Por: Tatiane Araújo
Notícia
Publicado em 27.08.2021 | 20:45 | Alterado em 22.11.2021 | 16:32
Há cinco anos, o designer gráfico Fábio Oliveira, 35, se assustou quando houve um incêndio a cerca de 100 metros da casa dele. A cena não era inédita. Ele lembra desde o começo dos anos 2000, momentos em que o fogo foi visto pelo Jardim Califórnia, em Barueri, na Grande São Paulo, mas sem causar danos a moradores.
Nesta quinta-feira (26), contudo, a história se repetiu, com proporções maiores.
Quatro pessoas morreram e ao menos outras sete ficaram feridas – uma delas em estado grave. O acidente ocorreu em um imóvel de uma indústria química, que atua com reciclagem de plástico, e avançou para a fábrica de outra empresa no mesmo quarteirão.
O Jardim Califórnia é conhecido em Barueri por ser uma área industrial com muitos galpões, mas há também casas ao redor. A situação levou a questionamentos sobre a fiscalização na região.
Da rua Atenas, onde está localizada a residência da família de Fábio, ele conseguiu ver as chamas e a fumaça preta com tons avermelhados, por conta da substância tóxica.
“Estava em casa, fazendo home office, e não notei o acidente no momento em que começou, pois estava em uma reunião, quando minha mãe me gritou. Cinco minutos depois, abri minha porta e dei de cara com aquela cortina de fumaça assustadora”, conta Fábio.
“Pouco depois da primeira fumaça preta, vimos outra cortina de fumaça, ficamos com medo, pois parecia algo criminoso”, conta.
Essa segunda fumaça vista por ele, foi próximo ao campo de futebol do bairro e eram as chamas que se espalharam pela rede de esgoto, devido ao vazamento de etanol. “Por sorte, o vento era fraco e não soprava para direção da minha casa, mas o sentimento foi horrível”.
Até sair informações oficiais do Corpo de Bombeiros, especulações circularam pelas redes sociais, provocando uma onda de desespero em moradores da região.
Além disso, moradores usaram as redes sociais cobrando a atuação do poder público da cidade, que tem um dos maiores orçamentos na Grande São Paulo.
“Depois desse trágico incêndio em Barueri e outros, é hora de repensar na presença de indústrias de produtos químicos e inflamáveis em áreas urbanas”, disse um morador no twitter.
“Gostaria que os vereadores de Barueri fizessem um grande favor a população e fiscalizassem os departamentos da prefeitura e as empresas de Barueri”, postou uma moradora no Facebook.
“A meu ver o mais preocupante ali é não saber se todas aquelas indústrias químicas que armazenam materiais inflamáveis, tem alvará, protocolos de segurança contra incêndio, hidrantes, extintores e principalmente fiscalização adequada e periódica”, afirma a Agência Mural a educadora Roselaine Soares, 45.
Ela faz parte do coletivo Juntas, grupo de mulheres que concorreu de forma coletiva ano passado para a Câmara de Barueri. Elas receberam mais de 3 mil votos, mas não se elegeram.
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Em nota publicada no site oficial, a Prefeitura afirma que “a perícia está trabalhando na identificação das possíveis causas do incêndio ocorrida em fábrica no Jardim Califórnia”. “Os veículos atingidos pelo fogo receberão cobertura do seguro da empresa, que já se comprometeu a arcar com todos esses prejuízos”, diz o texto.
Ao G1, a empresa Araguaya Química informou que possui todas as licenças exigidas e está prestando esclarecimentos para as autoridades.
O fogo nas empresas da região fechou uma semana de outros problemas na região metropolitana, com incêndios registrados em parques no Jaraguá, na capital, e em Franco da Rocha.
IMPACTO NAS AULAS
Para conter o fogo, 97 bombeiros em 28 viaturas atuaram no quarteirão, mas, por conta do etanol armazenado nessa indústria, as chamas se espalharam e chegaram a outros pontos do bairro pela tubulação de esgoto. Nesse percurso, carros que estavam estacionados na rua foram atingidos.
Segundo a prefeitura de Barueri, nove escolas do bairro suspenderam as atividades e as crianças foram dispensadas e como medida de segurança a Enel, desligou a energia elétrica na região. Um asilo na rua Orquídeas, que abriga 43 idosos, também precisou ser evacuado.
Apesar da prefeitura informar que só nove escolas da rede suspenderam as aulas, Roselaine, que atua no Maternal (para crianças até 3 anos) Aparecida Conceição Soares Akyama, no Jardim Belval, relata que também foi necessário mandar as crianças que entraram pelo período da manhã para casa.
“Começamos a ligar para os pais e eles vieram pra escola buscar ou enviaram pessoas de sua confiança para pegar”. Segundo ela, as crianças que entram no período da tarde foram impedidas de ingressar na unidade por conta da fumaça. No total, essa maternidade atende 120 crianças no período da manhã.
Nesta sexta-feira (27), as aulas retornaram, exceto nas escolas Egídio Costa e Carlos Osmarinho de Lima, por determinação da Defesa Civil. As unidades passaram por perícia e os idosos retornaram para a instalação, segundo informações da prefeitura.
Jornalista apaixonada por contar e ouvir histórias, ama a rua, gatos, música e produções audiovisuais. Correspondente de Barueri desde 2021.
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