APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias
32xSP

6 em cada 10 moradores, se pudessem, deixariam a cidade de SP

Estudo mostra que, desde 2015, mais da metade da população paulistana daria adeus à capital. Trabalho, opções de lazer e família são alguns dos impeditivos

Image

Por: Redação

Publicado em 22.03.2019 | 23:17 | Alterado em 22.03.2019 | 23:17

Tempo de leitura: 3 min(s)
Image

O professor Waldir Salvadore representa os seis em cada dez paulistanos que saíram de SP, caso pudessem (Matheus de Souza/32xSP)

Waldir Salvadore, 58, se divide entre seu sítio em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, e a casa onde vive na Aclimação, zona sul da capital paulista. O professor de história, porém, não nega a preferência de endereço.

“Quando vou pra lá, me sinto bem. Fico triste quando volto pra São Paulo. Se eu pudesse, sairia daqui”, declara.

A decisão de Salvadore não é solitária. Se pudessem, seis em cada dez dez moradores deixariam a capital paulista, segundo revela estudo o “Viver em SP: Qualidade de Vida”, realizado pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, publicado em janeiro deste ano. Trabalho, opções de lazer e família são alguns dos impeditivos.

“Estimulo meus amigos a morarem no centro para que a região receba vida. Mas hoje busco calmaria onde eu possa fazer nada e estar em paz. Não saio por amor à cidade”, confessa o historiador, que trocou a região central para viver próximo ao parque da Aclimação.

LEIA MAIS
SP das desigualdades: as muitas cidades dentro de uma só

De acordo com o estudo, Salvadore é a cara do grupo líder em intenção de se mudar de SP: homens brancos com renda de cinco salários mínimos por mês, ensino superior completo e residentes da zona sul.

Nos últimos dez anos, a taxa de paulistanos que deixaria a cidade variou, segundo levantamento da Rede Nossa São Paulo.

Em 2009, na primeira edição do levantamento, 57% da população gostaria de partir de SP. Seis anos mais tarde, esse índice aumentou 11%. Há dois anos, ele continua superando os 60%.

Para o pesquisador Anderson Kazuo Nakano, do Instituto das Cidades da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o desejo da população em sair de cidades grandes como São Paulo demonstra certa ambiguidade.

“As pessoas falam, mas não saem porque se os 63% da pesquisa, por exemplo, saíssem, a cidade iria desertificar”, explica.

Segundo o urbanista, apesar da vontade de migrar pra outros lugares, paulistanos como Salvadore, por exemplo, conseguem aproveitar a vida cultural da cidade.

“Esse grupo tem bom emprego, consome, encontra os amigos. Está inserido nas oportunidades e sofre menos com os problemas urbanos e sociais”.

De acordo com a pesquisa “Viver em São Paulo: Cultura”, de 2018, a maior frequência nas atividades culturais é determinada, sobretudo, pelos preços e pela proximidade do local de moradia.

Para 24% dos moradores da zona leste, a proximidade é um dos principais fatores para frequentar atividades culturais. A região lidera o ranking na cidade.

JORNADA DUPLA

Image

Há 33 anos em São Paulo, Cleber da Silva não voltou para o Ceará por causa do trabalho (Matheus de Souza/32xSP)

De volta ao Parque da Aclimação, outro morador também vive uma relação conflituosa com a maior cidade brasileira.

“Eu deixaria a cidade sim. Eu tô cansado. Desde que eu cheguei aqui, eu sempre trabalhei. Tenho visto que não está tendo prosperidade. O que a gente ganha fica aqui mesmo”, afirma o porteiro Cleber Miranda da Silva, 53.

33 anos, ele deixou para trás a cidade de Caponga, no Ceará, a 70 km de Fortaleza. Na capital paulista, além de porteiro, a renda ganha reforço com o trabalho como passeador de cães.

VEJA TAMBÉM
Nas periferias de São Paulo, ruas não têm pavimentação há 50 anos

Para ele, a falta de condição financeira é o principal impeditivo voltar à terra natal. “Pela minha vontade, eu iria embora, mas não vou porque tenho meu filho e minha esposa. Estou em sacrifício por eles”, lamenta o cearense.

O dia a dia do porteiro evidencia esse cenário. A dupla jornada prova que as vantagens de viver em São Paulo estão ligadas às necessidades econômicas.

Para o urbanista Anderson Kazuo Nakano, “diferentemente das cidades menores, São Paulo tem uma rede de oportunidades que é desigual, injusta, mas existe”.

“Depois de 2015, o país começou a entrar em recessão. Esses ciclos da economia e renda da população influenciam a vontade de sair das pessoas. É uma correlação forte”, explica Nakano.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Redação

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias tem como missão minimizar as lacunas de informação e contribuir para a desconstrução de estereótipos sobre as periferias da Grande São Paulo.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE