Por: Bruna Nascimento
Notícia
Publicado em 01.11.2023 | 13:17 | Alterado em 01.11.2023 | 15:53
Um agente funerário é responsável pelo atendimento da família de uma pessoa falecida, a remoção do corpo no hospital ou IML (Instituto Médico Legal), preparação e ornamentação para o velório e transporte para o cemitério.
Essas tarefas podem parecer tensas e tristes, mas é exatamente esse pensamento que Lucas Santana, 23, busca combater.
Morador de Suzano, na Grande São Paulo, Lucas trabalha como agente funerário há três anos em uma funerária da região, a Anjos Assistência, e produz vídeos para as redes sociais que retratam o dia a dia na profissão com leveza, humor, informações e curiosidades.
O perfil @santdub, criado por ele com essa finalidade, conta com 70 mil seguidores no Instagram e mais de 240 mil no Tik Tok.
“Algumas pessoas se incomodam, mas é isso que eu quero mostrar, que [a morte] é uma coisa normal e a gente tem que abrir a mente e falar disso”, diz o agente funerário.
Apesar do número de seguidores, o trabalho também recebe críticas de pessoas que não gostam da forma como ele aborda o tema. “São essas pessoas que eu quero mudar. Algumas pessoas acham que pode ser desrespeito, mas eu não vejo dessa forma”, afirma.
Ele toma alguns cuidados. Nomes e imagens de falecidos e familiares não são expostos nos vídeos. Cenas fortes também são um lado da profissão que não é retratado nas redes sociais de Lucas.
O intuito é compartilhar, de maneira descontraída, os bastidores da profissão, levar informações e mostrar a importância dos serviços funerários, que promovem cuidado com o próximo e atenção à família enlutada. Além de abordar a morte como um tema que deve ser tratado com mais naturalidade.
“É um assunto delicado, triste. Já perdi meu pai, minha prima, minha avó e eu sei que é difícil. Mas quanto mais tratar esse assunto como um tabu, de uma forma que não pode falar sobre isso, mais difícil vai ser. Falo por experiência própria”, reflete.
Lucas já gostava de vídeos antes de fazer sucesso nas redes sociais. Ele e o irmão gravavam curtas metragens caseiros no parque da cidade. Quando ingressou no ramo funerário, teve a ideia de começar a gravar o dia a dia.
“Aí um dia fiz um vídeo do carro funerário. Tem uma menina aqui de Suzano que tem um Camaro. Eu filmei o Camaro dela e falei: ‘Você pode nunca andar em um desse aqui’, virei a câmera para o outro lado da rua, onde estava o carro da funerária e falei: ‘mas em um desse aqui é certeza que um dia você anda'”, relembra.
“Eu nem postei, mandei em um grupo de agentes funerários, que tinham me colocado. Aí foram postando de grupo em grupo, até que chegou em mim de novo”, completa Lucas.
Depois de perceber a repercussão da brincadeira, o agente funerário viu que era possível usar humor para falar sobre essa profissão, muitas vezes vista apenas marcada por tristeza. Ele então criou o perfil nas redes sociais para começar a produzir diversos vídeos.
No início, havia um receio dos chefes não aprovarem a ideia e isso comprometer o trabalho, mas a criação de conteúdo para as redes é bem recebida na funerária onde trabalha e entre os colegas.
“Fiz o vídeo do carro, ninguém reclamou, fiz mais um, ninguém reclamou, aí fui fazendo. Arriscando de pouquinho em pouquinho”, brinca Lucas. “É um trabalho importante e que todo mundo vai usar e a morte é algo comum”, diz.
A vontade de se tornar um agente funerário começou na infância de Lucas. Foi aos 12 anos, quando perdeu o pai, que ele descobriu a existência de uma pessoa que se encarrega dos cuidados póstumos.
“Fui no velório do meu pai, vi o agente funerário lá e falei: ‘caramba essa profissão aí deve ser legal, quando eu crescer quero fazer isso aí'”
Lucas Santana, agente funerário
“Eu vi ele montando tudo e nunca tinha visto o making off da coisa e achei interessante esse trabalho. Ele deixou o corpo do meu pai lá e foi embora. Eu pensei ‘o que ele deve estar fazendo enquanto ele foi embora? Será que foi arrumar outro?’. Acabou que nem velei meu pai, fiquei pensando no agente funerário”, brinca Lucas.
Ele conta que quando completou a idade para trabalhar, começou a mandar currículo para as funerárias, mas não teve sucesso devido a exigência de experiência profissional na área. Até que conseguiu a primeira oportunidade.
“Fui atrás de uma funerária, expliquei que eu queria muito trabalhar na área desde sempre e ninguém me dava oportunidade. Acabaram me chamando e eu fui”, continua ele.
Além da experiência exigida pela maioria das funerárias, a única exigência é carteira de habilitação.
Para ser agente funerário não é obrigatória nenhuma formação, exceto para técnicas e atuação em procedimentos clínicos específicos, como a tanatopraxia .
Essa é uma dúvida frequente nas redes sociais do profissional. A maior parte das mensagens e comentários são perguntas sobre como entrar na área e pedidos de emprego.
Hoje, o influencer funerário conta com ajuda do irmão para dar conta de responder e interagir com os seguidores. Ele aconselha os interessados em ingressar no ramo e planeja criar cursos para quem já atua na profissão.
“As pessoas mostraram uma procura muito grande para entrar na área. Não vou falar que eu aticei isso, mas mostrando o dia a dia, mostrando como é, que não é um clima pesado, dá pra ver que o pessoal não tinha nem noção do que era, começou a ver meus vídeos e despertou isso”, diz o agente.
Outro impacto percebido são as mensagens que recebe sobre como os conteúdos contribuem para uma nova perspectiva sobre a morte.
“Acredito que a morte é passagem, é o fim de um ciclo, então você tem que estar preparado para passar por esse momento e o pessoal que me manda mensagem está entendendo isso”, diz ele.
Fotojornalista, sonhadora, observadora e ouvinte de 'causos' profissional. Corinthiana maloqueira e sofredora (graças a Deus), boa sujeita, pois gosta de samba e tal qual Candeia na voz de Cartola, precisa se encontrar e vai por aí a procurar. Correspondente de Suzano desde 2019.
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