Por: Giacomo Vicenzo
Publicado em 24.01.2019 | 9:36 | Alterado em 22.11.2021 | 16:00
Oportunidades perto da residência nas periferias são raras e esbarra na falta de possibilidades de carreira
Tempo de leitura: 3 min(s)A professora de ensino infantil, Caroline Santos, 31, é um dos poucos exemplos de Cidade Tiradentes, no extremo leste de São Paulo, que trabalha perto de onde mora. “Trabalho a menos 10 minutos de caminhada de casa e o trajeto é plano. Saio de casa e vou andando tranquilamente”, conta.
Conseguir trabalhar por ali, porém, é uma missão quase impossível. O distrito é o local com menor índice de postos de emprego em toda a capital. São 0,24 vagas formais para cada 10 moradores de acordo com o Mapa da Desigualdade 2018.
No primeiro emprego, Caroline atuou em uma lanchonete de fast-food no Tatuapé, também na zona leste. Ela demorava cerca de 1h30 para chegar ao trabalho. “Era exaustivo, saía de casa desanimada pensando no trajeto e no cansaço. Dias de calor eram um horror”, lembra ela.
A falta de oportunidades leva boa parte dos 200 mil habitantes para longas jornadas no transporte público. Moradores da zona leste gastam 1h52 diariamente, com o deslocamento até o trabalho ou local de estudo, de acordo com a pesquisa “Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana na Cidade”.
A professora conseguiu mudar após completar o ensino superior e ser aprovada em um concurso público. “Vejo como um aumento na qualidade de vida. Me restam mais horas do dia para cuidar da casa, passear, ver amigos ou simplesmente descansar”, avalia Santos.
PRIVILÉGIO
Trabalhar e morar no mesmo bairro segue como um privilégio para poucos paulistanos. De acordo com o estudo Mapa da Desigualdade 2018, a média de toda capital é de 6,74 empregos formais para cada 10 pessoas. A região com mais facilidade é a Barra Funda, com 59,24 postos. Ou seja, há cinco vezes mais oportunidades do que moradores na região. Depois vem a região da Sé, no centro, com 46 oportunidades a cada 10 pessoas.
Nos extremos das periferias essa média de ocupação formal por habitantes cai. Assim como Cidade Tiradentes, há distritos com menos de uma vaga para cada dez habitantes, casos do Jardim Helena, São Rafael, Vila Curuçá e Artur Alvim, na zona leste, Capão Redondo, Parelheiros e Jardim Ângela, na zona sul, Brasilândia, Anhanguera e Tremembé, na zona norte.
Todos os distritos periféricos estão abaixo da média de empregos formais da capital, o que faz com que os moradores se vejam reféns do desemprego ou de trabalhos sem registro, caso queiram ficar perto de casa.
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Para Thiago Torricelli, 27, que também mora em Cidade Tiradentes, trabalhar perto de casa ainda é uma realidade distante. Ele atravessa o município até chegar na Lapa, na zona oeste, onde atua como control desk, cargo da área de telemarketing. Antes, ficou desempregado cinco anos.
“Na minha área atual não há vagas dentro do bairro e para o futuro penso em prestar concursos na área da justiça e direito, o que também me faria trabalhar distante de onde moro”, diz Torricelli.
O sociólogo Fábio Mariano Borges explica que nas periferias existe uma concentração de vagas em micro e pequenas empresas, além de empregos informais.
“A chance de carreira é baixa, então irá ocorrer uma migração da periferia para o centro”, explica Borges que é doutor em sociologia do consumo na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
A professora municipal Tainan Silva, 31, por exemplo, pretende fazer o caminho inverso. Trabalhando a vida toda em Cidade Tiradentes, ela foi aprovada em um concurso público. O salário é melhor, no entanto, só tem vagas na zona sul da cidade.
“Nos últimos oito anos trabalhei perto de casa, no mesmo bairro, às vezes pegava transporte, mas era mais demorado que ir a pé, então sempre dei preferência pela caminhada”, comenta.
Com a mudança de emprego, Souza não quer abrir mão da proximidade do trabalho e planeja alugar um imóvel perto da nova escola de educação infantil onde dará aulas.
“Poder trabalhar perto de casa é um privilégio em uma cidade com trânsito caótico, as pessoas já chegam para trabalhar cansadas após o trajeto casa/serviço. A qualidade de vida em poder trabalhar próximo ao emprego é muito melhor”, explica.
OPORTUNIDADES
Em Heliópolis, dentro da maior favela de São Paulo, localizada na zona sul, a restrição de conexões de internet na comunidade fez com que cerca de 12 operadoras locais entrassem na disputa pelos clientes. Essa foi a chance para que Fernando Barbosa, 21, técnico e instalador conseguisse uma vaga na região, depois de ter trabalhado em outros bairros da capital.
“Não levo nem um minuto para chegar na empresa. Na volta, não tenho que encarar um metrô lotado ou um ônibus, como fazia antes em meu antigo emprego”, explica Fernando.
O bairro está no distrito do Sacomã onde há 1,6 vagas para cada 10 habitantes. “Hoje, consigo chegar rápido em casa e ainda ter tempo para ficar um pouco com meu filho antes de ir para o curso”, comenta.
Giacomo Vicenzo é correspondente de Cidade Tiradentes
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Jornalista. Acredita no jornalismo como ferramenta de transformação social. Iniciou sua carreira profissional no Datafolha, já publicou no UOL TAB e Revista Galileu. Gosta de contar e ouvir boas histórias. Adora seus gatos de estimação e não consegue viver sem senso de humor. Correspondente da Cidade Tiradentes desde 2018.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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