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“Alegria é quando levam meus textos pois mostra que lemos e produzimos cultura”, diz poeta…

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Por Aline Kátia Melo | 11.08.2016

Publicado em 11.08.2016 | 7:52 | Alterado em 27.02.2024 | 17:38

Tempo de leitura: 5 min(s)

Poemas picantes para paquerar, contos para distrair ou até mesmo poesias motivacionais para ajudar a superar dificuldades são alguns dos textos escritos por Daniel de Santana Pelotti, 33, ex-técnico industrial que agora cruza a cidade de São Paulo vendendo suas produções nos transportes coletivos.

Ele conversou com a correspondente Aline Kátia, da Agência Mural, e contou mais sobre sua obra.

Agência Mural: Quando começou seu amor pela escrita?
Daniel de Santana Pelotti:
Meu amor pela escrita começou quando minha coordenação motora começou a folhear uma revista, sem dificuldade. Meus pais me compravam sempre cruzadinhas infantis e gibis diversos. Logo já estava eu imaginando minhas próprias histórias e as rabiscando em folhas em branco, as próprias páginas das revistas e tudo mais onde pudesse desenhar o que minha imaginação tinha a dizer.

AM: Como você divulga seu trabalho como escritor?
Pelotti:
Os escritos são embrulhados com doces e chocolates em pacotinhos de papel celofane e fechados com flores artificiais coloridas. As cores das flores definem a categoria dos textos, o leitor pode escolher, por exemplo, as vermelhas que embalam poesias apimentadas ou laranjas com conteúdos motivacionais.

AM: Qual o preço dos poemas?
Pelotti:
Os preços variam. Os poemas temáticos custam R$ 2 e os contos envolventes são R$ 3. Os textos são diversificados. Não há um padrão, vai da inspiração e do que quero transmitir. Mas os contos, alguns utilizados em concursos literários, seguem o tamanho vigente dos editais que participaram.

AM: Como é feita a preparação do produto para venda?
Pelotti:
Na preparação eu tenho um incentivo especial, o da minha namorada, professora, que também ajuda a divulgar o meu trabalho em saraus e escolas. Ela me incentivou a voltar a escrever. Quando tive a ideia de vender, encontrei as flores que uso para fechar os saquinhos nas coisas dela. Além disso, ela também me ajuda a embalar e fazer os pacotes.

No ponto esperando a próxima ação de vendas poéticas — Foto: Anderson Meneses/Agência Mural

AM: Você tem reconhecimento com o trabalho que faz?
Pelotti:
A satisfação vem com o interesse dos passageiros pelas minhas produções. Alegria e orgulho para mim é ver que a maioria dessas pessoas que me compram, querem pelas minhas obras, e não pelos chocolates que os acompanham. Claro que tem sempre aquele que só quer saber do chocolate e tanto faz qual será o texto, contudo a maioria é exatamente o oposto. Muitas vezes nem fazem tanta questão de escolherem o chocolate e isso me orgulha tanto como escritor e até como brasileiro, pois me mostra que gostamos, sim, de ler e até de promover a cultura do nosso país. Claro que há ainda os passageiros que não possuem dinheiro suficiente, mas que colaboram como pode ou mesmo pagam acima do valor proposto. Isso mostra que as editoras estão equivocadas e que poemas ainda são bem-vindos como forma de leitura. Então dá para ganhar dinheiro com isso. As editoras podem pensar em investir nessa área que será bem aceito.

AM: Quais são os desafios como autor independente?
Pelotti:
Entre os desafios está a busca por maior reconhecimento do público leitor e das editoras. Naturalmente uma editora por si só não é sinônimo de sucesso. Entretanto, ela ajuda bastante em relação a contatos com livrarias, publicitários, viagens, produção e até mesmo verbas. Só que chegar a um editor é bastante complicado. Existem muitas regras, trâmites e o contato é quase nulo.São grandes demais os processos de filtragem para um original chegar até o editor responsável pela seleção. Muitas vezes não passamos dos estagiários ou nem neles chegamos. Evidente que a falta de uma editora não me faz desistir. Ainda estou na busca de aumentar meu público, mostrar meu talento e com isso ser visto por algum editor competente, que acredite tanto quanto eu no potencial da minha obra e das minhas ideias’’.

