrovia. A construção se deu a partir de projeto do engenheiro norte- americano Jonas Paul Urner.
Inspirada na arquitetura rural inglesa oitocentista e nas aspirações de William Morris e Philip Webbm, internamente o Castelinho possui estrutura de madeira nos pisos superiores e em alguns elementos constituintes da casa.
O designer Morris e o arquiteto Webbm eram avessos aos aspectos da industrialização, bem como à arquitetura de ferro e vidro, e ainda objetos produzidos por máquinas.
Atualmente a casa é cercada por prédios e não é aberta ao público. Ela foi tombada em 2014 pelo Condephaat e em 2017 pelo Conpresp.
Endereço: Rua Maestro de Arturo, 190 – Pirituba
A estação ferroviária de Perus pertencente à Linha 7 – Rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), localizada em Perus, zona noroeste da capital (bairro que faz divisa com o município de Caieiras).
O conjunto ferroviário (que incluí a estação, armazém e vila ferroviária) foi implantado em 1867 ao longo da via férrea da Companhia São Paulo Railwaym cuja estrada conectava São Paulo ao litoral.
A arquitetura reflete características adotadas pelo padrão inglês de construções ferroviárias e da introdução de novas técnicas construtivas, como a alvenaria de tijolos e o ferro fundido. O tombamento do Conjunto foi feito pelo Condephaat em 2011.
Endereço: Avenida Doutor Sílvio de Campos, Rua Sales Gomes, Rua Bernardo José de Lorena, Travessa Cambaratiba, Rua Joaquim Antônio Arruda, s/ nº – Perus
Também conhecida como Casa do Sertanista, trata-se de uma residência típica rural, representativo das moradias dos ricos fazendeiros do século 17. Está localizada no bairro Caxingui, distrito do Butantã, na zona oeste.
A casa, construída em planta retangular, possui telhado de quatro águas (plano e inclinado) e paredes em taipa de pilão e pau-a-pique, características das casas bandeiristas.
Há também duas varandas, sendo uma reentrante, que em um dos lados é limitada por uma parede e no outro por um pequeno compartilhamento. A segunda varanda fica na parte posterior da casa. No interior, uma sala dá acesso aos outros três compartilhamentos da residência.
Depois de passar pelas mãos de alguns proprietários, sob a condição de sua sede ser restaurada, em 1937 foi doada pela Companhia City à Prefeitura de São Paulo. Então foi transformada em museu com visitação gratuita.
Em 1983 foi tombada pelo Condephaat. Oito anos depois, em 1991, o Conpresp também a tombou.
Endereço: Praça Ênio Barbato I, s/n – Butantã
Situado no Jaguaré, zona oeste de São Paulo, o espaço público também conhecido como Torre do Relógio é uma estrutura com 28 metros de altura.
Inaugurado em 1943, o mirante está totalmente ligado à história do bairro do Jaguaré, do qual é símbolo. Seu ponto mais alto proporciona vista panorâmica da cidade.
Dele é possível avistar da zona oeste até Osasco, na Grande São Paulo. Incluindo, a Cidade Universitária, o Cebolão, Ceagesp, Pico do Jaraguá, Espigão da Paulista, Serra da Cantareira e a Raia Olímpica da USP (Universidade de São Paulo).
O tombamento da área do Mirante do Jaguaré, compreendendo a edificação e o espaço público, se deu em 2002 pelo Conpresp.
Endereço: Rua Salatiel de Campos, s/n – Jaguaré
É uma das escolas mais antigas da zona leste de São Paulo. Foi construída em 1907 durante a Primeira República (de 1889 a 1930), no bairro do Belenzinho. Originalmente era denominada Escolas Reunidas do Belenzinho.
Em 1911, sob a direção do professor Carlos de Escobar, a escola foi transferida do seu endereço original, a Avenida da Intendência, e passou a funcionar em um prédio projetado pelo arquiteto Hipólito Pujol, no Largo São José do Belém, onde está até hoje.
A instituição, junto com outras escolas da época, marcou a mudança na área de educação, por representar a expansão da rede pública de ensino para atender o crescimento da população em direção à áreas não centralizadas.
Também se destaca pelo projeto arquitetônico que incorporou recomendações de higiene, insolação e ventilação que vinha se firmando desde o século 19.
Enquanto as escolas da época tinham no máximo 12 salas e dois andares, Amadeu Amaral contava com dois pavimentos, sendo um com 16 salas e outro com 20, divididas em três andares. Possuía ainda pé direito alto, janelas verticais, portas grandes, escadarias e varandas.A Escola foi tombada em 2010 pelo Condephaat.
Endereço: Largo São José do Belém – Belenzinho
Construída em 1917, a Vila Maria Zélia, na zona leste, foi idealizada pelo médico Jorge Street. Ele atuava na área têxtil e, inclusive, participou da fundação do Centro Industrial do Estado de São Paulo.
Maria Zélia é uma típica vila operária para assegurar moradia, creche, escola ambulatórios médico e dentário, dentre outras coisas, aos 2,5 mil funcionários que trabalhavam em sua fábrica de tecidos.
No entanto, o acúmulo de dívidas fez Street vender o patrimônio. Em 1939, após passar por outros proprietários, o local foi adquirido pela Goodyear que demoliu parte da estrutura da vila, incorporando os terrenos à fábrica.
Em 1969, as residências foram vendidas aos moradores pelo sistema financeiro da habitação, e no ano seguinte, em 1970, a propriedade passou de vila particular para logradouro público (área reservada pelo setor público).
