Por: Jessica Bernardo | Artur Ferreira | Carolina Maria | Tatiane Araújo
Notícia
Publicado em 02.09.2022 | 15:26 | Alterado em 09.09.2022 | 10:41
Quando a campanha de 2022 começou, candidatos ao governo do estado enfatizaram a questão do empreendedorismo ao falar das periferias. Mas o que os moradores que têm os pequenos negócios nas quebradas querem dos governantes a partir de 2023?
Combater o desemprego e a fome, investir em cursos de capacitação e oferecer mais linhas de crédito estão entre as demandas, apontam comerciantes e prestadores de serviços entrevistados pela Agência Mural.
PLANOS DE GOVERNO: confira o que que candidatos a governador e presidente têm de propostas para empreendedores das periferias.
Os pequenos empreendedores estão na ponta da cadeia produtiva e vivem o impacto direto das oscilações na economia, como a alta da inflação e o desemprego. A cabeleireira Cícera Alves, 59, explica. “Se eles [os clientes] têm dinheiro para comprar um pão, eles não vão deixar de comprar o pão para cortar o cabelo”, comenta.
Nos últimos anos, a crise econômica fez diminuir os clientes que procuram o salão de beleza dela, no bairro Jardim Casablanca, no Jardim São Luís, zona sul de São Paulo. Ela defende que os próximos presidente e governador trabalhem o “básico” para ajudar: “que [a população] tenha emprego e ninguém passe fome”, explica.
“O que as pessoas estão ganhando realmente é só para pagar a conta, principalmente a classe pobre. Tinha que baixar esses preços que estão tudo lá em cima”, afirma Cícera.
Moradora de Perus, na zona norte da capital, e dona de uma loja de materiais para construção, Bernardete Souza, 47, também aponta que o combate ao desemprego deve ser a prioridade “número um” de quem vencer a eleição. O empreendimento dela chegou a ter duas unidades antes da pandemia, mas ela precisou fechar um dos pontos com a piora nas vendas.
“A nível federal é urgente um investimento pesado para colocar de novo a população no mercado de trabalho porque é esse ‘povão’ quem vai consumir. Eu tenho 90% da minha clientela de pessoas assalariadas”
Bernadete Souza, 47, comerciante
Ela defende ainda que a gestão estadual trabalhe para combater a desigualdade em São Paulo.
O estado mais rico do país tem atualmente 9,2% da população em idade ativa desempregada, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre aqueles que estão empregados, 31,1% estão na informalidade.
O barbeiro Wilton Santana da Graça, 32, é dono de um negócio do bairro Quitaúna, em Osasco, na Grande São Paulo, e defende que os próximos governantes incentivem a criação de novas empresas, “com cursos e palestras que auxiliem para o crescimento e sucesso de novos empreendedores”. Ele investiu na barbearia há seis anos, depois de ficar desempregado.
Quando a pandemia começou, Wilton ainda se recuperava financeiramente depois de “perder quase tudo” durante uma enchente que atingiu a barbearia em fevereiro de 2020 e deixou um prejuízo de R$ 30 mil. Na época ele chegou a fazer uma vaquinha para recuperar parte do valor perdido.
Durante o período de restrição das atividades econômicas por causa do coronavírus, Wilton não recebeu nenhum auxílio dos governos estadual e federal enquanto ficou com o salão de portas fechadas.
Assim como ele, a confeiteira Eloisa Souza Leonardo dos Santos, 22, também não recebeu nenhum auxílio em 2020 para manter aberto o negócio, que era voltado para a venda de doces em festas. Com os eventos suspensos, ela precisou expandir a área de atuação da confeitaria e hoje a loja se tornou uma cantina em uma escola particular.
Para Eloisa, os próximos governantes precisam ter “visão empreendedora” e serem empáticos com os administradores dos pequenos negócios. “Sem valores abusivos, impostos caríssimos”, pede a confeiteira, que também defende a criação de cursos de capacitação para empreendedores.
A empresária diz que não tem visto muitas propostas para a categoria. “Eu me sinto contemplada por propostas em outros âmbitos da minha vida, que consequentemente impactam no meu empreendedorismo, mas pautas, projetos e diálogo voltados para empreendedores está bem escasso”, afirma.
A falta de apoio das gestões estadual e federal para os pequenos negócios é criticada pelos empreendedores. Para a empresária Sheila Cristina, 30, que vive em Parada de Taipas, na zona norte de São Paulo, a categoria não tem o mesmo apoio recebido por grandes empresas.
“[Na crise] faltou apoio e estrutura para as empresas pequenas, como teve para as grandes empresas. Por isso muitas faliram durante a pandemia. Vi muita gente sem condições de pagar o aluguel”
Sheila Cristina, 30, moradora da Parada de Taipas
A empresária investiu na estamparia depois que perdeu o emprego CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), em 2020. As vendas pela internet fizeram o negócio prosperar. “Nessa época ganhei dinheiro porque o mundo estava voltado para o online”, lembra Sheila.
Para ela, os governos poderiam oferecer mais suporte, como “cursos gratuitos para as pessoas que desejam empreender”. “Têm cursos hoje no Sebrae, mas falta mais divulgação e facilidade no acesso. Esse material poderia usar uma linguagem mais simples e de fácil entendimento para pais, mães de família e pessoas de idade que não tem familiaridade com tecnologia”, finaliza.
Dono de uma loja de materiais para construção em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, Edislândio Bernardo, 36, conta que a esposa chegou a fazer um curso no Sebrae para melhorar os negócios. A loja é administrada pelo casal e a irmã de Edislândio.
No começo do negócio, eles precisaram pegar um empréstimo para fazer os primeiros investimentos no material. “Pequenos fornecedores não têm incentivo de nada”, comenta o comerciante.
Para ele, linhas de crédito, com juros mais acessíveis, poderiam ser uma ferramenta para ajudar empreendedores a investir em seus negócios. “Incentivo para quem precisa aumentar, comprar caminhão novo. No meu caso, se tivesse, ajudaria bastante”, afirma Edislândio.
Jornalista, cria de uma família de cearenses. Apaixonada por São Paulo, bolos e banhos de mar. Correspondente do Grajaú desde 2017.
Jornalista e redator. Atuou nas redações do Observatório do Terceiro Setor e Rádio CBN. Adora livros, cinema, podcasts e debater sobre política internacional. Palmeirense. Correspondente do Jardim São Luís desde 2022.
Jornalista, periférica, autora do livro “pensamentos desalinhados”. Meu livro foi publicado de forma independente. LGBTQ+. Ler é um dos meus hobbies favoritos. Correspondente de Osasco desde 2022.
Jornalista apaixonada por contar e ouvir histórias, ama a rua, gatos, música e produções audiovisuais. Correspondente de Barueri desde 2021.
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