“O roçar de nossos corpos são intensos e quentes;
Suados e ofegantes, rolamos por todo o colchão;
Logo seu corpo é preenchido com uma insana euforia;
O lençol sente a força de sua garra em novos prazeres”
(Trecho de “Amor sem limites”)

AM: Por que divulgar seus poemas no ônibus?
Pelotti:
Estou desempregado desde o fim do ano passado e escolhi os ônibus para trabalhar por poder entrar pela parte traseira sem pagar e que, apesar de alguns motoristas não permitirem minha entrada, já agradeci a todos os condutores no meu romance “Sob os olhos da Morte” — obra vendida nos sites Clube dos Autores e Bookess. Mesmo não ganhando tanto e sentindo a falta dos trabalhos nas indústrias, continuo com as vendas sem arrependimento e não parei mais de escrever. Guardo meu diploma de técnico pelo Senai com orgulho, quem sabe um dia torne a trabalhar na área? Não obstante a escrita sempre estará em meu coração e meus dedos jamais pararão de dar vida a tudo que minha imaginação tem a criar sem parar. Cada um deles virando um livro novo que seguirei vendendo seja nos ônibus, livrarias ou de porta em porta.

AM: Você recebe retorno dos seus leitores?
Pelotti:
Recebo alguns por e-mail e redes sociais, divulgados nos textos vendidos. Diversas pessoas entram em contato, tanto para elogiarem, quanto para pedirem outros mais. Há casos de gente que sempre me via nos ônibus, mas que não tinham dinheiro na hora, e assim que o tinham, e me encontravam, aproveitavam a ocasião.

AM: Quais são seus planos para o futuro?
Pelotti:
Sobre o futuro, ainda há muito a fazer pela literatura. Guardo todos os originais que escrevi e eles serão protagonistas de duas imensas surpresas. Aguardem!

A VIDA NÃO PARA. ELA É ESPERANÇA

A vida parou?
Não ouço mais os sons de outrora;
Não vejo mais as cores que fervilhavam à minha frente;
Tudo está quieto e morto agora;
Com céu cinza sem pássaros a cantar ou nuvens a cobrir;
Não sinto o sol e nem vejo o luar;
Cadê as pessoas que antes me faziam feliz;
A vida simplesmente deixou de existir por toda a volta;
Será que hoje sou o único que caminha nesta terra vazia?
Cadê meus passos, que não marcam e nem ruído emitem?
A vida parou aqui dentro de mim;
Não sofro;
Não choro;
Não sinto saudade de nada;
Apenas pego minhas velhas coisas do passado;
E assim me ponho a caminhar;
Lanço-me à própria sorte na escuridão que me abraça;
Calafrios e pesadelos são tudo o que me somam;
Mas ainda tenho a esperança armazenada dentro de mim;
Impulsionando a cada passo que dou para a frente;
Não há luz no meu caminho;
Mas sonhos de uma saída triunfante;
Galgo a esmo sem saber se subo ou desço
Sempre em frente, sem olhar para trás;
Sem deixar que o medo me domine;
Não serão os urros ou gargalhadas que me farão desistir;
Nem os mais melancólicos sussurros me prostrarão;
Até que enfim encontre a saída;
Repentina, viva e deslumbrante;
Com tantas cores, sons, e calores que sorrirei de emoção;
Pararei para admirar tudo e me aquecer desse bem;
Até que me venha a coragem de me voltar para trás;
Meus olhos viajarão no vazio da escuridão;
Essa mesma que me cerca neste instante de perturbação;
Porém não mais sentirei o calafrio percorrer meu corpo;
Afastarei-me de tudo isto imediatamente;
A escuridão poderá até me chamar;
Atrair-me para seu esquecimento de novo;
Mas preferirei sentir o amor que a luz me trará;
Quando a esperança, enfim, me levar de volta àquela vida.

Aline Kátia Melo é correspondente da Jova Rural
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