Magno Borges/Agência Mural
Por: Ana Beatriz Alves | Felipe Barbosa | Paulo Talarico | Thila Moura
Notícia
Publicado em 17.10.2025 | 14:48 | Alterado em 17.10.2025 | 16:30
O atendente Rian Rodrigues, 22, atravessa a Grande São Paulo para ir trabalhar. Morador da Vila São Paulo, em Ferraz de Vasconcelos, no Alto Tietê, ele trabalha no cinema do Shopping Cidade Jardim, na zona sul da capital.
Para chegar ao trabalho pega um ônibus até a estação do centro da cidade, o trem até o Tatuapé, onde faz a baldeação para linha 3-Vermelha do Metrô. No Anhangabaú, embarca no ônibus 6200-Terminal Santo Amaro até chegar ao trabalho.
“Às vezes o trajeto dura duas horas, mas dependendo do trânsito, de 2h30 a 3h”, afirma o atendente, que sai por volta do meio-dia para chegar até as 14h.
Rian é um dos 228 mil moradores da Grande São Paulo que levam mais de duas horas para chegar ao trabalho. Ferraz de Vasconcelos se destaca nesse segmento. A cidade é a segunda com mais trabalhadores nessa situação: 4 a cada 10 pessoas do município levam esse tempo para chegar ao trabalho.
A situação só é mais complicada na Grande São Paulo em Francisco Morato, onde metade dos moradores gastam esse tempo.
É o que mostra levantamento da Agência Mural, nos dados recém divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, com base no Censo 2022. Se levar em conta quem leva entre 1 hora até duas, o número salta para quase 2 milhões de habitantes.
Apesar da distância, Rian se mantém no emprego por questões financeiras. Ele comenta que as oportunidades mais perto de casa não compensavam em termos de remuneração. Em Ferraz, mais da metade dos que se deslocam trabalham em outros municípios.
“Sempre penso em mudar, mas ainda não encontrei algo que me pagasse bem, estou cursando Engenharia de Transporte, e a gente sabe que é difícil deixar um CLT por um estágio, porque preciso ajudar em casa”.
Cerca de 40% dos que trabalham e vivem em Ferraz usam trem ou metrô como principal meio de transporte. A técnica de enfermagem Selma Paes, 42, por exemplo, trabalha em um hospital maternidade na Avenida Paulista, e realiza 4 baldeações para chegar até lá.
Moradora da Vila São Paulo, ela cumpre uma escala de 12×36. Sai de casa às 4h40 da manhã e chega ao trabalho por volta das 6h30, trajeto que dura cerca de 1h40.
Selma nunca pensou em mudar de emprego por causa da distância, mas já considerou mudar de bairro ou cidade para facilitar o deslocamento que pode chegar até 2 horas ou mais, se as linhas estiverem com problemas, ou se chover, por exemplo.
‘O tempo de deslocamento interfere diretamente na minha produtividade e disposição no trabalho, tornando o percurso cansativo’
Selma, moradora de Ferraz de Vasconcelos
“O transporte em Ferraz de Vasconcelos melhorou nos últimos anos, mas ainda precisa atender melhor à população em certos horários e intervalos.”

Maior parte dos moradores dependem dos ônibus @Léu Britto/Agência Mural
A solução sobre o tempo gasto no transporte vêm sendo discutida nos últimos anos. As soluções passam pela criação de vagas de empregos nas periferias, implantar novas ciclovias, aumento do número de ônibus disponíveis para incentivar o uso do transporte em vez do carro, bem como o aumento das linhas de trem e metrô.
São realidades que ainda estão longe em boa parte das cidades Grande São Paulo. Um exemplo é a região sudoeste, área que abrange os municípios de Embu das Artes e Itapecerica da Serra.
Moradora do bairro Jardim Vista Alegre, em Embu das Artes, a projetista Daiane Ramos, 22, diz que gasta 2 horas e meia para chegar até o trabalho, na região do Brooklin, na capital paulista, e enfrenta desafios diários no transporte público.
“Houve dias em que já foram 3h30, em tempos de chuva, com trânsito extremamente carregado”, conta.
Sem outra alternativa viável, Daiane utiliza a linha 551 (Jardim Mimás – Terminal Capão Redondo) e paga R$ 5,20 de condução. A única opção seria usar as linhas 032 e 033 na Rodovia Régis Bittencourt, mas são R$ 1,65 mais caras e não possuem integração com o metrô.
Ela avalia que um dos problemas recorrentes no trajeto de ida e volta é a falta de ônibus nas rotas.“Caso aconteça um problema, temos que esperar o ônibus do próximo horário, em vez de haver uma substituição, tanto adiantando o próximo ou solicitando um novo veículo.”

