Por: Redação
Publicado em 03.05.2017 | 13:08 | Alterado em 03.05.2017 | 13:08
“Uma antiga promessa que se tornava realidade”, a frase foi a definição encontrada por algumas pessoas para se referir à cerimônia de inauguração da Casa de Cultura de Guaianases. O espaço, que começou a ser desenhado no mandato do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), foi entregue em uma tarde de sábado, no mês de abril, pelo atual prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).
A demanda pelo espaço é antiga e o 32xSP já retratou essa questão em uma reportagem em que descobriu que uma igreja evangélica estava na lista de centros culturais contabilizados pela Prefeitura de São Paulo.
“A luta não vem de hoje. Fizemos várias reuniões pra sugerir locais, articular. A gestão Haddad chegou a concluir 80% da Casa de Cultura e o Doria, que pegou o finalzinho do processo, terminou e está entregando”, relembra Adriano Vicentini, 37, o Prodígio, morador e articulador artístico da região.
A cerimônia de entrega atraiu diversos parlamentares, assessores políticos, líderes comunitários e munícipes. Antes do evento oficial, vários grupos artísticos prepararam uma programação voltada aos mais diversos públicos.
Perto do horário previsto, Doria chegou ao local e cumprimentado por algumas pessoas que o aguardavam do lado de fora. Posicionado em lugar de destaque, o prefeito acompanhou uma intervenção de jongo, ouviu discursos do então responsável pela Casa, Pedro Oliveira, e também de André Sturm, secretário de Cultura.
Durante todas as falas, os presentes gritavam “descongela, descongela”. As palavras de ordem se referiam ao corte na verba municipal destinada à cultura e aos projetos desenvolvidos por alguns dos artistas que compareceram ao evento. Durante os últimos discursos oficiais, o coro se intensificou e o prefeito, que parecia prestes a falar algo, se abaixou e saiu por trás do palco para ir embora. Rapidamente, seus assessores se mobilizaram para protegê-lo, enquanto muita gente acabou sem entender o que houve.
Até a publicação desta reportagem, a Secretaria Municipal de Cultura não informou quem é o atual responsável pela Casa de Cultura. Oliveira foi exonerado logo após a inauguração.
Sem descerrar a placa oficial, João Doria entrou em seu carro e saiu dali, mas não sem antes ouvir alguns apoiadores de seu partido, tirar algumas selfies e receber o protesto feito por alguns meninos que os viram escapar. Os garotos, todos eles de bicicleta, reivindicavam o leite que deixaram de receber na Escola Municipal Madre Joana Angélica de Jesus. Um deles era Gustavo Camilo, 12, que disse que o benefício servia para complementar o seu café da manhã. “Eu recebia uma caixa, ‘parça’, uma caixa de leite”. Segundo o garoto, a bebida era misturada com café ou com abacate para fazer vitamina.
Não é oficial, mas existe uma mobilização social entre os moradores do bairro para dar um nome à Casa de Cultura. A proposta, já encaminhada ao poder municipal, é que ela seja chamada de “Casa Richard David”.
“O Richard é um símbolo para todo o movimento cultural, pois é um jovem que cresceu em abrigos de Guaianases e era uma figura extremamente criativa, um artista nato. Um jovem preto que acompanhou ativamente todo o processo da Casa e, se hoje [o espaço] está saindo, devemos muito à história dele”, afirmou Renato Almeida, 39, morador de Guaianases e amigo do ativista morto em 2014, vítima de uma leucemia.
Alheio aos protestos, o secretário municipal de Cultura, André Sturm, disse que a entrega do espaço foi importante, pois veio de uma demanda histórica da população. “Eu vim aqui numa biblioteca há um mês, falei com artistas e moradores e todos pediam a Casa de Cultura. Então, a gente acelerou e devolveu à população uma opção de cultura e esporte”. Além disso, Sturm ressaltou que o objetivo agora é incrementar atividades nos espaços geridos pelo poder público.
Casa de Cultura de Guaianases
Endereço: Rua Castelo de Leça, s/n – Jardim Soares – Guaianases
*O horário de funcionamento não foi informado pelo espaço.
Fotos: Lucas Veloso
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