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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Jacqueline Maria da Silva

Notícia

Publicado em 16.11.2023 | 14:17 | Alterado em 27.02.2024 | 16:21

Tempo de leitura: 3 min(s)

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“Favela Venceu”, “Galo da Madrugada”, “Axé” e “Diversity”. Isolados, esses termos têm significados muito distintos, mas juntos comunicam algo bastante inovador: eles dão nome aos jogos de cartas e tabuleiros criados pelo grupo Maloca Games com o objetivo de valorizar a cultura negra e das quebradas.

Os jogadores são desafiados, por exemplo, a interferir em uma favela para garantir infraestrutura urbana para todos; ou trazer o máximo de foliões para o maior bloco de carnaval do mundo; ou ainda pensar em como Orixás lidariam com adversidades sem perder sua energia vital.

A iniciativa foi criada a partir de demanda pessoal dos fundadores, apaixonados por games, mas que sentiam falta da identidade negra neste universo. Estava aí um nicho de mercado ainda pouco aproveitado. Eles, então, fizeram um investimento inicial de R$5 mil, a maior parte adquirida por financiamento coletivo e por um Fundo de Investimento Internacional.

Jogo “Favela Venceu”, do Maloca Games, exposto durante feira nerd Perifacon @Jacqueline Maria da Silva/ Agência Mural

A aposta foi certeira: em pouco mais de um ano de existência, a Maloca Games já lançou 60 jogos, alavancou seu faturamento e ficou entre os Top 10 das melhores empresas na Expo Favela. Só neste ano, a empresa firmou uma parceria com uma importante distribuidora de jogos do Brasil e já atrai a atenção de empresas internacionais do setor.

“Se você pesquisar no Google o termo ‘afro games’ vai encontrar os nossos jogos, porque eles trazem representatividade, protagonismo e afrocentrismo. A gente se preocupou, primeiro, em oferecer jogos que atendem essa lacuna”, diz o CEO da Maloca Games, Rennan Gonçalves, 30, um dos quatro autointitulados “maloqueiros” que co-fundaram a empresa.

Impacto dos afro games

Já é comprovado que os jogos, em diferentes formas e propostas, são aliados na aprendizagem e ajudam a exercitar uma série de habilidades físicas, cognitivas e sociais. Mas os jogos da Maloca Games dão um passo além: eles propõem debates e reflexões sobre as relações étnico-raciais de forma lúdica e divertida.

Por isso, se jogado por crianças, o ideal é que haja um mediador, que pode ser o professor, por exemplo. Os docentes, inclusive, são um dos principais públicos do jogos do Maloca Games.

“Os jogos são uma forma lúdica de fazer a galera refletir sobre sua realidade”, diz Gonçalves, que já lecionou matemática no ensino fundamental e médio e é morador da Brasilândia, zona norte de São Paulo.

Além dos professores e dos estudantes, os jogos da Maloca dialogam diretamente com a população periférica, mas são consumidos pelos diversos públicos, como por exemplo, funcionários de grandes empresas, de diferentes setores.

“Eles são multidisciplinares e versáteis. Não é apenas um produto infantil ou periférico. É para pessoas que têm valores como os nossos e que acham que os jogos são uma ferramenta para impactar vidas”

Rennan Gonçalves, 30, CEO da Maloca Games

A vida dele, inclusive, foi uma das transformadas pelos games. “Eu entrei nesse universo e conheci muitas pessoas interessantes. Hoje eu trabalho numa empresa que eu tenho um salário legal e nada disso seria possível sem que eu tivesse conhecido os jogos”.

Jogo Diversity. do Maloca Games, exposto na feira nerd Perifacon 2023 @Jacqueline Maria da Silva/ Agência Mural

Próxima fase

Cada jogo do Maloca Games propõe um objetivo específico, com regras muito específicas, que devem ser cumpridas para alcançá-lo. Quem conseguir, vence a partida. Porém, cada tarefa a ser executada possui um modo de funcionamento próprio, que leva a um processo de imersão na cultura que propõem.

No “Diversity”, por exemplo, a meta é contratar pessoas diversas, sobretudo negras e periféricas, para preencher vagas em grandes empresas. Essa temática rendeu a Maloca uma parceria com uma empresa de transporte por aplicativo, que queria aumentar a contratação de pessoas moradoras das favelas e para isso desenvolveu um processo seletivo baseado na ludificação.

Além dos jogos de tabuleiro, o grupo comercializa o livro “RPG Operação Sankofa”, que propõe dinâmicas de resolução de conflitos para os jovens.

Sankofa é um símbolo africano representado por um pássaro com a cabeça virada para trás. Segundo o intelectual Adbias do Nascimento, a palavra, de origem ganesa, significa “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”.

Fonte: Justiça do Trabalho da 4ª Região

Os jogos custam entre R$60 e R$90 e possuem valores sociais quando comercializados em feiras e eventos periféricos. “O poder aquisitivo das pessoas que a gente quer atingir são variáveis. Quando eu vou em uma periferia, não posso cobrar o mesmo valor que no evento de uma startup.”

Novos lançamentos

O Maloca já vislumbra outros lançamentos, como o “Carrinho de Rolimã” e o “Black Power”, jogos voltados para reconhecimento e valorização da ancestralidade negra. As inspirações vem do mercado tradicional de games, porém com inovações disruptivas, que consideram a cultura, diversidade e visão política dos pretos e periféricos.

O objetivo dos sócios é transformar a Maloca na principal referência em jogos de tabuleiro com temática afro do mercado brasileiro – futuramente atuar também no ramo de jogos digitais.

“Vamos tentar fechar parcerias para fazer a portabilidade dos nossos jogos analógicos para o digital. Quando conseguirmos, provavelmente em 2024, teremos jogos no celular da galera, gratuitamente”, projeta Gonçalves.

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Jacqueline Maria da Silva

Jornalista formada pela Uninove. Capricorniana raiz. Poetisa. Ama natureza e as pessoas. Adora passear. Quer mudar o mundo e tornar o planeta um lugar melhor por meio da comunicação. Correspondente de Cidade Ademar desde 2021. Em agosto de 2023, passou a fazer parte da Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project.

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