De acordo com moradores e líderes de movimentos contra a medida, não houve consulta nem debate prévio para consenso sobre a decisão
Por: Redação
Publicado em 15.12.2016 | 13:06 | Alterado em 15.12.2016 | 13:06
Do alto do seu apartamento no centro da capital paulista, Caroline Costa, 29, consegue facilmente contemplar a vista, panorâmica e quase sempre efervescente, de um dos cartões postais da cidade: a Praça Roosevelt. Porém, essa visão privilegiada pode ganhar novos tons, caso seja aprovada um projeto de lei que corre, desde agosto deste ano, na Câmara de Vereadores. O PL 421/16 propõe o fechamento da praça para torná-la parque.
De acordo com moradores e líderes de movimentos contra a medida, não houve consulta nem debate prévio para consenso sobre a decisão. “Ouvi rumores. Uma vez o namorado de uma amiga foi em casa e disse ‘vão fechar isso aqui’. Também li coisas no Facebook. Achei horrível”, afirma Caroline, que vive há menos de um ano na Roosevelt.
“A Roosevelt é um dos melhores lugares de São Paulo para mim. É viva. Se tivesse que escolher entre a [avenida] Paulista e a Roosevelt, por exemplo, sem pensar, eu escolheria a Roosevelt mil vezes”, diz Caroline.
Também contrária ao PL, Mariana Pereira, 33, é uma das criadoras do movimento “Praça Roosevelt para Todxs”. Moradora do bairro Campos Elísios, pertencente à Subprefeitura da Sé, Mariana defende que a praça precisa continuar sendo “livre” e “democrática”, embora reconheça que existam problemas que precisam ser resolvidos.
“Para isso fizemos seis reuniões abertas na praça. Conversamos com vários grupos e distribuímos centenas de panfletos. Ninguém quer que a praça seja fechada. Entendemos a questão do barulho à noite, que incomoda muitos moradores, mas é preciso haver debate. Cercar e privatizar não são a solução”, afirma a produtora gráfica.
Para endossar a campanha, Mariana criou ainda o “Abrace a Roosevelt”, uma espécie de piquenique aberto que acontecerá no próximo domingo, 18, das 14h às 18h. “Queremos realmente abraçar a praça. Teremos um varal de desejos para que as pessoas escrevam e, assim, gerar histórico do que é a praça. Sem contar, grupos de tricô e até dança com cadeirantes, para abordar a acessibilidade”, afirma.
Em setembro 2012, o local foi aberto após permanecer por dois anos para reformas. A reinauguração mudou o espaço, mais de 260 árvores foram plantadas, luminárias, quiosques, banheiros públicos e policiamento foram instalados.
O documento do projeto de lei sugere que a praça seja transformada em parque para que haja mais rigor sobre o local: “com ocupação do espaço pelo poder público a fim de conservar e fiscalizar o uso adequado, certamente haverá menos gastos em longo prazo (…) além de propiciar melhoria da qualidade de vida dos moradores do entorno ao permitir-lhes o sossego noturno assegurado pelo Programa de Silêncio Urbano (PSIU)”.
De acordo com a justificativa do documento “sem horário de fechamento, o espaço é motivo de transtorno para os moradores do entorno que não têm mais sossego sequer para ter uma noite de sono tranquila”. Veja aqui o texto completo.
A analista de sistemas Caroline garante já ter se acostumado aos eventos e ao barulho, mas enfatiza ser contrária aos novos rumos da praça. “A Roosevelt é uma praça e não um parque, então não tem que ser tratada como tal. Precisa permanecer aberta 24h, porque é para o povo e o povo vive independentemente de horário e grades”, diz a analista de sistemas.
No portal Avaaz, uma das principais plataformas de petições online no mundo, um abaixo-assinado mobiliza 1.000 assinaturas contra a proposta de fechamento da praça. Até o momento, a campanha conta com 557 assinantes. Confira aqui.
Segundo Mariana, de acordo com o vereador Eliseu Gabriel (PSB), em reuniões realizadas, houve a decisão de que o PL não avance na Câmara até a realização de um seminário, previsto para março de 2017, que pretende debater os rumos da praça.
“Estamos organizando este seminário para que diferentes grupos falem sobre suas perspectivas em relação à praça, com as pessoas ouvindo o ponto de vista de cada um”, finaliza Mariana.
Foto: Caroline Costa
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.
Envie uma mensagem para [email protected]