Em meio ao risco de contágio pelo coronavírus, ônibus lotados são preocupações para moradores que precisam se deslocar pela cidade para chegar ao trabalho
Por: Redação
Publicado em 06.08.2020 | 16:50 | Alterado em 06.08.2020 | 16:50
O técnico de imobilização ortopédica Damião Machado, 56, não parou de trabalhar e de usar o transporte público desde o início da pandemia do coronavírus no Brasil. Mesmo tomando as medidas de proteção indicadas, como o uso de máscaras e de álcool em gel, a lotação nas linhas de ônibus o preocupa.
“Eu pego ônibus lotado na volta do trabalho e tenho medo de me contaminar”, conta Machado, que mora no Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo, e trabalha na região da Cachoeirinha, na zona norte.
Para ele, a quantidade de ônibus está sendo insuficiente para atender a demanda de passageiros. No bairro onde mora, os coletivos também têm demorado mais para passar. “Nesta semana eu tive que pegar um Uber até a estação da CPTM porque o ônibus atrasou uma hora”, relata.
Assim como o técnico, 41% dos paulistanos consideram que a Prefeitura de São Paulo deveria aumentar a frota de ônibus em circulação na cidade como principal medida para garantir a segurança de passageiros, motoristas e cobradores em relação ao contágio pela covid-19.
A informação consta na terceira e última parte da pesquisa “Viver em São Paulo: Especial Pandemia”, divulgada nesta quinta-feira (6) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope. O levantamento entrevistou 800 paulistanos com mais de 16 anos, das classes A, B e C, entre os dias 20 e 28 de julho.
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No início da quarentena, a partir da segunda quinzena de março, a cidade de São Paulo registrou uma redução de 75% no número de usuários do transporte público municipal (uma média de 6,75 milhões de passageiros a menos por dia).
Com isso, foram retirados cerca de 7 mil ônibus (dos 13 mil existentes) de circulação. Já a partir de julho, quando o governo estadual autorizou a retomada de algumas atividades na cidade, a demanda de passageiros nos ônibus voltou a aumentar gradativamente.
Segundo a gestão Bruno Covas (PSDB), a média atual de uso do sistema de ônibus na cidade é 49%.
5 HORAS DE EXPOSIÇÃO
Moradora da Vila Gilda, na zona sul de São Paulo, a jornalista Aline Teixeira, 22, estava fazendo home office durante a quarentena. Mas, desde o dia 20 de julho, voltou a utilizar ônibus, trem e metrô duas vezes por semana para chegar ao trabalho, na região central.
“Eu não tenho carro, então preciso pegar o transporte público. A princípio, foi um pouco estranho, afinal eu estava há quatro meses em casa. Dentro deles, a chance de distanciamento é zero. Isso é o que me deixava (e ainda deixa) mais preocupada”, diz.
“Para não ir em pé e ter que ficar segurando nos bastões do ônibus, eu prefiro embarcar sempre no ponto final para ir sentada. Além disso, no trem, evito ao máximo me encostar ou me segurar”, comenta a jornalista, que fica aproximadamente 5 horas dentro do transporte público, considerando ida e volta.
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No mês de junho, a Prefeitura de São Paulo orientou que os ônibus municipais circulassem somente com pessoas sentadas, a fim de evitar aglomerações. A recomendação gerou uma maior demora para o embarque de passageiros na época, além de coletivos que contrariavam a medida e viajavam lotados.
Em 16 de julho, uma determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) exigiu que fosse colocada 100% da frota em circulação (ou no mínimo 92,1%, como era no início de junho). A Prefeitura pretende recorrer da decisão.
Até a segunda-feira (3), a frota de ônibus nas ruas da capital paulista estava em 85,85%, totalizando 11.001 veículos, de acordo com a SPTrans. Já no subsistema local, operado pelas ex-cooperativas nos bairros mais afastados do centro, 92,5% da frota está nas ruas. A informação foi obtida pelo site Diário do Transporte.
“Acredito que se tivesse um aumento de frota, não só das linhas que atendem ao centro, mas também nas linhas que atendem aos bairros mais afastados da região central, eu passaria menos tempo esperando meu ônibus para ir pra casa”
Aline Teixeira, jornalista, moradora da Vila Gilda
“Se tivessem mais ônibus circulando na rua, isso diminuiria a lotação e, por consequência, diminuiria o índice de contágio”, complementa Aline.
Ainda de acordo com a pesquisa “Viver em São Paulo: Especial Pandemia – Parte 3”, 41% dos entrevistados afirmaram que “higienizar o transporte público com maior frequência” é outra medida necessária para a segurança nos coletivos.
“Permitir somente o acesso de pessoas usando máscara no transporte público” também foi citada por 31% dos paulistanos consultados pelo levantamento.
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