Cidades possuem 130 candidatos brancos, e 30 pretos e pardos; há duas candidaturas indígenas para o comando do executivo
Por: Paulo Talarico | Katia Flora
Notícia
Publicado em 11.09.2024 | 9:08 | Alterado em 12.09.2024 | 12:36
A falta de prefeitos e prefeitas negros na Grande São Paulo, onde apenas três foram eleitos em 2020, deve permanecer nas próximas eleições. Pelo menos é o que indica o número de candidaturas apresentadas para a disputa deste ano nas 39 cidades da região metropolitana.
Levantamento da Agência Mural com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostra que apenas 2 em cada 10 candidatos a prefeito se declararam pretos ou pardos. No caso de concorrentes a vice, a situação é um pouco melhor – 3 a cada 10.
A pouca presença deve dificultar ampliar a diversidade no que foi visto há quatro anos. Reportagem especial da Mural mostrou que apenas três foram eleitos em 2020, sendo que um foi cassado e outro desistiu de disputar a reeleição.
Ao todo, há 175 candidaturas para as 39 prefeituras. Desses 130 se declararam brancos. São também 26 pardos e 14 pretos. Há duas candidaturas indígenas e dois políticos se autodeclararam amarelos (orientais).
Em entrevista à Mural, a mestranda em ciências políticas pela USP (Universidade de São Paulo), Beatriz Mendes Chaves, 26, cita que desde a escravidão há uma exclusão sistemática dos negros do sistema político. Isso tem afetado a realização de ações que auxiliem essas populações.
“Temos uma assimetria em relação às políticas que são produzidas e os verdadeiros interesses nessa população. Os homens brancos são um único grupo totalmente representado”, afirma.
Em 13 cidades, não há nenhum político negro entre os concorrentes a prefeito, caso da cidade de São Paulo, onde são 10 concorrentes, oito homens e duas mulheres, todos brancos. Também estão nessa lista:
Do outro lado, Embu Guaçu é o único município em que a maioria são negros: 5 dos noves candidatos se declarou preto ou pardo.
Apesar desses números, há também questionamentos sobre algumas autodeclarações. Em Mauá, por exemplo, o ex-prefeito Atila Jacomussi (União) se declarou pardo este ano, mas dois anos atrás havia informado ser branco à Justiça Eleitoral.
Nos últimos anos, os partidos passaram a ser obrigados a repassar parte do recurso do fundo eleitoral para candidaturas negras, o que tem levado a discussão sobre as autodeclarações.
“Há diversas candidaturas que se autodeclararam como negras, mas que não são lidas socialmente como negras num exercício de hetero identificação. É fundamental que exista algum tipo de fiscalização. Esses recursos estão sendo repassados sem que existam candidaturas numa proporção considerada e adequada”, ressaltou Beatriz.
Para as Câmaras Municipais, a cena é um pouco mais equilibrada e mais próxima da representatividade da população. Do total de candidatos, 47% se declararam negros, perto do que é a proporção na população Grande São Paulo.
O destaque é Itapevi, na região oeste da Grande São Paulo, onde 7 em cada 10 concorrentes a uma cadeira na Câmara Municipal se declarou negro. Em contrapartida, do outro lado da região metropolitana, Salesópolis possui apenas 14% de postulantes pretos e pardos.
Além disso, as eleições 2024 têm uma característica diferente da disputa de quatro anos atrás: uma redução no número de concorrentes. Enquanto 17 mil políticos apresentaram candidaturas em 2020, este ano são 11 mil postulantes às prefeituras e câmaras municipais.
Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.
Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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