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Agência de Jornalismo das periferias

Isabela do Carmo/ Agência Mural

Por: Isabela do Carmo

Notícia

Publicado em 01.12.2025 | 16:24 | Alterado em 01.12.2025 | 16:24

Tempo de leitura: 3 min(s)

A rotina de Suzana Teixeira da Silva, 44,  é marcada por madrugadas no hospital, consultas constantes e crises respiratórias que já se tornaram parte da infância dos filhos gêmeos, Valentina e Davi, de 4 anos. Moradora de Heliópolis, ela acredita que o ambiente em que ela e as crianças vivem tem agravado os problemas de saúde. 

Davi recebeu o diagnóstico de bronquite asmática aos dois anos; Valentina, ainda no primeiro ano de vida. Mesmo assim, até hoje ela enfrenta crises tão intensas que chega a ficar sem ar.

“No começo diziam que ela só tinha alergia. Mas precisaram ver minha filha ficar roxa para entenderem que era algo muito mais sério”, diz Suzana.

Da esquerda para direita, Davi, Suzana e Valentina @Isabela do Carmo/ Agência Mural

Entre terapias, esperas de atendimento no SUS (Sistema Único de Saúde) e uma casa que não protege do frio nem do calor, Suzana tenta garantir o básico: que os filhos respirem, brinquem e cresçam com mais estrutura e oportunidades.

Hoje, as crises respiratórias dos meninos são mais leves e costumam acontecer nos dias de frio intenso ou calor excessivo. “Com o Davi, tudo começa com uma crise de rinite e logo evolui. Já a Valentina tem crises fortes logo de cara, de faltar ar mesmo”.

Além da bronquite asmática, os gêmeos foram diagnosticados com autismo – Valentina, de grau 1, e Davi, de grau 3. Suzana organiza a rotina entre terapias, consultas e o cuidado diário com as crianças.

‘Sou dona de casa e mãe em tempo integral. É cansativo, mas é o que eu tenho que fazer por eles. Cada melhora, por menor que seja, é uma conquista’.

Suzana Teixeira

Desafios diários

A rotina começa cedo. Às quatro da manhã o relógio toca. É hora de acordar as crianças para irem à creche. Entre idas e vindas, Suzana tenta encaixar consultas médicas e terapias. Há quatro meses, ela espera por uma vaga com um novo pneumologista infantil pelo SUS. “É uma guerra. A gente precisa lutar por cada atendimento”, define.

Há pouco mais de dois anos, a família se mudou para uma casa mais arejada, ainda no mesmo terreno da avó. Desde então, as crises de Valentina diminuíram, mas não desapareceram.

‘A casa é melhor, mas dormimos todos juntos, em dois colchões de casal no chão. Quando faz frio, o quarto congela. Quando faz calor, fica insuportável’

Suzana Teixeira

Ela reforça que a estrutura da casa agrava os efeitos da temperatura externa, sem isolamento térmico nem espaços suficientemente arejados.

As mudanças do clima são sentidas pela pequena Valentina, que piora sempre que o frio aperta. Nesses dias, ela tem dificuldade para respirar e tenta explicar com gestos o que sente:

“Minha respiração fica muito pesada… fica rouca, parece que não entra ar”, descreve, mostrando com as mãos o esforço que faz durante as crises asmáticas.

Ela gosta de brincar de boneca, de “comidinha” e de ir ao parque, mas as oportunidades de passeio são raras. O mais próximo, o Museu do Ipiranga, fica a mais de uma hora de caminhada ou vinte minutos de ônibus.

Valentina, 4, sonha com uma cidade mais acolhedora, com parques e áreas verdes @Isabela do Carmo/ Agência Mural

“Ela adora quando vai, mas é difícil. Aqui no bairro não tem”, lamenta Suzana, moradora da favela de Heliópolis há 43 anos. A mãe diz ver as construções de áreas de lazer paradas no tempo. “Queria que aqui tivesse um parque. Um lugar onde meus filhos pudessem correr e crescer à vontade.”

Ela afirma que o contato com a natureza e a convivência em espaços mais abertos fariam diferença tanto na saúde respiratória das crianças quanto no desenvolvimento delas. “Elas poderiam ter outras experiências, além da creche e de casa”, sonha.

Enquanto a fila do SUS anda devagar, Suzana segue com a força de quem não pode parar. Entre bombinhas, madrugadas e esperas, ela insiste. Porque, para Valentina e Davi, respirar e brincar ainda são conquistas diárias.

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Isabela do Carmo

Jornalista e pós-graduanda em Direitos Humanos e Lutas Sociais pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo). É correspondente de Heliópolis desde 2023.

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