No estudo sobre trabalho e renda, realizado pela Rede Nossa São Paulo e Ibope, custo com aluguel perde apenas para a alimentação
Por: Redação
Publicado em 21.02.2019 | 14:27 | Alterado em 21.02.2019 | 14:27
O aluguel é a principal despesa para 23% das famílias paulistanas, revela a pesquisa “Viver em São Paulo: Trabalho e Renda”, divulgada nesta semana pela Rede Nossa São Paulo em parceria com Ibope Inteligência.
No levantamento, o aluguel perde apenas para a alimentação (43%) como o gasto que mais pesa no bolso das famílias da capital paulista.
A auxiliar administrativa Cláudia Souza, 22, gasta quase todo o salário para manter a locação da casa em que vive com o marido e o filho de três anos, no Jardim Vista Alegre, extremo da zona norte.
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“Gasto R$ 700 todo mês com aluguel, e ele tem um peso enorme no orçamento. Acaba virando prioridade em meio a tantas necessidades que temos, e deixamos muita coisa de lado para não faltar essa quantia.”
No bairro da Saúde, na zona sul, a gestora pública Ana Cecília Amo, 26, também sente o peso do aluguel sobre seu orçamento mensal.
“O aluguel consome pelo menos 50% do meu salário, e chega a 70%, se eu colocar na conta os gastos com transporte”
Ana Cecília Amo, moradora da Saúde, na zona sul
Para João Coelho, do Movimento de Luta nos Bairros (MLB), movimento social que luta pelo acesso à moradia no país, a obrigação do pagamento do aluguel ocasiona uma insegurança financeira e emocional nas famílias.
“Pagar aluguel significa ter, todos os meses, uma parte muito grande da sua renda gasta em algo que deveria ser um direito garantido, e que não irá retornar de nenhuma forma”, afirma.
“A insegurança dessas pessoas é muito grande. Se algum membro da família perde o emprego, ou se o aluguel sobe, a família é obrigada a se mudar para um lugar mais periférico ou então é despejada. Quem paga aluguel nunca está tranquilo com relação ao dia de amanhã”
João Coelho, do Movimento de Luta nos Bairros
ALTO CUSTO
Cláudia confessa que o Jardim Vista Alegre não era o bairro preferido para criar o filho, mas é o que consegue manter com o salário mínimo que recebe. “Aqui o valor do aluguel é muito mais em conta. Mas tenho a meta de poder mudar para um bairro melhor.”
Ana também gostaria de trocar o apartamento na Saúde por outro, na região central. “Apesar de ser servido pelo metrô, escolhi o bairro apenas pelo valor do aluguel, que era mais barato que outros mais centrais”.
O alto custo das locações faz com que muitos paulistanos não consigam arcar com essa despesa, sobretudo se o imóvel estiver na região central.
Na capital, o déficit habitacional é de 358 mil moradias, o que significa aproximadamente 1,2 milhão de pessoas vivendo de forma precária.
Para Coelho, a solução para o déficit passa por desapropriar imóveis ociosos no centro. “O mais incrível é saber que existem mais de 1.300 imóveis ociosos na cidade, muitos deles são prédios completamente abandonados e que poderiam servir de moradia para muitas famílias.”
“Combater o déficit começa com a desapropriação desses imóveis, que estão irregulares, pois não cumprem nenhuma função social e seus donos não pagam os impostos”, completa.
Por toda a cidade, multiplicam-se as ocupações nos imóveis ociosos: em 2018, eram 206, onde viviam 45 mil famílias, segundo a própria Prefeitura. No ano passado, o tema veio à tona após o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, na República, ocupado desde 2015.
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“Defendemos que o caminho é construir cada dia mais ocupações urbanas e organizar o povo para lutar pela reforma urbana e para pressionar o governo pelos seus direitos”, explica Coelho.
“Apesar de existirem planos diretores maravilhosos e ferramentas jurídicas para combater a especulação imobiliária, elas não são utilizadas efetivamente. Por outro lado, as ocupações das famílias pobres são combatidas com toda a violência possível”, finaliza o militante.
https://32xsp.org.br/especial/sao-paulo-das-desigualdades/
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