A história e atual situação desse patrimônio histórico de São Paulo foram debatidos em 2017, por meio do projeto Vila Maria Zélia – 100 anos, organizado pela Associação Cultural Vila Maria Zélia. Era comemoração ao centenário do local.
O projeto foi um dos ganhadores da 31ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Iphan. Além de promover eventos de comemoração, como visitas guiadas na área, rendeu um espaço expositivo permanente: o Centro de Memória.Vila Maria Zélia foi tombada em 1920 pelo Condephaat e Conpresp.
Endereço: Rua Cachoeira, s/n – Belenzinho
Localizada dentro do Parque Natural Municipal Cratera de Colônia, no extremo sul de São Paulo, em Parelheiros, a Cratera de Colônia foi descoberta acidentalmente em 1961, a partir de fotos aéreas.
O parque mantém remanescentes de floresta nativa e uma grande diversidade de espécies de fauna e flora típicas da Mata Atlântica. O espaço também abriga parte do bairro de Vargem Grande.
Cientistas estimam que a idade da cratera seja entre 5 e 36 milhões de anos. De formato circular, a Cratera de Colônia tem 3,6 quilômetros de diâmetro, cerca de 300 metros de profundidade e uma borda que se eleva até 125 metros da planície.
Apesar de não ter evidências conclusivas sobre a origem, ela é caracterizada com uma astroblema, chamada de cratera de impacto, que significa uma cicatriz produzida na crosta terrestre pela queda de um meteorito gigante ou cometa.
No Hemisfério Sul, ela é a única com preenchimento sedimentar de turfa (material de origem vegetal), com aproximadamente 400 metros de espessura.
O tombamento desse patrimônio geológico ocorreu em 2003 e foi feito pelo Condephaat.
Endereço: Região sul do município de São Paulo – Parelheiros
O complexo as margens da Represa de Guarapiranga, na zona sul, foi projetada pelos arquitetos João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, entre 1961 e 1964.
O antigo Santa Paula Iate Clube, que encerrou as atividades em meados de 1980, é considerado patrimônio pelo seu valor histórico, ambiental e urbanístico do conjunto arquitetônico.
O local é composto por um conjunto de dois prédios unidos por passagem subterrânea. Além da garagem de barcos com vão livre, há também piscina, salões de festas, saunas completas, restaurantes, salões de TV, churrasqueira e até pistas de boliche.
Santa Paula Iate Clube foi tombado pelo Condephaat em 2016 e pelo Conpresp em 2001.
Endereço: Avenida Berta Waitman, 315, e Avenida Atlântica (antiga Robert Kennedy), 4.308 e 4.900 – Interlagos
No centro de São Paulo, próximo ao Vale do Anhangabaú, o Largo da Memória é um logradouro histórico considerado símbolo e referência do processo de urbanização da capital paulista. O local era um barranco, ponto de concentração dos tropeiros que chegavam à cidade vindos de vários pontos do estado.
Criado no fim do período colonial, o largo abriga o monumento mais antigo de São Paulo, o Obelisco do Piques, projetado por Daniel Pedro Muller, em 1814. Posteriormente, foi também construído o Chafariz do Piques, extinto em 1872, no mesmo período das obras de canalização para abastecer o Jardim e o Convento da Luz.
O tombamento ocorreu em 1975 pelo Condephaat.
Endereço: Rua Xavier de Toledo e Rua Quirino de Andrade – Centro
Construída em 1867, a estação da Luz foi a primeira estação ferroviária da The São Paulo Railway, ferrovia que ligava o porto de Santos a Jundiaí para escoar o café. Após dez anos, as linhas e instalações não mais comportavam o movimento de passageiros e cargas. Por isso, foi desenvolvido um novo projeto para a estação. A obra foi feita por engenheiros ingleses, liderados pelo britânico Charles Driver.
Em 1901, a nova estação foi inaugurada. Tem uma área aproximada de 7.500 m². Foi construída em alvenaria de tijolos combinada com estruturas metálicas, no estilo neoclássico, com torres paralelas que são elementos arquitetônicos góticos. O relógio foi inspirado no Big Ben, de Londres. Desde 2006, o edifício abriga também o Museu da Língua Portuguesa.
Hoje, com cerca de 13 mil metros quadrados de área, a estação da Luz dá acesso a duas linhas da CPTM: Linha 7-Rubi e Linha 11-Coral, e ainda oferece integrações gratuitas para as Linhas 1-Azul e 4-Amarela do Metrô. Em dias úteis, passam pela Luz 250 mil passageiros, em média.
Foi tombada pelo Iphan, em 1976, e pelo Condephaat, em 1982.
Endereço: Praça da Luz, s/n – Centro
Conpresp é regulamentado pela Lei Municipal nº 10.032, de 27 de dezembro de 1985. Está vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e tem como órgão técnico de apoio o DPH (Departamento do Patrimônio Histórico).
O Condephaat é um órgão da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo criado em outubro de 1968.
Já o Iphan é vinculada ao Ministério do Turismo criado pela Lei Federal nº 378, de 13 de janeiro de 1937. A autarquia responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro.
Jornalista, fotojornalista e apresentadora de podcast. Atuou em comunicação corporativa. Já participou de diferentes projetos como repórter, fotógrafa, verificadora de notícias falsas e enganosas. Foi uma das apresentadoras do ‘Em Quarentena” e da série sobre mobilidade nas periferias. Ama ouvir histórias, dançar, karaokê e poledance. Correspondente de Perus desde 2018.
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