Lucas Santiago/ Divulgação
Por: Simony Maia
Notícia
Publicado em 09.02.2024 | 13:14 | Alterado em 09.02.2024 | 13:14
O Bloco da Moça, fundado em 2014 por um grupo de jovens em Diadema, na Grande São Paulo, celebrou a retomada do Carnaval oficial na cidade após mais de uma década de interrupção.
Pamela Figueiredo Monte, 33, produtora e tocadora de agogô no bloco independente, destaca a importância dessas iniciativas locais que mantiveram a festividade viva sem contar com a organização da prefeitura.
“O trabalho dos coletivos independentes não parou e o carnaval sempre existiu, pois existem mini-organizações dentro da periferia que fazem a festa do seu jeito”, conclui.
O Bloco da Moça surgiu como uma alternativa para os moradores caírem na folia onde moram. “Sempre curti o Carnaval e sempre tive que sair da cidade para curtir. Poder trazer as pessoas para curtir aqui, não tendo que se deslocar, é uma realização enorme”, conta Rodrigo Nascimento de Sá, 36, sonoplasta e mestre de bateria no Bloco da Moça.
Pamela também destaca a importância da festa na cidade como solução para os desafios logísticos dos foliões. “Em Diadema tem a Lei do Psiu, tudo fecha às 22h e os ônibus também param. Se a gente fosse curtir o Carnaval fora da cidade, ou a gente voltava antes das 23h pra casa ou ficava na loucura até as 5h da manhã”, relembra Pamela.
Neste ano, com evento gratuito e aberto ao público nos últimos dias 3 e 4 de fevereiro, a Prefeitura de Diadema marcou o renascimento da tradição carnavalesca na região. A festa contou com apresentações da bateria da Escola de Samba Vai-Vai e do cantor Alceu Valença, além da participação do próprio Bloco da Moça.
Para o grupo, o convite para participar da celebração representa o reconhecimento do trabalho realizado de forma independente ao longo de uma década. Contudo, apesar da visibilidade proporcionada pelo evento oficial, os integrantes pontuam os desafios ainda enfrentados pelo Bloco da Moça, como o cancelamento dos ensaios em dias de chuvas intensas.
Pamela, dona da casa onde os equipamentos do bloco são guardados, relata a falta de suporte do poder público. “Todos os anos a gente pede apoio para a prefeitura, para que eles façam o fechamento da rua pra gente passar com segurança”, diz a produtora.
Ela conta que, em 10 anos de bloco, o desfile só contou duas vezes com o apoio para a sinalização de trânsito, sendo que, em uma delas, o acompanhamento ocorreu até a metade do percurso.
Em resposta, a Prefeitura de Diadema afirma ter acompanhado o bloco nos três anos em que ele percorreu o trajeto entre o terminal Diadema e a praça. De acordo com a administração, o Bloco da Moça surgiu “em um contexto de supressão de qualquer atividade relacionada ao Carnaval na gestão anterior“.
A prefeitura diz ainda que busca oferecer apoio pontual a blocos menores, com incidência no território, considerando as demandas caso a caso.
O Bloco da Moça criado de forma despretensiosa por alguns jovens que queriam sair às ruas no carnaval conta atualmente com 32 integrantes e defende a “descentralização” do evento.
“A gente sempre busca fazer o cortejo todos os anos em lugares não centrais como o Jardim Ruyce, Avenida Marginal Z, em diversos lugares que o poder público não vai”, afirma a tocadora de agogô.
Rodrigo destaca ainda a importância de resgatar a tradição carnavalesca na cidade, e lembra que Diadema já foi palco de desfiles de escolas de samba de São Paulo. Para ele, preservar essa memória é fundamental para valorizar a cultura local.
“Pouca gente sabe, mas vinham escolas de samba de São Paulo para se apresentar em Diadema. Por pouco a gente não perde isso. Esse negócio de resgatar é reverenciar quem veio antes para que a gente pudesse fazer o nosso Carnaval hoje”, conta Rodrigo.
Pamela, cria de Diadema, guarda memórias afetivas de infância desta época do ano. “Minha avó gosta de costurar, e eu lembro de escolher com ela o vestido que ia usar no desfile”.
Para a produtora do Bloco, a interrupção do Carnaval por mais de uma década no calendário oficial da cidade está ligada a uma interpretação errada da festa.“O Carnaval é algo que foi tirado da família da periferia, como se fosse uma ideia de salvação. Foi uma forma do poder público dizer que estava acabando com a violência, que é um evento que junta criminosos”.
Ela destaca a necessidade de reconhecimento do trabalho dos artistas e produtores culturais, ressaltando que o Carnaval é parte integrante da identidade e da história da cidade. “Vivemos em um país que precisamos provar todos os dias que o trabalhador da cultura não é um vagabundo”, finaliza.
Jornalista que se aventura pelo universo das redes sociais falando sobre política, cultura e entretenimento. Em busca de sempre vivenciar novas trocas para contar boas histórias. Correspondente de Diadema desde 2023.
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