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Agência de Jornalismo das periferias

Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Por: Cleberson Santos | Gabriela Carvalho

Notícia

Publicado em 25.07.2024 | 17:27 | Alterado em 26.07.2024 | 15:21

Tempo de leitura: 5 min(s)

Nascido em Guarulhos, mas criado nos bairros da Vila Nhocuné e Cohab I (ambos no distrito de Artur Alvim, na zona leste), Gabriel Santos é um dos vários atletas oriundos das periferias de São Paulo que está nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, que começa oficialmente nesta sexta-feira (26) com a Cerimônia de Abertura.

Apesar de jovem, com 28 anos, Gabriel é veterano no assunto. Ele competiu pela primeira vez com apenas 19 anos, no Rio 2016, e repetiu o feito em 2021, nos Jogos de Tóquio. Nesta edição, disputará a prova do revezamento 4x100m livre ao lado de Guilherme Caribé, Marcelo Chierighini e Breno Correia.

A prova será logo neste sábado (27), às 6h da manhã. Caso consigam avançar à final, o quarteto pulará na piscina novamente por volta das 16h40 do mesmo dia.

Cria da ZL, Gabriel Santos conquistou uma medalha de prata no Mundial de Esportes Aquáticos de 2017, em Budapeste, na Hungria.

Gabriel Santos, nadador olímpico que vai competir, nas Olimpíadas de Paris @Arquivo pessoal/ Divulgação

Apesar de nadar e competir desde os seis anos, curiosamente, foi somente após a Olimpíada do Rio, que ele percebeu que gostaria de ser um atleta profissional.

“Fui finalista com o revezamento, nadei junto com o Michael Phelps. No ano seguinte, fui medalhista de campeonato mundial. Foram experiências que mudaram muito a minha forma de pensar”, afirma Gabriel, relembrando quanto ganhava quando foi competir no Rio 2016.

‘Até então eu não ganhava grana. Com 19, 20 anos, estava ganhando R$ 1.500, fui para a Olimpíada recebendo R$ 1.500. É um privilégio alguém que vem da periferia ter 19 anos e fazer natação, é muito fora da caixa’

Gabriel Santos, 28, nadador brasileiro

A partir daí, o nadador construiu um caminho de novas possibilidades. “Ganhei bolsa em um colégio particular. E, na realidade que eu vivia, isso era impossível”, revela o atleta.

“Tinha outros sonhos em mente, entende? O sonho da melhoria, de fazer uma parada melhor, de melhorar a realidade que eu tinha”, completa.

Nadador se preparando para competição, nas Olimpíadas de Tóquio 2020 @Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Cria da zl

De acordo com o Guia de Mídia do Time Brasil, 49 dos 276 atletas que formam a delegação brasileira em Paris nasceram em cidades da região metropolitana de São Paulo. Vários deles são de origem periférica.

No caso de Gabriel, ele morou na Vila Nhocuné, na zona leste de São Paulo, até os dez anos de idade, quando morava com a avó. Conta que aproveitou bastante a infância na rua, com todas as brincadeiras tradicionais dessa fase.

“Eram aquelas brincadeiras ‘raíz’ mesmo, de futebol na rua, empinar pipa. Jogava bolinha de gude, esconde-esconde”, conta o atleta, que curiosamente conheceu a natação como uma forma de superar o medo de ficar na água.

“Quando era mais novo não gostava muito de entrar na água”, relembra, ele que evitava até mesmo quando ia na praia. Ele lembra que isso mudou quando a mãe o levou em um pediatra que falou dos benefícios que a natação traz e ele foi perdendo a insegurança.

Aos 11 anos, Gabriel se mudou da Vila Nhocuné para a Cohab I, também na região de Artur Alvim. Foi nesta mesma época que a rotina como atleta começou a ficar mais intensa, quando entrou para a equipe de treinamento da academia onde treinava.

O atleta participou das Olimpíadas de Tóquio e em Paris pretende chegar nos finalistas @Satiro Sodré/SSPress/CBDA

“Fui evoluindo e fui nadar na Jet Center, que fica na Penha. Fui pegando o ritmo das competições e com 11 anos de idade vim para o Clube Pinheiros, onde estou até hoje”, conta.

