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Bandas de rock em Osasco apostam no 'faça você mesmo' para se manter

No mês do rock, Cosmogonia, Mosca Negra e Rockdalle avaliam desafios do estilo na cidade

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Por: Ariane Costa Gomes

Notícia

Publicado em 17.07.2019 | 15:23 | Alterado em 23.07.2019 | 10:06

RESUMO

Cosmogonia, Mosca Negra e Rockdalle avaliam desafios; Cidade tem lei de incentivo ao ritmo, mas horários de apresentações são empecilho para grupos

Tempo de leitura: 5 min(s)

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O rock and roll resiste em Osasco, na Grande São Paulo. Com letras atuais, politizadas e críticas, Cosmogonia, Mosca Negra e Rockdalle são alguns dos grupos que contribuem para o cenário musical da cidade. 

As três bandas têm em comum o fato de representar o estilo no município e fazerem parte de um movimento que tem tentado manter a força do gênero, apesar das dificuldades para sobreviver.  

“Na região [de Osasco] como um todo o cenário é completamente tomado pelo ‘Faça você mesmo’. Isso dentro do nicho que estamos inseridas que é o punk, hardcore e rock underground no geral”, avaliam a vocalista Gabi Delgado, 35, e a guitarrista Maria Esther Rinaldi, 33, da banda Cosmogonia

O grupo surgiu em 1993 quando as professoras Elisangela Souza e Renata Tolli sentiam a falta de representatividade das mulheres nos palcos do estilo punk/hardcore. 

Com singles, um EP e participação em coletâneas, a banda ficou na ativa até 2007. O acúmulo de funções e as dificuldades de tempo e dinheiro influenciaram a decisão de suspender as atividades.

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Cosmogonia parou por 10 anos e retornou em 2017 (Divulgação)

Dez anos depois, Gabi e Maria Esther Rinaldi se reencontraram num show e demonstraram interesse em voltar com o grupo. Apoiadas por Elisangela, uma das fundadoras e que atualmente mora nos Estados Unidos, a banda recomeçou.

Além de Gabi e Maria Esther, a formação atual é composta por Fernando Hernandez (baixo), Roberto Salgado (Bad Canadians e Running Like Lions) e Fernando Fregnani (TXP), que se revezam na bateria.

Elas afirmam que o cenário político também influenciou o retorno do grupo. “Nós sentíamos cada vez mais que muita coisa precisava ser dita, falada, gritada e cobrada. Passamos por experiências próprias e sentíamos também a agonia das mulheres de viverem ainda numa sociedade patriarcal”, afirmam a vocalista e a guitarrista.

Poucos lugares abrem espaço para bandas autorais. Os músicos observam que alguns dos motivos são a preferência do público por bandas cover, as letras críticas e a falta de incentivo/interesse para conhecer novos artistas

O surgimento de novas bandas de mulheres também serviu como incentivo às integrantes. O repertório é composto por letras que falam sobre resistência, empoderamento,  relacionamento abusivo. 

O trabalho mais recente é o EP Reviva! que conta com as músicas “Abusivo”, “Sem silêncio” e “Tempo”, disponível desde março nas plataformas digitais.

Abusivo” foi o single principal do retorno. “Conhecer e saber que tantas outras mulheres lutaram e lutam pelo simples direito de ter direitos nos move. A necessidade que nossa sociedade têm de ser conscientizada serve como combustível para compor”, revelam sobre o processo de composição.

Sobre a participação das mulheres no universo do rock, elas observam que nos últimos anos tem crescido o número de mulheres em diferentes vertentes da música. “É bom para que cada vez mais mulheres se interessem por aprender, compor e montar suas bandas. As bandas femininas e com participação da mulher sempre existiram, porém sempre foram silenciadas e/ou excluídas”, finalizam. 

DEZENOVE

Moradores de bairros das periferias de Osasco e de Barueri, os integrantes da banda Mosca Negra utilizam assuntos atuais, política e situações cotidianas para fazer música. 

O vocalista e guitarrista Amauri, 34, mora no Helena Maria, Ed, 33, (vocal/baixo),  vive na divisa entre o Jd. Wilson e o Parque Continental, ambos em Osasco, e Tiofrey, 28, (bateria) no Parque Imperial em Barueri.

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Mosca Negra nasceu na zona norte da cidade em 2015 (Divulgação)

O grupo surgiu em 2015, mesmo ano em que ao menos 19 pessoas foram mortas nas cidades de Osasco e Barueri, na maior chacina da história do estado de São Paulo. O fato mexeu com o trio que acredita que o tema não pode ser esquecido. Foi o que fizeram ao lançar “Dezenove”.

