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Agência de Jornalismo das periferias

Léu Britto/Agência Mural

Por: Eduardo Silva | Gabriela Carvalho

Notícia

Publicado em 24.11.2022 | 8:00 | Alterado em 25.11.2022 | 10:44

Tempo de leitura: 3 min(s)

Todos os 15 distritos de São Paulo com mais de 50% dos moradores autodeclarados negros ficam em regiões periféricas da cidade, mostram dados do Mapa da Desigualdade 2022, lançado na quarta-feira (23) pela Rede Nossa São Paulo e o Instituto Cidades Sustentáveis.

Os números se baseiam em dados do último censo demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2010, considerando a proporção de habitantes pretos e pardos em relação à população total de cada distrito. A capital paulista tem 96 distritos ao todo.

No topo do ranking, está o Jardim Ângela, no extremo sul, com 60,1% da população negra. Na sequência aparecem Grajaú (56,8%) e Parelheiros (56,6%), que também ficam na região sul de São Paulo, e Lajeado (56,2%) e Cidade Tiradentes (56,1%), ambos na zona leste. A média na cidade é de 37,1%.

Em contrapartida, os distritos com maior população branca ficam nas zonas sul e oeste, próximos ao centro expandido. Seis deles têm menos de 10% da população preta ou parda, a exemplo de Moema (5,8%) e Alto de Pinheiros (8,1%).

Expulsos do centro

Para Adriano Sousa, 34, historiador do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação Histórica) Guaianás, em Guaianases, na zona leste de São Paulo, o fato da população negra morar nas periferias tem muito a ver com as condições econômicas do pós-escravidão somadas à expulsão dessa população das regiões centrais no século passado.

“Tinham quilombos, por exemplo, na região da [avenida] Nove de Julho e ali perto do riacho Saracura, onde hoje é o Itaim Bibi [zona oeste]. Também havia uma forte concentração da população negra na Bela Vista, no Bixiga e na Liberdade”, cita.

“Aos poucos, essas áreas vão se tornando não só locais de moradia da elite branca da cidade, mas também espaços de poder em São Paulo. E o que acontece é que a população negra vai sendo expulsa desses territórios”

Adriano Sousa, historiador do CPDOC

O historiador também cita que, a partir do final dos anos 1930, com a abertura de grandes avenidas pelos planos viários (que pretendiam verticalizar o centro e fazer dele um ponto de encontro das principais vias da cidade), uma parte dessa população também é despejada devido ao congelamento dos aluguéis.

Congelamento x Despejos

Com o objetivo de manter o valor dos aluguéis estáveis pelo período de dois anos (o que seria positivo para a população de baixa renda), o congelamento, na verdade, causou uma crise de moradia. A medida colocada em vigor por Getúlio Vargas, presidente da época (1930-1945), fez com que os proprietários despejassem inquilinos para poder instituir um novo valor que cobrisse os anos sem reajustes.

Além disso, o mercado imobiliário parou de investir em novas habitações devido à queda de lucro no setor, o que também diminuiu a oferta de aluguéis, principalmente as unidades de baixa renda. Consequentemente, a população mais pobre passou a povoar as áreas periféricas de São Paulo.

“Muitas pessoas foram despejadas para que o imóvel pudesse ser alugado por um novo preço, ou então elas simplesmente não voltavam mais e iam para outros territórios da cidade”, explica Sousa.

56,8% da população do Grajaú é formada por moradores negros @Léu Britto/Agência Mural

Outro fator que contribuiu para o aumento da população negra nas periferias foi a migração nordestina nos anos 1940 e 1950 para o trabalho na indústria paulistana. Devido a pouca possibilidade de acesso à moradia nas áreas centrais, os imigrantes passam a se concentrar cada vez mais em bairros localizados nos arredores rurais da cidade.

Sousa cita, como exemplo, regiões como Guaianases e Itaquera, que posteriormente se tornaram periferias e começaram a ser ocupadas de forma intensa pela população nordestina em busca de loteamentos. Esses locais, no entanto, não ofereciam o mínimo de infraestrutura e, por isso, eram vendidos de forma mais barata.

“Então há a soma da expulsão do centro, com a impossibilidade de acessar uma moradia mais cara na área central, e a vinda dos imigrantes em grandes números para comprar esses terrenos em territórios rurais”

“Essa população acaba construindo a própria moradia e tendo que, ao longo das décadas, lutar pela realização dos serviços públicos e da infraestrutura urbana mínima nos territórios”, conclui o historiador.

Outros dados do Mapa da Desigualdade 2022

Lançado anualmente desde 2012, o Mapa da Desigualdade nasceu com o objetivo de analisar os resultados de políticas públicas em São Paulo. O material traz dados sobre os 96 distritos da capital paulista e aborda indicadores em temas como saúde, habitação, trabalho, educação, direitos humanos, entre outros.

População total
Grajaú: 392.734 (maior população) | Marsilac: 8.463 (menor população)

Taxa de oferta de emprego formal para cada 10 habitantes
Barra Funda: 67,1 (melhor valor) | Cidade Tiradentes: 0,3 (pior valor)

Remuneração média mensal do emprego formal
São Domingos: R$ 7.498,6 (melhor valor) | Brasilândia: R$ 1.693,8 (pior valor)

Ocorrências de trânsito para cada 10 mil habitantes
São Rafael: 3,4 (melhor valor) | Sé: 38,2 (pior valor)

Idade média ao morrer
Jardim Paulista: 80 anos (melhor valor) | Iguatemi: 59,3 anos (pior valor)

Tempo médio para consultas na atenção básica
República: 0 dia (melhor valor) | Cidade Líder: 39 dias (pior valor)

Tempo de atendimento para vaga em creche
Jaçanã: 3 dias (melhor valor) | Mandaqui: 39 dias (pior valor)

Para conferir o material completo, clique aqui!

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Eduardo Silva

Editor-assistente da Agência Mural. Fã de cultura pop, música, gatos e filmes de terror. Correspondente de São Miguel Paulista desde 2017.

Gabriela Carvalho

Jornalista, comunicadora visual, mestra em Mídia e Tecnologia e pós-graduada em Processos Didático-Pedagógico para EaD. É correspondente do Jardim Marília desde 2019. Também é cantora de chuveiro, adora audiovisual e é louca por viagens.

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