Linhas de trem e metrô não existem em várias cidades. Lotação é outro desafio @Léu Britto/Agência Mural
Somado a isso, há atrasos no metrô e as plataformas e entradas do Terminal Capão Redondo. A situação é pior para quem mora em áreas mais afastadas, pois já enfrentam longas horas de trânsito até chegar ao local.
“Acabei trabalhando em outra cidade porque, infelizmente, a maior parte das oportunidades ainda está concentrada no centro. Onde eu moro não tem o mesmo incentivo para o desenvolvimento profissional.”
Para Daiane, seria um sonho viver e trabalhar mais perto de casa. Ela afirma que faltam investimentos em polos de trabalho e em infraestrutura na cidade.
Sem linha de trem, os moradores de Embu das Artes usam prioritariamente os ônibus. Metade dos que trabalham precisam passar pelo coletivo, mesma situação da cidade vizinha de Itapecerica da Serra.
A diarista Estevita Maria de Moura, 53, mora no bairro Santa Júlia há 23 anos e relata o desafio de trabalhar no centro de São Paulo. “Gasto 3 horas de trajeto da minha casa para o serviço de segunda a sexta, passo mais tempo no transporte público do que em casa. Isso interfere no meu descanso e em momentos com a família.¨
Ela relata que não tem escolha quando se trata de buscar oportunidades, pois a maioria deles ficam no centro de São Paulo.¨Não escolhi trabalhar no centro, ele me escolheu”, afirma. “Se houvesse formas e oportunidades por aqui onde moro não hesitaria duas vezes. Trabalhar perto de casa com mais qualidade e conforto ¨.
Essa realidade não difere da fisioterapeuta Tieli Santos de Oliveira, 30, que trabalha no bairro Vila Nova Conceição há 2 anos. Ela leva cerca de 2h30 a 3h de trajeto dependendo do trânsito.
Atualmente Tieli intercala o uso do transporte público com a moto, quando o marido consegue levá-la ao trabalho.

Estrada do M Boi Mirim, altura do número 6.300, local onde ficará a futura estação do Metro Jardim Ângela, segundo a Via Mobilidade @Leonardo Almeida/Agência Mural
Uma expectativa de melhora está na ampliação da linha 5 Lilás do metrô, que deve se estender até o Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, ficando mais próximo de Itapecerica.
Outros pontos ainda precisariam avançar, como a duplicação da Estrada do M’Boi Mirim, que é a única via de acesso para vários bairros, além de aumentar a quantidade de linhas intermunicipais que conectem a cidade à capital. ¨Os ônibus antigos em circulação estão sem ar condicionado e com falta de acessibilidade”, avalia a atendente de restaurante Giovana Cerqueira Moura, 19.
Ela utiliza o ônibus 513- Jardim das Oliveiras, faz baldeação com a linha 5-lilás do metrô, e depois com linha 9-esmeralda da ViaMobilidade. Leva uma hora e meia para desembarcar na estação Berrini, o destino final.
Jornalista, ferrazense e escritora. Boa ouvinte e contadora de histórias. Correspondente de Ferraz de Vasconcelos desde 2023.
Jornalista e profissional de marketing guiado por boas histórias e ideias. A comunicação é sua missão e lugar de fala. Correspondente de Embu das Artes desde 2023.
Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.
Apaixonada por fotojornalismo. Jornalista, reporta fatos e corrobora com questões sociais. Participou da Jornada Galápagos de saúde 2025. Correspondente de Itapecerica da Serra desde 2023.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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