Região foi afetada pelas chuvas das últimas semanas e região tem protestos por conta de represa
Arquivo Pessoal
Por: Karine Ferreira | Malu Marinho
Notícia
Publicado em 06.02.2025 | 12:48 | Alterado em 06.02.2025 | 14:40
Com quase uma semana ilhados e sem previsão de quando a água vai baixar, moradores do Jardim Pantanal, distrito do Jardim Helena, zona leste de São Paulo, temem pelo futuro. Enquanto a comunidade tem se unido para buscar doações e ajudar as famílias atingidas pelo problema, há ainda a sensação de descaso com falas sobre remoção.
“É complicado sair de uma comunidade e ir pra outra, ninguém consegue comprar um imóvel com R$ 50 mil”, diz André Batista da Silva, 38, assistente social, morador do Jardim Pantanal.
A fala dele é uma resposta a declaração do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Na segunda-feira (3), o gestor afirmou que obras de drenagem e contenção da água de extravasamento do rio Tietê não são uma opção viável. Ele disse estudar “ajuda financeira”, com auxílio de R$ 20 mil a R$50 mil para incentivar os moradores a deixarem a região.
Rua alagada na zona leste, no Jardim São Martinho @Karine Ferreira/Agência Mural
O comentário gerou incômodo por parte dos moradores, a exemplo da bacharel em direito Bruna Costa, 25, que vive no Jardim Helena, e afirma que o deslocamento dos locais não seria a alternativa mais humana.
“Ele [Ricardo Nunes] está tratando as pessoas como se fossem um objeto: eu tiro o bonequinho daqui e coloco para lá”, comenta. “Isso não engloba tudo o que o ser humano é: a rotina, o trabalho, a vida, a história”
‘Tem gente que gosta de morar aí e tem gente que mora que não tem como sair. Você tem que ajudar essa pessoa a ter um estilo de vida melhor, um emprego melhor, para ela poder ter condição e engloba muito mais que só dinheiro’
Bruna Costa, ativista da zona leste
O Jardim Pantanal é um bairro onde vivem cerca de 45 mil pessoas. A região está localizada dentro do Jardim Helena, distrito com cerca de 129 mil moradores, que também foram vítimas dos alagamentos dos últimos dias, assim como o Jardim Izildinha, no outro lado do rio Tietê, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
A analista de marketing Camila Santos Soares, 25, moradora do Jardim Izildinha, comenta que há um descaso por parte da prefeitura em relação aos problemas de enchente.
‘As pessoas estão vivendo nessa situação humilhante e não vejo nenhuma opção de melhora. Todo mundo sabe da questão dos alagamentos aqui e ninguém está interessado’
Camila, moradora do Jardim Izildinha
“Minha família e eu já passamos por diversas enchentes”, diz o assistente e ativista social, André Batista. “Me lembro de quando tinha cinco, seis anos de idade, de ver a gente perdendo tudo em alagamento. A gente trabalha e a enchente leva tudo”.
“É uma luta geracional. Os meus avós estão há muito tempo falando desse problema para os governantes que parecem não dar o devido valor, e nunca temos uma resposta concreta do porquê não se pode resolver”, comenta a advogada Bruna Costa, do Jardim Helena.
Bairro já sofre com problemas há décadas, segundo moradores @Arquivo Pessoal
Além dos bairros da zona leste, regiões que ficam no limite entre as cidades de São Paulo e Guarulhos, como o Jardim Izildinha, também acabam sofrendo a mesma pressão das enchentes, o que ambas regiões têm em comum é o cotidiano próximo a trechos do rio Tietê.
“No final do ano passado, na semana entre Natal e Ano Novo, encheu bastante aqui, a gente quase ficou ilhada também e a água demorou muito a descer”, afirma Camila.
Os moradores relatam que as chuvas deste ano atingiram pontos em que a água não chegava antes.
Para a moradora, há o desgaste emocional que as enchentes trazem, além dos perigos de contaminação devido à concentração de água no local. “Ainda tenho privilégio de trabalhar de casa, mas minha mãe não consegue, então, ou ela encara a água suja de esgoto, ou ela não vai receber o salário. Ela precisa se expor ao risco de doenças“, diz a analista de marketing.
Além da fala do prefeito Ricardo Nunes, nesta terça-feira (4), surgiu um protesto dos moradores que pedem a abertura da comporta de uma represa na Grande São Paulo. Para alguns, essa é uma das possíveis causas dos alagamentos e de a água não ter baixado.
“A água eles soltam na represa em Mogi, porque se não soltar a represa ela quebra, e eles fazem o quê? Deixam as periferias embaixo d’água”, comenta a analista de marketing, Camila Santos Soares.
De acordo com Bruna, esse foi o maior alagamento que ela viu na última década. Pensando nisso, como uma forma de ajudar outros moradores que estão passando por dificuldades devido à enchente, ela se organizou para montar um ponto de recolhimento de roupas, mantimentos e objetos de higiene básica.
Procurada, a Prefeitura de Guarulhos afirma que intensificou os serviços de roçagem de áreas pública e limpeza de valas de drenagem, rios e córregos nos bairros Jardim Palmira, Vila Flórida, Cidade Aracília, Cidade Tupinambá, Vila Rio de Janeiro, Jardim São João, Jardim Otawa e Cidade Seródio.
S.O.S Juntos pelo Jardim Helena
Precisamos de:
Faça sua doação no ponto de arrecadação: Rua Ubapitanga, 1B – Jardim São Martinho
Falar com Bruna (11) 95914-8615
Entrega: Rua Serra da Juruoca, 150 (CEI) – Jardim Lapenna
O que doar:
Instituto NUA
Fórum Social da Zona Leste
Endereço: Uni Diversidade da Quebrada – Rua Rio Biá, nº 50
Pix: [email protected] [email protected]
https://www.instagram.com/p/DFk5o1Pv28T/?igsh=MnNjdDQ4MXdlcTk1
Fundação Tide Setúbal
Banco Itaú
8729 – Agência
25.434-4 – Conta Corrente
CNPJ: 07.459.655/0001-71
Jornalista cultural, publicitária e corinthiana. Fiel à fotografia e à música, nunca falta samba, rap ou funk no meu dia-a-dia. Correspondente do Jardim Helena desde 2023.
Jornalista ProUnista formada pela PUC é correspondente do Grajaú desde 2023. Premiada pelo Instituto Vladimir Herzog na categoria Jovem Jornalista. É pesquisadora da cultura Rom/cigana, com um livro escrito a partir de relatos da comunidade.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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