“Pensei ‘tenho que transformar isso em música’ porque muita gente não vai lembrar daqui a pouco. É algo terrível para passar em branco”, conta Amauri. 

Os músicos tocaram a música durante um show no Munhoz Jr, bairro da zona norte de Osasco onde a chacina aconteceu.

A ideia do nome Mosca Negra veio por uma metáfora. “Tinha a ideia fixa de colocar algo com ‘negro’ a fim de prestar uma homenagem ao povo negro”, conta. “A mosca negra deposita larvas no hospedeiro e essas larvas corroem. Imaginei que nossas músicas pudessem invadir a mente das pessoas, corroer o conformismo e transformá-las”, explica Amauri. 

O trio afirma que ainda há uma segregação entre as diferentes vertentes do gênero e que estilos como heavy metal, hardcore, new metal, hoje estão separados, o que dividiu também o público. 

O baterista diz acreditar que falta renovação no gênero. “Quando era mais novo, via as coisas acontecendo. Hoje em dia, os adolescentes não estão vendo. Não sei se é o contexto político, a música ou outras formas de lazer que fizeram isso acontecer”, diz Tiofrey. 

Um dos caminhos utilizados por bandas underground para ter retorno financeiro é a venda de produtos próprios como camisetas, bottons e CD’s com o investimento inicial sendo do próprio grupo

A falta de renovação tem feito com que o punk, assim como as demais vertentes do rock, alcance menos as pessoas. “O movimento punk pecou em não investir em experiências concretas dentro do que se propõe a falar. Fez uma propaganda do ideal de contestação, mas não investiu em vivenciar essas experiências”, avalia Ed.

As principais dificuldades sentidas pelo trio são a falta de dinheiro para ensaios, compra de equipamentos, transporte durante os shows. Para o lançamento do álbum “A vida segue sem valor”, em 2016, eles fizeram uma “vaquinha” com o apoio dos fãs. Com 13 faixas, está disponível nas plataformas digitais. 

Além disso, reconhecem a disputa pela atenção do público com outras formas de entretenimento.

POUCOS LUGARES

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Rockdalle remete ao nome do bairro do Rochdale (Divulgação)

“O rock sempre foi uma coisa underground, nunca foi do mainstream. Teve um boom nos anos 90, mas sempre foi de nicho. Tem poucos lugares porque não é tão fácil levar público para shows de bandas independentes”, comenta o guitarrista Danilo Dias, 31. 

Danilo, ao lado do vocalista Wesley Chavo, do baixista Bruno Dias e do baterista Ernani Junior, faz parte da Rockdalle, banda fundada em 2011, com nome que faz homenagem ao Rochdale, bairro da zona norte da cidade muito frequentado pelo quarteto para eventos, ensaios, gravação e shows. 

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Com um disco e dois EPs lançados, o publicitário conta que os principais desafios do grupo são conciliar a vida pessoal com a profissional e manter uma rotina de ensaios. 

Nenhum dos integrantes trabalha apenas com a Rockdalle. Eles recebem cachê de alguns shows, outras vezes ficam com o valor da entrada de alguns bares ou tocam gratuitamente. Apesar de ter de se dividir entre duas atividades, vê com otimismo a independência do grupo.

“O mais legal do underground é a honestidade das bandas. É uma coisa muito verdadeira, porque não está preso a nada. Não precisa fazer determinado som, cantar determinada letra. Espero que continue sendo um estilo que incomoda”, ressalta.

Um dos caminhos para fortalecer o gênero, segundo Danilo, é a solidariedade entre os grupos da cidade, que se acompanham e tentam divulgar o trabalho dos músicos.

Desde 2013, Osasco conta com uma lei que institui a Semana Municipal do Rock ao calendário do município com o objetivo de “fortalecer, apoiar e incentivar o movimento rock na cidade”. 

A banda foi convidada para participar do evento em 2017, mas não conseguiu por conta da data e horário do show. O guitarrista considera importante eventos do tipo, mas ressalta a importância de ter mais diversidade na escolha dos grupos, na organização do evento e melhores horários para apresentação.

“Tocar rock durante a semana e de dia é inviável. Os integrantes trabalham e o público também”, comenta. 

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Ariane Costa Gomes

Jornalista, acredita que a informação e a educação são ferramentas fundamentais para transformar as pessoas e a sociedade. Gosta de aprender e conhecer coisas novas, estar ao lado das pessoas que ama, ouvir música e ficar junto de suas duas cachorrinhas. Correspondente de Osasco desde 2015.

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