Dos movimentos secundaristas de 2015 e 2016 à estrela de clipe internacional, moradora atuou na criação de sarau na região e já se apresentou em quatro países
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Por: Patrícia Vilas Boas
Notícia
Publicado em 22.02.2021 | 18:45 | Alterado em 22.02.2021 | 23:50
Desde pequena Ariane Aparecida, 19, sempre quis seguir carreira no teatro. Com 6 anos, já pedia para a mãe que a deixasse fazer comerciais. Aos 13, organizou uma companhia de teatro independente e, junto a outros integrantes, vendeu a primeira peça para o CEU Jaçanã, na zona norte de São Paulo.
Embora já decidida, a escolha da profissão nunca foi bem recebida dentro de casa, onde diziam que ela precisava fazer algo que ‘desse dinheiro’.
Recentemente, a moradora do Jardim Elisa Maria, na Brasilândia, ganhou os holofotes ao protagonizar o videoclipe “Baila Conmigo”, música mais recente da cantora norte-americana Selena Gomez e do rapper porto-riquenho Rauw Alejandro, lançada em janeiro deste ano.
Ainda assim, ela diz que nem mesmo essa participação foi suficiente para ‘cair a ficha’ de que poderia seguir carreira no mundo artístico.
“Estou no clipe da Selena Gomez, já viajei para quatro países com o teatro, estou fazendo teatro na faculdade e ele [pai] realmente acha que não vou ganhar dinheiro nunca com isso e que preciso mudar de profissão”, conta.
Antes, Ariane conta que as perspectivas de trabalhar com teatro dentro do bairro eram poucas. Mas a atriz e bailarina não ‘arredou pé’ do seu objetivo. Encontrou nas Fábricas de Cultura um ambiente de expressão artística e desenvolvimento pessoal. Esse mesmo local serviria como espaço de resistência e luta estudantil durante as ocupações de 2015 e 2016.
A mobilização estudantil ocorreu em resposta ao plano de reorganização do ensino público, proposto pelo governo do Estado de São Paulo. A medida previa o fechamento de dezenas de escolas estaduais e milhares de estudantes seriam realocados. A decisão foi suspensa após protestos em toda a capital.
“Fiquei muito tempo na ocupação da Fábrica de Cultura do Capão Redondo e ajudei a organizar a ocupação da Fábrica de Cultura da Brasilândia”, conta. “Foi um movimento muito natural.”
A articulação dela com outros estudantes rendeu uma rede de contatos que a levaria à fundação do ColetivA Ocupação, coletivo de jovens atores e performers que se conheceram durante o movimento secundarista e as ocupações de escolas públicas em São Paulo.
“Era um coletivo muito grande, havia cerca de 20 estudantes secundaristas que estavam fazendo parte”, diz. “Começamos a fazer teatro no mesmo lugar que fazíamos luta. Aí começou a dar certo.”
Ex-estudante de escola pública, Ariane conta que foi a partir desse contato que em 2016 que a “chave virou”. “Comecei a fazer muito trabalho de base, comecei a escrever mais poesia estilo slam (poesia falada), me articular mais com a galera do [bairro] Elisa Maria. A gente criou um sarau, inclusive, na praça Sete Jovens”, diz.
Também foi por meio do coletivo que Ariane teve seu trabalho reconhecido por Fernando Nogari, diretor responsável pelo clipe de Selena Gomez, gravado no Ceará.
O diretor de cinema assistiu à peça “Quando Quebra Queima”, promovida pela organização ColetivA Ocupação, e convidou a jovem para participar das gravações.
Terceira pessoa a concluir o ensino médio e ingressar na faculdade em uma família de dez tios e 30 primos, Ariane hoje cursa Artes Cênicas na Unesp (Universidade Estadual Paulista), já se apresentou na Europa e na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo.
Pelo visto, participações em clipes internacionais são só o começo para a jovem da Brasilândia.
Jornalista em formação. Curiosa, gosta de sol, praia e um bom livro nas horas vagas. Correspondente da Vila Curuçá desde 2019.
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