APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

[email protected]

Agência de Jornalismo das periferias
Notícias

Apesar de congelamento, ônibus na Grande SP é mais caro do que a capital em 17 cidades

Maioria dos municípios anunciou congelamento da tarifa neste ano em que haverá eleições; no entanto, boa parte aumentou mais o preço nos últimos anos

Image

Paulo Talarico/Agência Mural

Por: Lucas Veloso

Notícia

Publicado em 17.01.2020 | 11:12 | Alterado em 02.03.2020 | 14:51

RESUMO

Maioria dos municípios anunciou congelamento da tarifa neste ano em que haverá eleições; no entanto, boa parte aumentou mais o preço nos últimos anos

Tempo de leitura: 5 min(s)

Dois dias antes do natal de 2019, o prefeito de Osasco, Rogério Lins (Pode), postou um vídeo em que anunciou o congelamento no preço da tarifa dos ônibus no município. 

“Quero comunicar uma importante decisão. Todo fim de ano acontece reajuste no transporte público, e neste ano, decidimos que não haverá reajuste”, avisou.

Apesar do tom de comemoração, Osasco cobra mais do que a capital desde 2017. Atualmente, são R$ 4,50. Em 2017, a tarifa chegou a ser R$ 0,40 mais cara do que a cobrada para os paulistanos. A situação não é única na Grande SP.  

Cobrar mais do que São Paulo na passagem de ônibus é realidade em boa parte da região metropolitana. Levantamento da Agência Mural aponta que 17 das 39 cidades na Grande São Paulo praticam valores acima de R$ 4,40.

A maioria delas anunciou o congelamento da tarifa este ano, em que haverá disputa das eleições municipais. Cinco delas aumentaram o preço como Caieiras e Franco da Rocha, que se tornaram as tarifas mais caras da Grande SP – R$ 4,80.

">Tarifa de ônibus na Grande São Paulo
">Cidade ">Tarifa
">Caieiras ">R$ 4,80
">Franco da Rocha ">R$ 4,80
">São Bernardo do Campo ">R$ 4,75
">Mairiporã ">R$ 4,70
">Diadema ">R$ 4,65
">Cajamar ">R$ 4,60
">Francisco Morato ">R$ 4,60
">Biritiba Mirim ">R$ 4,50
">Carapicuíba ">R$ 4,50
">Cotia ">R$ 4,50
">Itapevi ">R$ 4,50
">Mogi das Cruzes ">R$ 4,50
">Osasco ">R$ 4,50
">Arujá ">R$ 4,50
">Santana do Parnaíba ">R$ 4,50
">São Caetano do Sul ">R$ 4,50
">Guarulhos ">R$ 4,45*
">Ferraz de Vasconcelos ">R$ 4,40
">Itaquaquecetuba ">R$ 4,40
">Jandira ">R$ 4,40
">São Paulo ">R$ 4,40
">Poá ">R$ 4,40
">Ribeirão Pires ">R$ 4,40
">Santo André ">R$ 4,40
">Suzano ">R$ 4,40
">Barueri ">R$ 4,35
">Mauá ">R$ 4,30
">Guararema ">R$ 4,25
">Rio Grande da Serra ">R$ 4,20
">Santa Isabel ">R$ 4,20
">Embu ">R$ 4,00
">Taboão da Serra ">R$ 3,80
">Itapecerica da Serra ">R$ 3,75
">Embu-Guaçu ">R$ 3,50
">Pirapora do Bom Jesus ">R$ 0
">Vargem Grande Paulista R$ 0
">Juquitiba ">Só possui ônibus intermunicipal.
">Salesopólis ">Só possui ônibus intermunicipal.
">São Lourenço da Serra ">Só possui ônibus intermunicipal.
">*Em Guarulhos são três tipos de passagem. Para Bilhete Único R$ 4,45. Quem paga em dinheiro segue com o mesmo valor: R$ 4,70, e R$ 4,94 no Vale Transporte pago pelas empresas

Um dos motivos alegados pelas gestões para cobrar mais é que  as prefeituras não têm condição de pagar um valor extra para compensar os gastos das empresas de ônibus – o chamado subsídio. 

Em 2020, por exemplo, o valor do subsídio que a prefeitura de São Paulo separou para o sistema foi de R$ 2,5 bilhões – o valor é menor que um ano antes – R$ 2,9 bi. O recurso é utilizado para compensar despesas das empresas com a operação.

Além de Osasco, as outras cidades da região também anunciaram manter a mesma tarifa, casos de Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Santana de Parnaíba e Cotia. “Em 2020 não tem aumento”, divulgou o prefeito Rogério Franco (PSD). 

