Fila de espera para atendimento psiquiátrico na unidade mais próxima já chega a 100 pacientes. Secretaria de Saúde garante que todos serão atendidos
Por: Redação
Publicado em 30.11.2017 | 13:45 | Alterado em 30.11.2017 | 13:45
Para Joana (nome fictício), 38, moradora da Vila Penteado, na zona norte da capital, manter o tratamento psiquiátrico é imprescindível para a estabilidade do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo).
Quando recebeu o diagnóstico, passava por uma grave crise de ansiedade que afetava sua vida em todos os aspectos. Foi no AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Dra. Jandira Masur, localizado no bairro da Vila Maria e único no estado especializado em psiquiatria, que Joana encontrou o reequilíbrio para retomar a vida.
Após dois anos de acompanhamento médico regular e atendimento terapêutico, classificado pela paciente como excelente, ela recebeu alta do AME para prosseguir seu tratamento em uma unidade básica de saúde mais próxima de sua residência.
Joana foi encaminhada para a UBS Profª Maria Cecília F. Donnangelo, na Vila Penteado, mas, chegando ao posto, a surpresa na hora de agendar sua consulta: não havia médico psiquiátrico na unidade.
“Recebi a informação com certa preocupação, pois não posso ficar sem acompanhamento médico”, declara.
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Até julho a unidade contava com uma psiquiatra que atuava 20 horas semanais. A vaga, porém, se mantém desocupada desde que a médica se aposentou. Passados quatro meses, a Prefeitura ainda não encaminhou um profissional para substituí-la, deixando a unidade sem o atendimento da especialidade.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informa que Joana e outros pacientes que apresentam quadros de doenças mentais estão sendo encaminhados para o AE (Ambulatório de Especialidades) Freguesia do Ó, que fica a três quilômetros de distância da UBS Profª Maria Cecília F. Donnangelo.
Contudo, na prática, não foi o que aconteceu com Joana. Após algumas visitas à UBS, seus dados foram cadastrados na fila de espera para consulta médica com psiquiatra, sem data prevista para agendamento.
Sem muitas explicações, a paciente também foi orientada a procurar por uma funcionária na unidade para “ver o que ela pode fazer para ajudar”.
FALTA CLAREZA
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, “a demanda espontânea que chega à UBS é acolhida por profissionais de saúde mental que lá atuam (psicólogos) e direcionada para o AE Freguesia do Ó”. Entretanto, Joana não conseguiu localizar a funcionária nas visitas que fez ao posto, pois a profissional só trabalha na unidade no período matutino.
“Se trabalho no período da manhã e não tenho como procurar por essa funcionária, fico sem atendimento?”, questiona Joana.
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Nossa reportagem também tentou localizar a mesma funcionária para entender melhor os procedimentos para o encaminhamento ao AE Freguesia do Ó. Fomos no período da manhã, mas a mulher estava “em treinamento”, segundo informação das recepcionistas da UBS, que é bastante procurada por pacientes do bairro e de outras regiões da cidade.
Solicitamos informações referentes aos números de atendimento da unidade, mas até o fechamento desta matéria não recebemos resposta da assessoria de imprensa.
DIRECIONAMENTO
Via Lei de Acesso a Informação, o 32xSP descobriu que a demanda espontânea que chega na UBS Profª Maria Cecília F. Donnangelo é direcionada para o Ambulatório Freguesia do Ó, via agenda regulada.
Há fila de espera de cerca de 100 pessoas, e os profissionais dos CAPSs (Centro de Atenção Psicossocial) do território mantêm sua atividade de matriciamento com os funcionários da unidade, de modo a possibilitar a resolutividade dos casos de menor complexidade.
Ainda em resposta pela LAI, está prevista a contratação de 647 profissionais aprovados em concurso público, homologado em 2016, para suprir a demanda da administração direta. O concurso tem validade de dois anos, até 2 de julho de 2018, e pode ser prorrogado por igual período.
A região norte receberá cinco vagas do concurso de psiquiatras para nomear, sendo que duas vagas serão direcionadas ao Território da Supervisão de Saúde de Freguesia do Ó/Brasilândia. Havendo escolha, os profissionais serão lotados na UBS Maria Cecília e na UBS Jardim Ladeira Rosa de modo a garantir a melhora da assistência da especialidade na região.
INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO
O TOC é uma doença mental marcada pela presença de obsessões e/ou compulsões. A doença é considerada grave pela Organização Mundial da Saúde e está entre as dez maiores causas de incapacitação. O tratamento que une medicação e psicoterapia é fundamental para a qualidade de vida do paciente e deve sempre ser acompanhado por um médico.
Para que joana continue tendo respostas positivas de seu tratamento, é imprescindível acompanhamento médico bimestral e medicação que ajuda no controle da ansiedade. Além disso, a paciente é acompanhada semanalmente em processo terapêutico, contribuindo na gestão dos pensamentos e no manejo das ações repetitivas.
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Outros diagnósticos de psiquiatria também demandam uma disciplina médica assídua, feito com seriedade para evitar recaídas. É um trabalho de manutenção que previne o sofrimento do paciente e as inúmeras filas por espera de consulta.
Joana, entretanto, continua sendo acompanhando por assistentes sociais do AME Dra. Jandira Mansur. Não tendo sua consulta agendada na UBS, foi reencaminhada ao ambulatório médico de especialidade do estado e atendida normalmente, não ficando desassistida do acompanhamento psiquiátrico.
“Acho que o Estado deveria investir em mais unidades de AME, pois o atendimento é muito bom”, pontua Joana, que espera continuar usufruindo da mesma qualidade no atendimento médico nas unidades administradas pela Prefeitura de São Paulo.
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