Por: Karol Coelho
Publicado em 11.12.2018 | 13:10 | Alterado em 22.11.2021 | 17:17
Johnny Gabriel Silva Santos
Colaborou Ana Beatriz Felício
Adorada por uns e odiada por outros, a educação física é uma das matérias mais tradicionais do ensino brasileiro. No entanto, há uma certa controvérsia nas formas como é aplicada nas escolas. Muitas das aulas ocorrem basicamente na quadra e os esportes ensinados aos alunos, são por vezes, os mesmos: vôlei e futebol.
Além disso, questões como a falta de materiais e espaços adequados para realização das atividades podem levar a uma menor capacidade de ensino do professor e consequentemente, de aprendizagem dos alunos.
De acordo com o professor da Etec Itaquaquecetuba, Fellipe de Morais, os estudantes podem aprender lições valiosas com a prática da matéria. “O esporte nos ensina alguns pontos importantes, como a questão da disciplina em relação a postura, horário e comportamento. Em relação a superação, ela pode nos fazer acreditar que podemos ir além de onde achamos que poderíamos chegar”, salienta.
Mesmo com sua importância, é comum observar devido a fatores como, a falta de investimento e o despreparo dos profissionais, um certo descaso na aplicação da modalidade nas escolas, por envolverem desde problemas físicos, até a própria falta de visão de futuro dos professores com relação às novas práticas de educação física. “Eu acho que falta investimento e valorização da matéria”, comenta a estudante do 2º ano do Ensino Médio da ETEC Itaquaquecetuba, Raissa Guilherme, 16. “Na minha antiga escola por exemplo, a quadra não tinha cobertura, então quando chovia nós éramos proibidos de ir. Também tem o problema de materiais que não tinham. Muitos professores compravam para usar nas suas aulas”.
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Outra questão que acontece constantemente na aplicação da matéria é a segmentação do ensino a poucas modalidades de esportes, o que pode ser prejudicial aos alunos. “Na educação básica, infantil, fundamental e médio, a exploração da diversificação de práticas e conteúdos é fundamental, porque permite que os alunos experimentem lógicas, valores e linguagens diversificadas”, explica o especialista em educação física escolar Walter Correia, da Universidade de São Paulo.
Campeonatos e o descanso das aulas teóricas
Já para parcela dos alunos, apesar de apresentar certas falhas na hora da aplicação, a educação física continua sendo uma matéria aguardada ansiosamente durante os dias da semana e serve como válvula de escape das matérias teóricas. “No âmbito escolar o ensino é muito teórico e até, diríamos, um pouco ultrapassado”, comenta o estudante do 2º ano da ETEC Itaquaquecetuba, Anderson de Oliveira, 16. “Acredito que uma aula de educação física prática traga um bem-estar para nós, ajudando na saúde física e mental”.
Também fã da matéria, Raissa salienta que a educação física desperta nela o espírito de equipe. “Eu gosto das aulas, porque é um mundo onde eu vejo a interação de todo pessoal, todo mundo se diverte e participa”.
Outro ponto que atrai o interesse dos estudantes são os eventos interclasses ou “interescolas”, que envolvem a competição dos alunos com colegas de outras salas. Nas ETECs (Escolas Técnicas Estaduais), por exemplo, os campeonatos acontecem todo ano na ETEC de esportes e envolvem a realização de diversas modalidades, desde as menos populares, como tchoukball e floorball, até as inclusivas, como a corrida para deficientes visuais e a bocha paralímpica.
Algumas escolas estaduais também fazem campeonatos esportivos, porém com esportes segmentados. “O pessoal gosta muito e se diverte, mas eu sinto falta de mais esportes, porque temos interclasse só de futebol”, expõe a estudante do 2°ano, da E.E. Bertha localizada na cidade de Poá, Kawany Silva, 16.
De acordo com o Walter Correia, esses eventos deveriam ser incentivados. “A escola deveria ter uma autonomia de decidir, com quem ela quer competir, como e onde. Para que possa realizar essas atividades de forma autônoma, e ter uma certa liberdade para fazer esses eventos”.
Raissa já participou de eventos de educação física interescolares pelo time de voleibol. “Quando chegamos nas competições e vemos pessoas jogando, entramos na quadra e sentimos o calor da torcida. É um mundo novo, que eu aprendo a gostar”.
A história da Educação Física no Brasil
Para falar sobre a história da educação física no Brasil, é possível traçar uma linha do tempo que se inicia ainda o Brasil Império. Naquela época ela já existia, mas era para poucos. De acordo com o professor Walter Correia, na década de 20, educação física estava muito ligada a ginástica e ao intuito militar. Apenas na década de 30, com a institucionalização da educação, a matéria começou a ser oferecida regularmente.
Atualmente busca-se uma prática de educação física que envolva cultura, diversidade de conteúdo, atividades circenses, dança, canto, luta… Essas são algumas das “novas” práticas que estão sendo empregadas nas escolas, e a tendência é que haja futuramente uma evolução maior ainda para a área.
Futuro da Educação Física
A nova reforma do ensino médio, que altera a base curricular de todas as escolas, entre públicas e privadas, trouxe algumas mudanças. Entre elas, a obrigatoriedade ou não de algumas matérias. A educação física passa a ser facultativa nos três anos do ensino médio. Algumas escolas já estão se adequando ao novo modelo. Porém, mesmo com a falta de obrigatoriedade, Correia diz acreditar que a matéria continuará sendo importante. “A educação física provavelmente terá restrições no ensino médio, mas não irá acabar”.
A aplicação da matéria nas escolas vive em tempos de transformação e adequação ao presente. Há aspectos que podem ser melhorados, como explica Morais. “A educação física tem diversas maneiras de ser aplicada. Somente alguns professores se preocupam com isso, muitos costumam chegar na quadra e soltar a bola pros alunos e eles ficam jogando, são poucos os que tem uma criatividade e variedade de atividades”.
Johnny Gabriel Silva Santos é estudante da 2ª série do ensino médio na Etec Itaquaquecetuba
Ana Beatriz Felicio é correspondente de Carapicuíba
Essa reportagem foi produzida por um participante do programa de bolsa de jornalismo Acontece na Escola da Agência Mural, no qual estudantes do ensino médio de escolas públicas da região metropolitana de São Paulo produzem conteúdo jornalístico sobre temas do cotidiano escolar. A iniciativa integra o projeto Mural nas Escolas.
É jornalista, cofundadora da Agência Mural e correspondente do Campo Limpo desde 2010. Colaborou com a criação da Escola Comunitária de Comunicação da Escola de Notícias, no Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Escreve poesias e tem um livro chamado "Estado Atmosférico", que produziu de maneira independente. Na Mural, também apresentou o Rolê Na Quebrada e o PodePá! e foi editora de projetos especiais.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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