Moradora de Osasco e estudante de matemática, Mariana Sarmento, 43, diz acreditar que a prefeitura deveria baixar a tarifa, não comemorar por não aumentá-la. “No ano passado, o preço aumentou duas vezes. Primeiro para R$4,30 e depois para R$4,50”, relembra”. “A tarifa é maior que em São Paulo, tem carros piores e trajetos menores”.

Osasco implantou o Bilhete Único no final do ano passado. No entanto, o benefício ainda não atende integração entre ônibus e trens.

DIFERENÇAS

Entre 2017 e 2019, um morador que usa ônibus todos os dias para ir trabalhar em Osasco gastou R$ 500 a mais em tarifas do que um morador de São Paulo, somando apenas a diferença de preço entre as cidades

Márcio Damasceno, 36, lojista na cidade de Cotia, comemorou a estabilização no preço, mas diz que o prefeito deveria considerar os mais pobres. “Tinha que fazer um programa de gratuidade para pessoas de baixa renda, e as desempregadas, tanto para os intermunicipais como os municipais’, reivindica.

No município, a passagem chegou a aumentar R$ 1,30 em quatro anos. 

Em São Paulo, o reajuste nas tarifas foi de R$ 0,10. O valor de R$ 4,40 foi pautado pela Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo ao CMTT (Conselho Municipal de Transporte e Trânsito) sob o argumento de que aumentaram os custos do transporte público no município.

Image

Prefeitura de SP paga subsídio para evitar aumento da passagem @Paulo Pinto

O reajuste foi de 2,33%, abaixo da inflação anual medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que fechou em 4,3% ano passado.

REDUÇÃO DE PASSAGEIROS

Segundo dados da Pesquisa Origem e Destino realizada pelo Metrô, 24,9% dos deslocamentos diários realizados são feitos por ônibus na Grande SP. 

Entre 2016 e 2019, a SPTrans apontou a redução de 760 mil passageiros. Para Kelly Fernandes, especialista em mobilidade urbana do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a qualidade na operação e o aumento no preço da passagem levaram à queda.

Image

Ônibus em Cotia, na Grande SP @Halitane Rocha/Agência Mural

Uma das motivações é a substituição dos ônibus pelo transporte a pé ou de bicicleta, como alternativa para diminuir os gastos no orçamento familiar. Também citou o uso de transporte por aplicativos. 

Kelly ainda reforça que o diagnóstico não é restrito a São Paulo, sendo que efeitos similares podem ser observados em outras cidades da região metropolitana, como Osasco e Guarulhos.

Há três tipos de passagem nos ônibus guarulhenses. Com Bilhete Único são R$ 4,50. Quem paga em dinheiro tem que desembolsar R$ 4,70. No caso do vale transporte, a tarifa é de R$ 4,94 – valor pago por empresas e descontado 6% dos trabalhadores.

Para a especialista, a Grande São Paulo precisa de instrumentos de planejamento e acordos entre as prefeituras e o governo do estado para reduzir os preços.  “Na prática, muitas pessoas têm sido prejudicadas pelo descompasso entre os diferentes órgãos de planejamento e gestão que são responsáveis pelo sistema de transporte nas diferentes cidades”. 

VEJA TAMBÉM:
12 prefeitos passaram por crises políticas neste mandato
Na Grande SP, 17 cidades ignoram Lei de Acesso à Informação

SISTEMA E TRANSPARÊNCIA

Na Grande SP, a forma mais comum encontrada pelos municípios para ofertar serviços de transporte coletivo para os cidadãos é a concessão, por meio de licitação, onde as prefeituras concedem a operação dos serviços para empresas do setor. 

Em sua maioria, os editais de licitação definem o tamanho da rede, o tipo de veículos, a forma de remuneração das concessionárias, a taxa interna de remuneração das empresas (TIR), onde fica especificada a taxa de lucros destas e, em alguns casos, as regras para a realização de reajustes tarifários.

Image

Ônibus em Carapicuíba teve tarifa mantida em R$ 4,50 @Paulo Talarico/Agência Mural

Os municípios gerenciam os aumentos no preço da passagem de acordo com o contrato de prestação firmado com as empresas que tem por base o edital. No entanto, a falta de transparência dos custos operacionais, registrados em planilhas de custos, é um problema a ser enfrentado, segundo a consultora do Idec.

“Os custos registrados nem sempre representam a realidade dos valores operacionais, que podem ser superfaturados ou não levar em conta a redução do custo operacional mediante otimização da operação, redução de custo gerada pelo aumento da experiência do operador”, exemplifica Kelly. 

“Com o distanciamento das gestões municipais no monitoramento e fiscalização da operação é um fator que contribui para corrupção”.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para [email protected]

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE