“Não tem como culpar os usuários da linha”, desabafa a estudante de nutrição Daniele Garcia, 23, sobre a morte do passageiro Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, nesta terça-feira (6) na estação Campo Limpo da linha 5-Lilás do Metrô, administrada pela ViaMobilidade. Um homem ficou preso entre a porta de segurança e a do trem. Mesmo assim, a composição avançou, causando o acidente.
“As pessoas que estão lá, como a vítima desse acidente, só querem chegar no trabalho, na escola, no seu destino”, ressalta.
Daniele é uma das mais de 500 mil pessoas que circulam pela linha e relatam que a lotação, a porta fechando em segundos e o empurra-empurra cometido até por seguranças fazem do trajeto algo perigoso.
A estudante embarca na estação Giovanni Gronchi, onde fica o Terminal João Dias, e vai até a Chácara Klabin, na zona sul. “Todo santo dia eu vou espremida pra faculdade”, relata. “Na Giovanni Gronchi, que é onde eu pego normalmente, também tenho que esperar dois, três, até quatro trens. É absurdo”, afirma.
Ela diz não entender por que não são adotadas medidas para melhorar a situação. “Não é algo pontual. Isso acontece todos os dias, é um caos.”
A estudante já tentou ir até o Capão Redondo, ou seja, voltar algumas estações, para tentar pegar mais vazio. “Mesmo assim ele já vem lotado de lá”.
Plataforma fica estreita nos horários de pico, e acesso é tumultuado, relatam passageiros @Thila Moura/Agência Mural
Administrada pela ViaMobilidade, a linha 5-Lilás do Metrô liga periferias da zona sul de São Paulo à região central da cidade. Saindo da estação Capão Redondo, passa por vários bairros do Campo Limpo e Jardim São Luís, antes de atravessar a ponte sobre o Rio Pinheiros e chegar a Santo Amaro.
Esse ramal tem integração com as linhas 2-Verde e 1-Azul do Metrô e 9-Esmeralda dos trens.
A linha também é a opção de moradores de cidades da Grande São Paulo que vem de Itapecerica da Serra e Embu das Artes, onde vive a vendedora Elizangela Messias, 39. Ela conta que já viu pessoas presas nas portas.
“Quando não cabe, esse pessoal fica preso na porta. Infelizmente a gente precisa pegar essa linha, mas tanto na ida quanto na volta, que é horário de pico, é horrível.”, afirma.
“Muita gente praticamente se joga dentro do vagão e acaba arrumando briga. Sempre que dá algum problema técnico parece que o número de pessoas triplica”, relata Felipe Barbosa, correspondente de Embu das Artes na Mural. “ Já fiquei parado em uma estação mais de 40 minutos, sem espaço pra se mexer.”
Ele conta que é comum ver pessoas na porta dupla. “Mas sempre que isso acontece, é acionado um som de alarme que faz com que a porta abra novamente e a pessoa consiga entrar.”
Há relatos inclusive de que a porta não costuma abrir após ter fechado mesmo se a pessoa estiver no local.
“Muitas correm o risco de ficar presas entre as portas”, afirma Daniel Santana, correspondente da Mural no Jardim São Luís. Ele já presenciou o problema, mas a pessoa entrou no vagão. “Ela conseguiu entrar com dificuldade, a porta se fechou e o trem seguiu viagem. Só que a porta de segurança da plataforma não abriu.”
Linha Lilás corta várias periferias da zona sul @DiCampana Foto Coletivo
A linha Lilás é o encontro de vários fluxos de passageiros em direção a região central ou da zona sul. Primeiro, há os moradores que embarcam na primeira estação, no Capão Redondo – tanto moradores dali, do fundão da sul e também de cidades vizinhas. Depois, o trem passa pelo Terminal João Dias, outro ponto de desembarque de vários passageiros da sul.
Por fim, em Santo Amaro, moradores que vêm do Grajaú ou de Osasco e pegam o Metrô sentido os bairros de Moema, também desembarcam por ali. É ali que a correspondente da Mural em Osasco, Kaliny Santos Correa embarca semanalmente.
Ela explica que antes das 9h, quando as portas se abrem na estação Santo Amaro da linha 9-Esmeralda, começa uma longa jornada até a transferência para a linha 5-Lilás do Metrô.
“O pessoal quase se empilha para entrar. Mesmo com os guardas, acaba sendo tumultuado”, relata.
‘Os guardas empurram todo mundo pra entrar logo. É uma situação bem complicada’
Kaliny Santos Correia, correspondente de Osasco
Ela cita que, ao menos, há monitores que tentam organizar o fluxo. Mas não resolvem. Há dias em que as escadas rolantes estão inoperantes e é preciso dar uma longa volta para chegar na porta. “Isso causa tumulto, empurrões e muitos gritos dos guardas tentando organizar a bagunça.”
“[Na segunda-feira (5)], por exemplo, um homem de aproximadamente 30 anos entrou, mas deixou a blusa presa na porta. O guarda teve que abrir a porta com as mãos e empurrar ele pra dentro.”
ViaMobilidade
Procurada, a ViaMobilidade enviou uma nota em que diz lamentar a morte de Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno.
A empresa não respondeu sobre se a manutenção do sistema de alerta nem os questionamentos de usuários sobre a porta não ter aberto mesmo com um usuário no local. Também não respondeu sobre a rapidez do fechamento da porta nem sobre a superlotação.
Na nota, a empresa alega que o sistema que possui é utilizado nacional e internacionalmente, de sensores de obstrução de portas para impedir que os trens partam com as portas abertas. “No caso em questão, mesmo após os alarmes visuais e sonoros, ao tentar entrar no vagão, o passageiro acabou ficando no espaço entre o trem e a plataforma, onde não há sensores.”
A empresa afirma “realizar regularmente diversas campanhas sobre embarque seguro” e que “vai intensificar os avisos sonoros e a comunicação visual nos trens e estações com essas recomendações de segurança.” “A concessionária reitera a importância de respeitar os alertas de fechamento de portas para evitar riscos de acidentes graves.”