O Pinheiros é o clube esportivo mais tradicional de São Paulo e o que mais levará atletas para Paris 2024. Ao todo, 34 atletas contratados pelo clube estarão nos Jogos.

Durante toda a adolescência, Gabriel Santos precisou enfrentar três transportes para se deslocar da zona leste à região da Faria Lima, na zona oeste, onde o clube fica. “Pegava uma perua, metrô e mais um ônibus para chegar ao treino. Fiquei uns 3 anos fazendo esse trajeto, dava mais ou menos umas 2 horas para ir, 2 horas para voltar”.

Aos 17 anos, se mudou para a República, na região central, onde vive com cinco colegas, o que facilitou a preparação.

Mesmo com a mudança, Gabriel nunca deixou de visitar a família e os amigos que ficaram no lado leste do mapa: “Sempre que dá, alinhando com a rotina dos treinos, eu vou pra casa, vejo os parceiros das antigas, passo um churrasco, fico com meu irmão. Tenho uma relação muito boa com todo mundo da região.

Além da distância, para chegar aos Jogos, o atleta passou a conhecer um outro mundo, em um esporte considerado de elite. “As referências de atleta olímpico na natação, eram Gustavo Borges, Cesar Cielo, Thiago Pereira, o Xuxa [Fernando Scherer]. Já tive conversas com esses caras, só que eu não me identificava, nada a ver, tá ligado?”, conta.

Atleta e universitário

O nadador relata que os obstáculos não param por aí. Após os Jogos de Tóquio, ele decidiu conciliar a rotina de treinos e competições com a universidade, cursando psicologia de forma presencial.

“Meu objetivo é me tornar um bom profissional para explorar essa área, porque tenho uma vivência dentro do esporte que pode agregar muito a trajetória de outros atletas”, comenta Gabriel, que pretende seguir na área de psicologia esportiva.

Após Paris 2024, o competidor entrará na fase de estágios obrigatórios do curso. Ele lamenta que no Brasil não haja uma política que possibilite conciliar o esporte com o ensino superior, como é feito tradicionalmente nos Estados Unidos. Por lá, os principais atletas do País se desenvolvem dentro das universidades.

“Eles são uma superpotência [olímpica], e as universidades e o esporte são totalmente atrelados. No Brasil já é diferente, eles já divergem um pouco, os estudos, os horários de treino. São poucos atletas que estudam e treinam”, aponta ele.

Na história dos Jogos Olímpicos, os Estados Unidos lideram o quadro geral de medalhas com mais de 2600 medalhas, sendo 1061 douradas. O Brasil é o 32º neste ranking histórico, com 150 medalhas no total, sendo 37 de ouro.

Em meio a essa rotina de atleta e estudante, Gabriel Santos enfatiza que teve que se adaptar muito para acompanhar os treinos nestes últimos meses. “Ainda mais quando se fala em alta performance, qualquer mudança já traz alterações”.

‘Tive uma fase de adaptação, mas dentro do possível, consegui manter bem minha performance, tive bons resultados’

Gabriel Santos conquistou vaga nas Olimpíadas de Paris

Ele também menciona que o segredo é saber dosar as expectativas: “A gente sabe a guerra que é para uma final, para trazer uma medalha olímpica. Mas é preciso focar no jogo e não no que está em jogo”.

Gabriel Santos vai competir nas Olimpíadas de Paris, sábado de manhã @Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Apesar de ser grato ao esporte por tudo que construiu nesta quase uma década como atleta profissional, Gabriel reforça também o quanto suas referências e origens também são importantes para chegar aonde chegou.

“A gente é um pessoal mais simples e não menos competente, a gente só é mais simples. Sou um cara que não mede esforços em busca de uma melhoria, sabe? Desde moleque sou assim”, afirma, citando a expectativa de que o esporte ajude no futuro.

“Todo mundo que tá no corre, busca uma coisa melhor, uma vida melhor ou qualquer mudança que seja. Esses são valores que eu trago na minha raiz na ZL”.

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Cleberson Santos

Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.

Gabriela Carvalho

Jornalista, comunicadora visual, mestra em Mídia e Tecnologia e pós-graduada em Processos Didático-Pedagógico para EaD. É correspondente do Jardim Marília desde 2019. Também é cantora de chuveiro, adora audiovisual e é louca por viagens.

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