Além de conhecer os problemas da cidade, ter visão de futuro foram as qualidades mais citadas para vereadores e prefeitos; moradores das periferias apontam o que consideram fundamental
Léu Britto/Agência Mural
Por: Lucas Veloso
Notícia
Publicado em 30.01.2020 | 15:03 | Alterado em 01.02.2020 | 14:24
Morador do Jardim Paulistano, na zona sul, o ator André Vidal, 27, acha que o prefeito de São Paulo, e os vereadores, devem ter comprometimento com a população da cidade.
A avaliação dele é parecida com boa parte dos paulistanos, que apontam que conhecer os problemas locais é mais importante do que outros aspectos como ideologia.
É o que mostra pesquisa realizada pelo Ibope publicada nas últimas semanas e que avalia o perfil que os paulistanos buscam em candidatos que disputarão as eleições municipais em outubro de 2020.
O instituto saiu às ruas com duas perguntas: “Na sua opinião, quais destas características uma (a) prefeito (a) deve ter?” e “Na sua opinião, quais destas características um (a) vereador (a) deve ter?”.
Conhecer bem os problemas da cidade (63%) e ter visão de futuro (55%) são as principais características que um prefeito deve ter, segundo os moradores ouvidos no levantamento. Por outro lado, aspectos que tiveram grande peso nas eleições de 2016 e 2018, como ‘ser novo na política’ foram as menos citadas pela população. Apenas 7% disseram ser importante ser de um partido com o qual a pessoa se identifica.
Ao falar dos problemas locais, Vidal cita que o transporte público e os hospitais deveriam ser prioridades nas gestões municipais, pois são os serviços mais deficitários. “Percebo que as pessoas mais pobres da cidade enfrentam grandes dificuldades nos atendimentos dos serviços”, afirma.
Para a bancária Yara Xavier Santana, 25, moradora de Guaianases, zona leste da capital, o prefeito e os vereadores precisam estar dispostos a fazer o melhor à sociedade, sobretudo na periferia, onde vive a maioria das pessoas da cidade. “Desenvolver projetos em prol dos moradores, melhorar escolas e postos de saúde são algumas coisas que eles poderiam se envolver mais”, cita.
A pesquisa, realizada a pedido da Rede Nossa São Paulo, ouviu 800 pessoas em toda cidade. O estudo faz parte da série “Viver em São Paulo” deste ano. O levantamento mostra diversos fatores sobre a percepção da qualidade de vida dos paulistanos, tanto baseado em características pessoais, como infraestrutura, e a confiança nas instituições.
No caso dos vereadores, conhecer bem os problemas da cidade (49%) e ter visão de futuro (43%) também foram as qualidades mais citadas entre os paulistanos. Enquanto isso, ‘ser novo na política’ e ter uma religião foram os aspectos menos relevantes.
Para o cientista político e professor titular da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Marco Aurélio Nogueira, a pesquisa mostra que os paulistanos votam em quem lhes oferecem melhores perspectivas.
“Em eleições municipais funciona menos o critério ideológico ou partidário, ainda que ele não seja desprezível”, diz. Máquinas eleitorais partidárias podem influenciar o voto, alcançar os eleitores mais desatentos ou mais engajados, mas o que decide mesmo é a oferta em termos de melhoria urbana”, completa o especialista.
Ele afirma que o critério dominante é sempre o de obter algo para que a vida flua com mais qualidade ou com mais vantagens.
PAULISTANO NA POLÍTICA
Ainda de acordo com o levantamento, 57% da população não participa da vida política da cidade. A participação é mais frequente entre aqueles com maior escolaridade, de maior renda familiar e das classes A e B.
Marco Aurélio comenta que o paulistano sabe o que faz o prefeito e sabe o que pode esperar dele. Além disso, quer que ele seja um gestor da cidade e não aprecia alguém que faz da prefeitura um trampolim para buscar outros cargos.
“Creio que a média da população conhece as funções do prefeito, seus limites e suas possibilidades. Já não se passa o mesmo com os vereadores, uma figura ainda mal assimilada pelos cidadãos”, observa.
Para ele, o clima de descrença na política, que cresceu muito nos últimos anos, ajuda a que o legislativo municipal seja mais mal visto e menos tolerado do que o executivo. “A própria Câmara da cidade não faz muito esforço para melhorar sua imagem na população”, aponta.
Neste sentido, a pesquisa mostrou que 91% dos paulistanos seguem não participam de atividades na Câmara Municipal.
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