CPTM instalou borrachões em nove estações para reduzir distância, porém, Companhia diz que nem todas as plataformas receberão proteção
Paulo Talarico/Agência Mural
Por: Lucas Veloso
Notícia
Publicado em 07.08.2020 | 19:13 | Alterado em 09.09.2020 | 15:13
Mesmo com a redução no número de passageiros por causa da pandemia de Covid-19, 156 pessoas caíram no vãos entre os trens e as plataformas da CPTM em 2020, quase uma por dia. No entanto, o número de acidentes têm caído desde que o problema foi revelado pela Agência Mural, em 2017.
Na época, um levantamento da reportagem mostrou que a distância entre os trens e a plataforma chegavam a mais de 40 cm e provocaram mil quedas em um ano.
Na época, correspondentes visitaram as 91 estações em funcionamento e mediram os espaços entre as plataformas e as composições. O recorde, de 46 cm, foi encontrado em Aracaré, na linha 12-safira, na cidade de Itaquaquecetuba.
Desde então, a instalação de borrachões de segurança foram prometidas e foram instaladas em nove estações. Em 2020, a Agência Mural apurou que, até 25 de junho, a linha 12-safira foi a que mais registrou quedas, foram 42. A 9-esmeralda ficou em segundo lugar, com 37. A linha 11-coral fica em terceiro lugar, com 20 quedas. A linha 8-diamante e a 16-jade, ficaram em quarto lugar, ambas com 16 ocorrências, de acordo com os números oficiais.
Os dados foram obtidos pela reportagem por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação). Ao longo de 2019, também houve uma leve redução na comparação com o ano anterior. Foram 745 quedas.
A secretária Carla Moraes, 35, é um exemplo. Moradora de Cidade Tiradentes, na zona leste, ela utiliza a linha 11-coral e desembarca em Guaianases. No ano passado, depois de tropeçar no vão entre o trem e a plataforma, sofreu com uma hemorragia interna no baço.
“Foi uma sensação horrível e desde então fico muito mais atenta no embarque. Acho que isso deveria ser prioridade pro governo”, opina.
Apesar do relato, Carla diz que não recebeu assistência na época e que as ações adotadas pela companhia de trens não são suficientes. “Eu caí e não aconteceu nada. O aviso para tomar cuidado com o vão entre o trem e a plataforma é só para enganar mesmo. Caso contrário, já teriam tomado as devidas providências”, acrescenta.
O analista de sistemas Robson José de Souza, 46, morador da Vila São José, distrito de Cidade Dutra, na zona sul, usa diariamente os trens da linha 9-esmeralda e reclama.
“Tem o perigo da pessoa enfiar o pé no vão e se machucar ou mesmo cair na via.mesmo com o trem parado”, diz. “Não sofri nenhum acidente ali, mas já presenciei.”
“Não há empenho. Entendo que as linhas são gigantes, passam por 4 ou 5 outros municípios, mas precisa de mais atenção nisso”, pontua. O analista também indica a iluminação como mais um problema. “Algumas estações parecem cavernas [de noite].”
HISTÓRICO
Quando a situação das estações foi revelada, a CPTM afirmou que a distância era necessária porque trens de cargas circulavam pelos trilhos da companhia. No entanto, a distância variava entre estações da mesma linha.
De acordo com o levantamento, na média, os vãos das estações tinham 18 cm, quase o dobro do recomendado pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), em norma que trata do embarque de pessoas com mobilidade reduzida: 10 cm. Algumas chegavam a 40cm.
Depois, a Companhia anunciou os borrachões para reduzir o número de quedas. Em 2019, dois anos depois do levantamento, apenas três estações haviam recebido as proteções. Em maio, a companhia instalou os primeiros borrachões de proteção na plataforma 1 da Estação da Luz, utilizada pelos passageiros da linha 7 – rubi e também na plataforma 4, usada no embarque da linha 11- coral.
Naquele mesmo ano, a plataforma 3 da estação Osasco, na linha 9-esmeralda, recebeu os borrachões, como foi chamada a proteção. Diariamente, cerca de 60 mil passageiros embarcam por ali, mas a implantação da segurança começou pelo espaço menos perigoso. A plataforma em que foi colocado o borrachão tem 15 cm, enquanto do outro lado há um buraco de mais de 34 cm.
Neste ano, contudo, houve avanço no número de plataformas com itens de segurança. As quatro plataformas em Osasco estão com o borrachão, inclusive a que tem a maior distância. Por outro lado, o trem fica em desnível com a plataforma, mantendo um degrau para quem vai embarcar.
A CPTM conta com redutores de vão nas estações Luz, Tatuapé, Palmeiras-Barra Funda, Santo Amaro, Osasco, São Miguel Paulista e Prefeito Celso Daniel – Santo André. A Companhia diz que o item está sendo instalado nas plataformas 3, do Brás, e 1 e 2, de Ferraz de Vasconcelos.
Algumas plataformas que lideravam a distância no tamanho dos vãos, contudo, seguem sem previsão de instalação, caso da estação Lapa, na zona oeste, e da estação Antônio João, ambas da linha 8-diamante, e da própria estação Acararé, em Itaquaquecetuba.
A Companhia afirma que nem todas as plataformas requerem o dispositivo, sendo recomendado para casos em que o vão é superior a 10 cm, conforme NBR 14201, mas não esclareceu quantas plataformas ainda precisam receber.
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